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CPI 8/1: Preso por bomba em Brasília quebra silêncio e nega participação

Carolina Nogueira*

Colaboração para o UOL, em Brasília

22/06/2023 16h45Atualizada em 22/06/2023 20h44

George Washington de Oliveira Sousa, que foi preso por tentar explodir uma bomba perto do aeroporto de Brasília, na véspera do Natal em 2022, quebrou o silêncio e disse que "seria insano colocar uma bomba perto de um caminhão tanque".

Inicialmente, ele decidiu ficar calado na CPMI dos atos golpistas, no Senado, mas mudou de ideia e respondeu algumas perguntas.

O que aconteceu?

Sousa negou ser terrorista e de ter participação na tentativa de explosão de uma bomba.

O empresário afirmou que seria uma "loucura, uma insanidade" dele "colocar algo que explodisse um caminhão tanque".
Eu sou casado há 33 anos, tenho dois filhos, um dos filhos requer cuidados especiais e há 37 anos da minha vida, eu trabalho em empresa de caminhão tanque de petróleo, de garagem, de transporte de combustível naval. Então, desses 37 anos eu me afastei muito pouco desse ramo de combustíveis, de inflamáveis. Seria uma loucura, uma insanidade da minha cabeça colocar algo que explodisse um caminhão tanque. Eu acabaria com toda a minha vida" George Washington de Oliveira Sousa.

Ele também negou estar "insano". "Isso aí eu lhe confirmo que eu não estou. Agora esse é praticamente o meu currículo. Há 37 anos praticamente no mesmo ramo, eu não seria louco de colocar um artefato explosivo em cima de um caminhão. Jamais na minha vida", disse o investigado.

De testemunha para investigado

George foi inicialmente convocado a comparecer na condição de testemunha, para prestar esclarecimentos sobre a tentativa de explodir uma bomba nas imediações do aeroporto de Brasília.

Porém, na tarde de hoje, o presidente da Comissão, Arthur Maia (União Brasil) e a relatora da CPI, Eliziane Gama (PSD) decidiram mudar a condição dele de testemunha para investigado.

"Concluímos que não é razoável que alguém tentou explodir uma bomba e, portanto, é uma das pessoas mais envolvidas neste fato que levou ao dia 8 de janeiro não seja trazida à nossa presença senão na condição de investigado e não na condição de testemunha", disse Maia.

Maia observou ainda que Sousa foi condenado por "um crime gravíssimo". "Todas as falas têm que ter honra e mérito. Não fica nem bem para essa Comissão que esse elemento está vindo para cá na condição de testemunha."

Sousa chegou acompanhado da advogada Rannie Karlla Ramos de Lima Monteiro, que informou que seu cliente tinha o direito constitucional de ficar calado.

Já na primeira pergunta, ele se negou a responder. "Permanecerei calado", disse.

Por conta disso, Sousa passou a ser criticado pelo presidente da Comissão:

Eu sei que o silêncio do investigado trás uma decepção generalizada para o Brasil, que gostaria muito de saber o que leva uma pessoa se dirigir até um aeroporto da capital do seu país e, por uma motivação banal, por mais que seja importante o resultado de uma eleição, tenta cometer um crime hediondo." Arthur Maia

O senhor é um criminoso e como tal está na condição de investigado (...) Sinceramente, o senhor envergonha esse país, envergonha a sociedade brasileira, a sua família. Eu espero que a lei brasileira seja muito dura com criaturas como o senhor", Arthur Maia

A defesa de George protocolou ontem (21) um habeas corpus no STF para que fosse garantido o direito de ficar em silêncio e responder apenas perguntas sobre fatos objetivos, que não comprometam sua imagem. O pedido não deferido até o início do depoimento.

O depoimento foi marcado para depois das oitivas com os peritos Valdir Pires Dantas Filho e Renato Martins Carrijo, da PCDF (Polícia Civil do Distrito Federal) e Leonardo de Brito , diretor de Combate à Corrupção e Crime Organizado da Polícia Civil do DF.

Na comissão, o deputado Rogério Correia (PT-MG) e o senador Jorge Seif (PL-SC) discutiram durante depoimento de George Washington na CPI do 8 de janeiro. A confusão começou após Seif mandar Correia "calar a boca".

Quem é George Washington?

O empresário foi preso em dezembro do ano passado, após colocar uma bomba perto de um caminhão de combustível nas imediações do aeroporto de Brasília.

Em maio, ele foi condenado pela Justiça do Distrito Federal a nove anos e quatro meses de prisão.

De acordo com a denúncia do MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal), George Washington saiu do Pará para Brasília transportando armas de fogo e munições em um automóvel. Havia também dinamites.

Em Brasília, no quartel do Exército, o empresário, Alan Diego dos Santos Rodrigues e o blogueiro Wellington Macedo de Souza teriam elaborado o plano para explodir bombas em lugares públicos.

Em dezembro do ano passado, foram encontrados dispositivos explosivos em três locais. Nenhum deles foi acionado com sucesso, e dois apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foram presos, suspeitos de planejarem o crime.

(*) Com colaboração de Beatriz Gomes, do UOL