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Em briga com União Brasil, ministra tem apoio do governo para manter cargo

Ministra do Turismo, Daniela Carneiro pediu para se desfiliar de seu partido após racha interno - Divulgação/Ministério do Turismo
Ministra do Turismo, Daniela Carneiro pediu para se desfiliar de seu partido após racha interno Imagem: Divulgação/Ministério do Turismo

Lucas Borges Teixeira e Gabriela Vinhal

Do UOL, em Brasília

12/04/2023 04h00

A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, deverá ficar com o comando da pasta mesmo após pedir desfiliação do União Brasil.

O que aconteceu

Em disputa com o presidente do União, Luciano Bivar, lideranças no Rio decidiram deixar o partido. O movimento foi liderado pelo prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, ex-presidente estadual da sigla e marido de Daniela.

Em meio ao embate, Daniela conseguiu uma sinalização do Planalto de que ela ficaria no cargo, mesmo saindo da sigla, segundo o UOL apurou. Diferentemente de outras vagas do União Brasil, a indicação da ministra foi costurada em um acordo por meio do apoio do marido — não do partido.

Aliados do presidente Lula (PT) afirmam que a ministra só pediu para sair da sigla após uma espécie de consulta prévia de que poderia se manter no cargo.

Parlamentares do União Brasil ouvidos pela reportagem afirmam que o partido deve recorrer do pedido de desfiliação.

Interlocutores do governo reconhecem que manter Daniela no cargo pode inflamar ainda mais a bancada do União Brasil, que reivindica indicar um nome para o posto.

Por outro lado, a manutenção do acordo com Daniela serviria de impulso para que os parlamentares da sigla se posicionassem sobre compor a base aliada.

O União Brasil elegeu a terceira maior bancada da Câmara com 59 deputados. No Senado, o partido tem a quarta maior, com nove senadores.

No Congresso, integrantes do PT defendem que as primeiras votações de temas polêmicos serão uma espécie de "teste" do comprometimento na bancada do União com o governo.

Trato é trato

As vagas do União Brasil foram as últimas a compor o grupo ministerial, no fim de dezembro, às vésperas da posse. Por apoio no Congresso, o partido, que se diz independente, ficou com três indicações:

  • Daniela no Turismo;
  • Juscelino Filho (União-MA) em Comunicações;
  • Waldez Góes (PDT, que acabou nunca se filiando ao União Brasil), ex-governador do Amapá, em Desenvolvimento Regional.

Dos três, a indicação de Daniela não passou pelo partido. Deputada mais votada do Rio de Janeiro, ela e o marido são, hoje, as lideranças mais influentes da Baixada Fluminense.

Belford Roxo é o reduto eleitoral da família, onde Waguinho é atualmente prefeito. Ele foi um dos responsáveis pelo aumento da votação de Lula na Baixada Fluminense. Lula teve 8% a mais de votos do primeiro ao segundo turno no estado.

Houve inclusive um comício em Belford Roxo, quando Daniela dançou de mãos dadas com a primeira-dama Janja.

Já Juscelino e Waldez foram diretamente indicados em uma articulação que incluiu Bivar, o senador Davi Alcolumbre (União-AP) e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

A relação do casal se dá de maneira diferente dos outros dois inclusive nas conversas com o Planalto. Com pretensões maiores no estado, os dois querem se manter próximos a Lula, e o presidente vê o apoio com bons olhos.

A saída de Daniela do partido, pelo qual se elegeu, ainda depende de uma decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre desfiliação com perda ou não de mandato.

daniella - FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
29.dez.2022 - Lula com Daniela Carneiro, na reta final de definição de ministérios
Imagem: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Situação delicada

A decisão cria uma saia justa para o Planalto. Embora o União Brasil se diga independente, o governo conta com o apoio da sigla em votações de pautas-chave, como arcabouço fiscal e a reforma tributária.

A visão no Planalto é que o partido tem tentado adotar uma posição "confortável": faz pressão e cobra por cargos quando interessa, mas, no Congresso, faz questão de ressaltar que é independente — com parte da bancada fazendo oposição.

Por isso, o governo diz, oficialmente, que não vai "se meter na briga", mas dá sinais nos bastidores de que pretende manter a aliada fluminense na vaga.

daniela e jura - Reprodução/ Facebook - Reprodução/ Facebook
Da esquerda para direita: a ministra Daniela Carneiro, Giani do Jura (mulher do miliciano), o deputado estadual Márcio Canella e o miliciano Jura durante ato de campanha em 2018
Imagem: Reprodução/ Facebook

Lula minimizou foto de ministra com miliciano

Após reportagens do jornal Folha de S.Paulo mostrarem que a ministra manteve elo político com lideranças ligadas a milícia, o presidente Lula decidiu minimizar o episódio.

"Ela aparecia num caminhão lá com um cara miliciano. Eu sinceramente se for levar em conta pessoas que estão em fotografia ao lado de outras pessoas, a gente não vai conversar com ninguém, porque eu sou o cara que mais tiro fotografia no mundo", disse o presidente, ao comentar a situação.