GDias atribui segurança em 8/1 a equipe antiga e admite manipulação da Abin
O general Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) do Governo Lula, afirmou hoje que a segurança do Palácio do Planalto durante os atos golpistas de 8 de Janeiro era composta "praticamente" só por remanescentes da gestão Jair Bolsonaro (PL). Ele ainda negou que tenha tido acesso a documentos da Abin (Agência Brasileira de Segurança).
O que ele disse
No depoimento, GDias disse que "não houve transição" e, uma semana após a posse, ainda comandava "praticamente a equipe antiga". Segundo ele, até aquele momento só houve troca de assessores diretos. "No primeiro mês, segundo mês é difícil [fazer mudanças]."
GDias alegou ainda que não teve acesso a relatórios da Abin antes dos atos e indicou que houve manipulação de documentos enviados ao Congresso Nacional. "[O material] Não condizia com a realidade."
Nomeado pelo presidente Lula (PT), GDias pediu exoneração após divulgação de vídeos em que aparece circulando pelo Planalto na tarde dos atentados. Ele negou que tenha sido conivente com os terroristas ou que tenha servido água aos vândalos.
Ele afirmou ainda que todas as imagens internas foram entregues "especificamente na mão" do presidente no dia seguinte aos ataques. O petista já deu entrevistas confirmando que teve acesso às filmagens.
GDias, responsável pelo GSI durante os atentados, depôs nesta manhã na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Atos Antidemocráticos da CLDF (Câmara Legislativa do Distrito Federal). O depoimento durou quase 5h.
No dia 9 [de janeiro], foi repassado para a Secom [Secretaria de Comunicação Social] todas as imagens vistas da central de monitoramento. Elas ficam no cofre da diretoria de tecnologia.
Manipulação na Abin
O ex-ministro negou que tenha recebido qualquer relatório da Abin e indicou que houve manipulação em documento enviado ao Congresso sobre a possibilidade de ataque aos Poderes. O texto citava "ministro do GSI" como uma das pessoas que receberam os relatórios.
Segundo ele, esta forma de uso de mensagens por WhatsApp "foi institucionalizada no governo passado". "São informes sem comprovação de dados."
A Abin respondeu [ao Congresso] com um compilado de mensagens de aplicativo. Esse documento tinha 'ministro do GSI'. Nunca participei de nenhum grupo de WhatsApp, eu não sou o difusor daquele compilado de mensagens. Então, aquele documento não condizia com a realidade. Esse era um documento, ele foi acertado e enviado.
Nesse período, só fiz contato com diretor-adjunto da Abin. A Abin não me passou nenhum relatório. Não adulterei nem fraudei nenhum documento. [...] Só tomei conhecimento desse compilado de mensagens após o dia 8, e não mandei alterar.
Responsabilidades e equipe anterior
Responsável pelo GSI entre 1º de janeiro e 19 de abril, GDias se isentou das responsabilidades pelo 8 de Janeiro, dizendo que não houve prevaricação — embora o órgão seja responsável pela segurança do Planalto. Ele atribuiu a culpa em especial ao secretário executivo, general Ivan Penteada, exonerado após os atentados.
Ele ressaltou que "não teve transição" no gabinete e sugeriu que a "animosidade" entre a gestão antiga e a atual pode ter dificultado a passagem de poder. "Quando se assume, tem de ter continuidade. Não esperávamos que houvesse dia 8. O GSI como um todo estava providenciando que isso [troca de servidores] acontecesse, estava no processo."
Ele atribuiu a segurança direta do palácio nominalmente aos militares remanescentes da gestão do General Heleno, ministro de Bolsonaro. No depoimento, ele disse ainda que, hoje, não teria os mantido.
Um desses militares, coronel Garcia, foi um dos flagrados nas filmagens internas do Planalto sem coibir os manifestantes. "Eu não servi água para ninguém. Aquela imagem do major servindo água e eu do lado, a imagem do major foi gravada às 15:59 e eu, às 16:30. A defasagem dele é de 30 minutos."
Embora tenha citado nomes, GDias se esquivou de atribuir responsabilidade ao seu antecessor, general Heleno. "Isso [envolvimento direto] tem de ser apurado, não posso emitir opinião."
Questionado sobre os motivos de não ter colocado a sua equipe já na primeira semana, GDias ponderou que "a cabeça do GSI, o staff do GSI foi trocado, com a exceção de alguns secretários e do secretário executivo".
Segundo ele, houve um "meio termo". "No dia 1º [de janeiro], foram exoneradas todas as assessorias parlamentares dos ministros e comunicação, isso foi em torno de nove pessoas. Depois do dia 8, eu exonerei categoricamente cerca de 35% de todo efetivo, mais ou menos 200 pessoas."
Praticamente, eu assumi a equipe antiga, principalmente o secretário executivo, que é o grande gestor do ministério. [Uma semana após a posse, é] fase de transição. Essas informações [sobre ameaças] são oriundas do pessoal antigo que estava lá, é uma coisa lógica.
A responsabilidade, logicamente, de tudo que acontece ali é do secretário executivo [general Penteado]. A segurança do Planalto é responsabilidade da Secretaria de Segurança Presidencial, à época tinha como secretário o general [Carlos] Feitosa. Quem fazia análise de criticidade era o coronel [Alexandre] Amorim e quem escalava o pessoal de segurança era coronel [André Luiz] Garcia. Essas pessoas tinham responsabilidade de segurança do palácio.
Lula queria um civil
Responsável pela segurança do presidente durante a campanha, GDias afirmou ainda que Lula queria um civil para o GSI — algo inédito para o ministério. O general, que ocupou o cargo nos primeiros mandatos do petista, diz ter aceitado o convite por hoje a pasta ter "maior complexidade".
O Aloizio Mercadante [atual presidente do BNDES] me chamou para a transição: 'O presidente quer que um civil assuma o GSI, você tem de convencê-lo ou não'. Vim aqui, vi a complexidade da missão. O GSI de hoje não é o GSI de 2013. Fui para ele, disse: 'Mercadante, é muito complexo'. O presidente, por influência do Mercadante, decidiu me chamar para a função.
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