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Quem é Cristiano Zanin Martins, advogado indicado por Lula ao STF

27.nov.2019 - O advogado Cristiano Zanin Martins, indicado ao Supremo - Diego Vara/Reuters
27.nov.2019 - O advogado Cristiano Zanin Martins, indicado ao Supremo Imagem: Diego Vara/Reuters

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

01/06/2023 12h12Atualizada em 01/06/2023 17h37

O advogado Cristiano Zanin Martins foi a escolha do presidente Lula (PT) para ocupar a vaga no Supremo Tribunal Federal do ministro Ricardo Lewandowski. A indicação foi confirmada por Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e é vista como uma escolha "personalíssima" do petista, que foi defendido pelo criminalista na Lava Jato.

De Piracicaba a "advogado de Lula"

A escolha já foi publicada numa edição extra do Diário Oficial da União, pedindo o encaminhamento do processo ao Senado.

O advogado nasceu em Piracicaba, a 160 km de São Paulo. Com 47 anos, Zanin pode permanecer até 28 anos no Supremo. Os ministros do STF se aposentam compulsoriamente aos 75 anos.
Filho de advogado, Zanin estudou em colégios tradicionais de Piracicaba até deixar a cidade para se formar em direito, na PUC (Pontifícia Universidade Católica), em 1999.
Seu primeiro emprego foi no prestigiado escritório Arruda Alvim, onde atuou por cinco anos. Foi onde conheceu Valeska Teixeira, sua atual esposa. Com Valeska e o sogro, Roberto Teixeira, Zanin se tornou sócio da banca que no futuro defenderia Lula na Lava Jato.
O primeiro contato do advogado com o petista ocorreu por intermédio do sogro. Compadre de Lula, Roberto Teixeira sugeriu o nome de Zanin para defendê-lo durante a operação porque, segundo relatos, via que o petista enfrentaria uma situação de "lawfare" (perseguição judicial).
Antes, Zanin já havia atuado em processos envolvendo a família Lula. Um deles foi o caso do passaporte diplomático de Luís Cláudio Lula da Silva, o Lulinha. O documento foi emitido pelo então presidente no fim de seu segundo mandato e acabou anulado na Justiça.

Lealdade ao petista foi fundamental

Aliados e adversários de Zanin reconhecem que a lealdade do advogado a Lula foi um dos pontos cruciais --senão o mais importante-- para a sua nomeação ao Supremo.
A entrada de Zanin na defesa de Lula foi cercada de críticas desde o primeiro momento. Grupos de advogados questionavam a competência técnica de Zanin para lidar com um caso de tamanha relevância --até então, o advogado era conhecido por processos empresariais, com atuação mais discreta na seara criminal.
Um dos pontos emblemáticos ocorreu em 2018, quando o ex-ministro Sepúlveda Pertence ingressou na defesa de Lula após pressão de alas do próprio PT que estariam insatisfeitas com o trabalho de Zanin.
Pertence liderou um movimento para tentar converter a prisão do petista em Curitiba em domiciliar. Zanin divergiu, apontando que a medida enfraqueceria o discurso de que o petista seria inocente. O embate se tornou público.
O Prerrogativas, coletivo formado por advogados e criminalistas progressistas e de viés mais à esquerda, se aliou a Pertence, o que levou Zanin a deixar o grupo.
Na ocasião, o advogado criticou o que chamou de "fogo amigo" e "off e mais offs [declarações à imprensa em que o interlocutor não é identificado] e sugestões de pautas marotas de pessoas que à luz do sol juram amor a Lula e à sua liberdade mas que nas sombras estão dispostas a qualquer coisa", disse em mensagem.
Pertence deixou a equipe em julho de 2018, após divergências com Zanin, que permaneceu na defesa de Lula até o final. O racha com o Prerrogativas, porém, permanece até hoje.

Zanin foi uma grande revelação jurídica nesses últimos anos, uma revelação extraordinária, fez coisas que outros advogados não fariam.
Lula, em declaração em março deste ano

Vaza Jato pavimentou anulação de processos de Lula e beneficiou Zanin

Embora acumulasse derrotas na Operação Lava Jato desde que havia assumido a defesa de Lula, a maré de Zanin virou com a revelação das mensagens da Vaza Jato.
As conversas que apontaram uma "dobradinha" entre o então juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, então coordenador da força-tarefa, basearam o julgamento que culminou na declaração de parcialidade de Moro, impondo a maior derrota da Lava Jato.
Os processos contra Lula foram anulados por Edson Fachin, que deu uma justificativa técnica: deveriam ter sido julgados em Brasília, e não em Curitiba. O pano de fundo, porém, foi uma tentativa do ministro de impedir que Moro fosse declarado suspeito e isso respingasse em outros réus, abrindo uma série de anulações de condenados da operação.
O cálculo de Fachin falhou, e Zanin passou a acumular vitórias.
O advogado também obteve no Supremo a anulação de provas obtidas no acordo de leniência da Odebrecht, em ação que foi alvo de dezenas de pedidos de extensão para outros réus da Lava Jato que foram acusados com base nas provas da "delação" da empreiteira.

Não se pode admitir que pessoas estejam acima da lei, sobretudo aquelas que ocupam cargos públicos relevantes e que podem ter uma atuação decisiva na vida das pessoas.
Cristiano Zanin Martins, em entrevista ao UOL em 2020

Buscas em escritório e racha com sócio devem marcar sabatina

Entre os temas espinhosos na sabatina de Zanin no Senado, está a Operação Esquema S, deflagrada pela Lava Jato do Rio e que culminou em buscas contra o escritório do advogado.
A decisão foi assinada por Marcelo Bretas, que hoje está afastado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), e foi anulada. A aliados, Zanin afirma que a medida foi uma "retaliação" a seu trabalho.
Outro tema difícil é o rompimento litigioso entre Zanin e seu sogro, Roberto Teixeira. Embora pessoal, a disputa jurídica-familiar foi ressuscitada por adversários para derrubar a indicação de Zanin, sendo um caso lembrado até por integrantes da esquerda.
O advogado tem minimizado o episódio, mas se prepara para enfrentar o tema ao falar com senadores.