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Passado na gestão Bolsonaro contamina indicações de Alexandre Silveira

17.jan.2023 - O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, faz entrevista coletiva - 17.jan.2023 - Gabriela Biló/Folhapress
17.jan.2023 - O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, faz entrevista coletiva Imagem: 17.jan.2023 - Gabriela Biló/Folhapress

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), tem enfrentado dificuldades para empregar servidores no primeiro escalão de sua pasta e para indicar conselheiros do setor de energia.

O que aconteceu

  • O fato de os profissionais terem atuado e, eventualmente, se destacado na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se torna um primeiro empecilho para as nomeações e tem causado incômodo em setores do governo Lula (PT).
  • Alguns membros da equipe do ministro, como na área da comunicação, trabalharam na pasta da Infraestrutura durante o governo Bolsonaro, sob liderança de Tarcísio de Freitas e, depois, de Marcelo Sampaio.
  • Boa parte dos nomeados para as secretarias técnicas é de profissionais com anos de carreira no Ministério de Minas e Energia e em outras pastas.
  • O problema ficou mais explicito nas indicações para o conselho da Petrobras. Ele indicou nomes que desagradaram ao governo e foram revistos.
  • Pietro Mendes, por exemplo, foi barrado para a presidência do Conselho de Administração da Petrobras por ser atual secretário de Petróleo e Gás do ministério. Outro nome vai entrar no lugar. Mendes entrou na pasta na gestão Bolsonaro, em 2020, para trabalhar com Bento Albuquerque.
  • Outro problema foi a Secretaria-Executiva, para a qual Silveira desejava nomear Bruno Eustáquio, ex-secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia e da Infraestrutura na gestão Bolsonaro.
  • O nome foi vetado pelo governo, apesar de Eustáquio ter currículo de servidor de carreira.
  • A indicação ficou por conta do governo Lula, que escalou o ex-diretor da Aneel Efrain Pereira da Cruz.

Quem é Silveira?

  • Ele entrou no governo Lula na cota das indicações do PSD, chefiado por Gilberto Kassab, que é secretário de Governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo. Tarcísio foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro.
  • Silveira também é próximo do almirante Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia de Bolsonaro, que está envolvido no caso das joias dadas de presente pela Arábia Saudita ao ex-mandatário e apreendidas pela Receita Federal.
  • Além disso, Silveira é descrito por parlamentares como "braço direito" de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, que foi reeleito com o apoio do governo Lula.
  • Em nota, o Ministério de Minas e Energia escreveu que "a diretriz estabelecida pelo ministro Alexandre Silveira é de valorização de técnicos, nomeando, sempre que possível, servidores de carreira".
O ministério passa, naturalmente, por um processo de restruturação e formação de equipes. Dentro desse contexto, é importante destacar que este processo de substituições ocorre de maneira similar ao observado em toda a Esplanada, feito de maneira coordenada com o Palácio do Planalto, possibilitando o avanço das ações da atual gestão e garantindo a troca de quadros anteriores por nomes alinhados com o presidente Lula."
Ministério de Minas e Energia, em nota

De olho em 2026

A intenção de Alexandre Silveira era ser ministro dos Transportes no governo Lula, considerando o conhecimento prévio que detém sobre o setor.

Na primeira gestão de Lula, ele foi diretor-geral do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Mas, diante do arranjo partidário negociado pelo presidente com partidos aliados, o desejo não se concretizou.

Em Minas Gerais, seu reduto eleitoral, aliados e adversários consideram que Silveira está no jogo pela disputa pelo governo estadual em 2026. Ele seria um candidato apoiado por Lula, sem incomodar aos políticos de centro e centro-direita, por conta do bom diálogo que sempre teve com esses campos.

Durante a campanha de 2022, quando concorreu ao Senado, ele encontrou uma solução simples para vencer a resistência do PT do Vale do Aço à sua indicação: chamou para a suplência justamente um quadro do partido naquela região, a professora Cida Lima. Trouxe os inimigos para perto, em vez de declarar guerra.

No ano passado, chegou a ser convidado por Bolsonaro para ser líder de seu governo no Senado.

Ele disse preferir ser independente, mas o PSD o pressionou para não aceitar o cargo diante da intenção de à época lançar a candidatura de Rodrigo Pacheco à Presidência.

Histórico de diplomacia com extremos

  • A habilidade para lidar com campos políticos opostos é uma marca de sua trajetória. Em 2014, por exemplo, ele já era um dos mais importantes quadros do PSD em Minas e apoiou a candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB), apesar de o seu partido estar coligado ao PT na campanha pela reeleição de Dilma Rousseff (PT).
  • Silveira também fez campanha pública pelo candidato do PSDB ao governo mineiro, o ex-ministro Pimenta da Veiga, que viria a ser derrotado no pleito.
  • No início deste ano, também tentou ajudar o governo de Romeu Zema (Novo), político que apoiou a reeleição de Bolsonaro, a lançar a candidatura de um deputado estadual do PSD à presidência do Legislativo mineiro.
  • A articulação irritou petistas, que imaginavam contar com algum nível de lealdade de Silveira. Mas a manobra acabou não indo adiante, por ser considerada insuficiente para mudar o resultado a favor de Zema. Foi eleito um deputado do MDB.