Bolsonaro e Lula: como os presidentes trataram a guerra Ucrânia-Rússia
Apesar de oficialmente manter posições neutras e defender uma resolução pacífica para a invasão da Ucrânia pela Rússia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) trataram o conflito de formas diferentes.
Dias antes do início dos primeiros ataques russos, Bolsonaro esteve em Moscou para um encontro com o presidente Vladimir Putin. Na pauta, a compra de fertilizantes para o agronegócio brasileiro. A visita —classificada pelo ex-presidente como "fantástica"— recebeu críticas da comunidade internacional, principalmente dos Estados Unidos.
Na viagem, Bolsonaro expressou sua "solidariedade" à Rússia e chegou a repetir, publicamente, os motivos citados por aquele país para justificar a invasão da Ucrânia —sinalizando, apesar da imparcialidade defendida pelo Itamaraty, apoio à posição de Putin.
"Ele [Putin] está se empenhando ali em duas regiões do sul da Ucrânia que, em referendo, 90% da população quer se tornar independente e se aproximar da Rússia", afirmou Bolsonaro à época. "Essas questões são particulares, a própria Ucrânia nasceu de um referendo e nós aqui assistimos ao desfecho desse embate. O que a Rússia quer é a independência dessas duas áreas", acrescentou o então presidente.
"O momento em que o presidente do Brasil se solidarizou com a Rússia, enquanto as forças russas estão se preparando para, potencialmente, lançar ataques a cidades ucranianas, não poderia ser pior", declarou o Departamento de Estado norte-americano na ocasião.
Meses depois, com a guerra já em andamento, o tema voltou a ser abordado por Bolsonaro, desta vez na Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Em seu discurso de abertura, ele defendeu um cessar-fogo imediato, fez um apelo ao diálogo entre os envolvidos, mas criticou a adoção das sanções econômicas unilaterais impostas à Rússia.
"Não acreditamos que o melhor caminho seja a adoção de sanções unilaterais e seletivas, contrárias ao direito internacional. Essas medidas têm prejudicado a retomada da economia e afetado direitos humanos de populações vulneráveis, inclusive em países da própria Europa", disse.
Com a saída de Bolsonaro do governo, o presidente Lula manteve a posição de neutralidade —uma tradição diplomática brasileira— sustentando, porém, uma visão diferente de governos ocidentais aliados aos Estados Unidos, que responsabilizam apenas os russos pela guerra.
Lula nunca declarou apoio incondicional à Ucrânia. Ainda durante a campanha eleitoral, chegou a dizer que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, era tão culpado pelo conflito, no leste europeu, quanto o mandatário russo.
"Vejo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido de pé por todos os parlamentos. Esse cara é tão responsável quanto Putin, porque numa guerra não tem apenas um culpado", afirmou em entrevista à revista Time, acrescentando também à lista de responsáveis pelo combate os Estados Unidos, a União Europeia e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Já como presidente, o petista mudou o tom. Recentemente em entrevista a CNN Internacional, ele disse que a Rússia cometeu um "erro histórico" de promover a invasão ao território ucraniano e, em notas conjuntas com outros governos, o Brasil passou a aceitar o fato de que o agressor é o governo de Putin.
Lula, porém, tem reforçado o posicionamento de não se envolver no conflito, de maneira prática. Em encontro com o chanceler alemão Olaf Scholz, em janeiro, Lula reiterou que não deve enviar munições para os ucranianos.
"O Brasil não tem interesse em passar as munições. Somos um país de paz. Portanto, não queremos ter qualquer participação, mesmo que indireta", declarou o presidente, sustentando a mesma posição que já havia sido comunicada ao presidente francês Emmanuel Macron, em conversa telefônica.
Macron tem se mostrado aliado do presidente brasileiro na ideia da criação de um grupo para mediar os diálogos de paz entre Rússia e Ucrânia. O petista apresentou ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a proposta de formação de um "G20 pela paz". Ele seria formado por países que não têm relação direta com o conflito, como Brasil, China, Índia, México e Indonésia.
"Nós precisamos construir um grupo de países que comece a se organizar pela paz, ou seja, criar uma espécie de G20 pela paz. Nós criamos o G20 quando houve a crise econômica. Portanto, nós precisamos criar um outro instrumento político de países que não estão participando de nenhuma atividade nesta guerra e conversar com eles", afirmou.
Tanto Putin quanto Zelensky parabenizaram Lula pela vitória nas eleições. O brasileiro inclusive já acertou uma ligação telefônica com o ucraniano, o que deve ocorrer nas próximas semanas. Em abril, será a vez do chanceler russo, Sergei Lavrov, fazer uma visita a Lula.
A neutralidade do Brasil, porém, chegou a ser criticada pelo líder da Ucrânia —ainda na gestão de Bolsonaro.
"Não se pode ficar neutro, não se pode dizer 'serei um mediador'; um mediador de quê? Entre quem? A guerra não é entre a Rússia e a Ucrânia, é a guerra da Rússia contra o povo da Ucrânia", disse. "Se alguém capturar sua terra, matar seu povo, estuprar suas mulheres, torturar suas crianças, como posso dizer que sou neutro?" declarou Zelensky.
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