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Juíza que tirou cargo de petista na Apex já sofreu ameaças de bolsonaristas

Tiago Minervino

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/05/2023 22h59

A juíza Diana Wanderlei, responsável por anular a posse de Jorge Viana na presidência da Apex-Brasil (Agência de Promoção de Exportações do Brasil), já foi ameaçada por contrariar uma determinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2019.

Ataques após derrubar medida de Bolsonaro

Juíza há 10 anos, Diana Wanderlei integra a 5º Vara Cível Federal em Brasília, no Distrito Federal.

Bolsonaro mandou retirar radares das rodovias federais, e Diana determinou a suspensão da medida. Isso aconteceu em 2019, no primeiro ano do mandato do ex-presidente.

Após contrariar a decisão de Bolsonaro, Diana Wanderlei passou a ser alvo de ataques e ameaças de bolsonaristas nas redes sociais. Na época, ela disse ao portal Metrópoles que aquela tinha sido a primeira vez em que foi ameaçada "de forma audaciosa" por fazer seu trabalho, mas ressaltou que não se deixaria intimidar.

Na ocasião, a magistrada solicitou mais estudos técnicos que embasassem a medida do governo Bolsonaro. A gestão queria substituir os aparelhos eletrônicos de controle de velocidade e afirmou, à época, que não tinha um levantamento atualizado com dados de todos os estados.

Devido às ameaças, a juíza precisou excluir seu perfil no Instagram e reportou o caso à Polícia Federal para investigação. Contudo, não mencionou o então presidente Jair Bolsonaro por entender que os ataques foram feitos por pessoas que confundem parecer técnico com questões políticas.

Não vão me intimidar, e eu não me curvei. Pelo contrário, só me dão certeza de que eu tenho atuação firme o suficiente para fazer um trabalho com prudência e serenidade.

É o dia a dia do juiz julgar casos contra e a favor da União. Não pode usar isso como plataforma política. É um meio jurídico.
Juiza Diana Wanderlei, em entrevista ao Metrópoles em 2019

Em julho de 2019, após a decisão da magistrada, o governo Bolsonaro homologou acordo com a Justiça Federal para a instalação de radares em todo o país, visando o controle de velocidade em faixas de tráfego com criticidade "média", "alta" e "muito alta".

O ex-presidente era crítico do que considerava "indústria da multa" e chegou a anunciar orgulhoso que sua gestão reduziu drasticamente a quantidade de radares, apesar dos alertas de especialistas de que a medida implicaria em mais acidentes.

Juíza suspendeu posse de Jorge Viana

Diana Wanderlei suspendeu hoje a posse de Jorge Viana na presidência da Apex-Brasil por falta de inglês fluente. O ex-senador petista tem o prazo de 45 dias para provar que fala fluentemente o idioma.

A decisão atende a um pedido do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que acionou a Justiça para tentar reverter a nomeação. No recurso, o filho 01 de Bolsonaro disse que a mudança no estatuto está "em total desalinho aos preceitos da moralidade administrativa e impessoalidade".

A AGU (Advocacia-Geral da União) informou que vai recorrer da decisão. A Apex é responsável por divulgar os produtos brasileiros no exterior. A remuneração da presidência é de R$ 65 mil mensais.

Viana foi nomeado para o cargo em janeiro, quando a agência exigia o inglês como "requisito mínimo". Viana, porém, promoveu uma mudança no estatuto do órgão para descartar a obrigatoriedade do inglês fluente, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.