Para apurar folhas secretas, Uerj nomeia servidores que ganharam R$ 279 mil
A Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) designou dois servidores que receberam juntos R$ 279 mil em folhas de pagamento secretas para integrar comissões de sindicância que vão apurar esquemas de nomeação de um assessor de Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e de aliados do senador Romário (PL-RJ) e da cúpula do PL em projetos da universidade. Os esquemas foram denunciados em reportagens do UOL.
O que aconteceu
A Uerj publicou na sexta (26) no Diário Oficial a criação de duas comissões de sindicância para apurar denúncias feitas na série de reportagens do UOL sobre as folhas de pagamento secretas da universidade.
Uma das comissões investigará a contratação de três amigos e cabos eleitorais de Romário às vésperas da campanha eleitoral. Entre eles está o ex-jogador e influencer Fábio Braz, que recebeu da Uerj enquanto estava confinado em um reality show.
A outra comissão vai apurar a contratação de aliados do deputado federal Altineu Cortes, líder do PL na Câmara, do senador Carlos Portinho, líder do PL no Senado, e do vereador Carlos Bolsonaro
Os aliados dos políticos do PL foram contratados nos projetos ECO (Escola Criativa de Oportunidades) e Arquitetura de Núcleos de Educação Profissional.
Dois dos servidores nomeados pela Uerj para investigar os esquemas constam nas folhas de pagamento secretas desses projetos suspeitos.
Após ser procurada pelo UOL, a Uerj afirmou que mudará os integrantes das comissões.
Integrantes figuram na lista
A Uerj designou três servidores para integrar as duas comissões, que terão 30 dias para apurar possíveis irregularidades cometidas nos dois esquemas. Eles são:
Leonardo Rocha de Almeida (presidente das comissões) recebeu R$ 135 mil dos projetos ECO e Arquitetura de Núcleos de Educação Profissional.
Renan do Nascimento Couto recebeu R$ 144 mil do projeto ECO.
Domenico Mandarino (não há registro de contratação nos projetos)
A reitoria da Uerj afirmou em nota que, "como não tem conhecimento prévio sobre a participação de servidores em projetos, eventualmente pode ocorrer, de boa-fé, sua indicação para integrar Comissões de Sindicância, cabendo sempre ao servidor dar ciência de seu impedimento, após ter sido indicado".
No entanto, a universidade mantém sob seu controle as folhas de pagamento dos projetos, tendo acesso aos servidores que receberam bolsas.
Ainda segundo a reitoria, "os servidores citados, após tomarem conhecimento de suas nomeações e verificarem que o objeto dessas sindicâncias era relativo a projetos dos quais participaram temporariamente, comunicaram tal fato imediatamente à universidade, tendo sido determinada sua substituição".
O que o UOL revelou
Em duas reportagens publicadas em abril e maio, o UOL mostrou que vários dos principais expoentes do PL no Rio de Janeiro tiveram aliados contratados em programas realizados pela Uerj com recursos do governo Cláudio Castro (PL).
Fábio Braz e dois outros amigos de Romário (Ademar Braga Júnior e Daniel Bove) receberam R$ 69,7 mil cada um do projeto ECO.
Em parte do período em que figurou como contratado, Braz esteve confinado para participar do reality show Ilha Record 2. Ele afirmou que já havia pedido desligamento do programa, mas não explicou por que não devolveu os recursos recebidos durante o reality.
O UOL encontrou ao menos 20 aliados de Altineu Côrtes, líder do PL na Câmara, nas folhas de pagamento secretas da Uerj, com um total de R$ 2 milhões recebidos. Entre eles, estão um vendedor de churrasquinho e uma acusada de praticar "rachadinha" que fizeram campanha para Côrtes.
Ângela Maria Teixeira de Mello, mãe do senador Carlos Portinho, recebeu do mesmo projeto, o ECO, R$ 90 mil entre fevereiro e julho de 2022. Ela negou ter sido indicada pelo filho, alegando ter uma história bem anterior no serviço público. Ângela disse ter trabalhado para a Uerj em escolas da Região Serrana do RJ na implementação de hortas.
Jeremias de Jesus Santos, que também é coordenador da Juventude do PL no estado do RJ, recebeu R$ 102,9 mil entre outubro de 2021 e julho de 2022. Ele trabalha no gabinete de Portinho no Senado. O senador negou ter conhecimento da contratação do funcionário na Uerj. Santos disse que seu serviço para a universidade foi participar de um projeto de gestão de música em escolas públicas, já que é "maestro de coros musicais na igreja".
Rogério Cupti de Medeiros Júnior, assessor do vereador Carlos Bolsonaro desde 2021, e uma tia dele também apareceram nas planilhas de pagamento secretas da Uerj. Cupti ganhou da Uerj R$ 87,4 mil brutos entre julho e novembro de 2022 de um projeto de educação profissional. A tia dele Márcia Toffano Mattos recebeu R$ 91 mil nos mesmos período e programa.
Cupti não quis dizer que serviço ele e a tia prestaram, afirmando que isso teria que ser esclarecido "pela gestão [da Uerj]".
Todos os políticos citados negam vínculo com a indicação de aliados para as folhas secretas da Uerj. Já a universidade tem afirmado que "vem apurando rigorosamente todas as denúncias apresentadas de supostas irregularidades".
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