PUC repudia homenagem de Tarcísio a coronel autor de 'invasão truculenta'
O vice-governador do estado de São Paulo, Felicio Ramuth (PSD), promulgou uma lei que presta homenagem a Erasmo Dias, coronel que comandou a invasão da PUC-SP durante a ditadura militar. A lei foi promulgada por Ramuth porque o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) está em viagem a Portugal.
Erasmo Dias ficou conhecido por sua atuação na repressão a opositores da ditadura militar. A decisão revoltou a PUC.
"A PUC-SP foi vítima direta da violência de Estado na ditadura, de sua truculência e ilegitimidade. O coronel Erasmo Dias comandou a violação em 22 de setembro de 1977. A cada ano lembramos a data para repudiar o arbítrio e o obscurantismo, um gesto cidadão e de formação de nossos estudantes para que a memória nos ajude a evitar que acontecimentos como aquele se repitam: ditadura nunca mais", disse a universidade.
"O projeto de lei em homenagem a Erasmo Dias, promulgado em 28/06/2023 pelo governador de São Paulo, Sr. Tarcísio de Freitas, além de mais um efeito da herança ditatorial, é um acinte e um desrespeito, não apenas à PUC-SP, principalmente à democracia e à cidadania brasileiras."
Como foi a invasão
A invasão da PUC-SP ocorreu na noite de 22 de setembro de 1977. Na ocasião, cerca de dois mil estudantes participavam de um ato público pela recriação da UNE (União Nacional dos Estudantes).
O encontro foi reprimido por policiais comandados por Dias, que era secretário de Segurança Pública de São Paulo. Naquela noite, 854 pessoas que participavam do ato foram detidas. Dessas, 92 foram fichadas no Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo) e 42 foram processadas sob a acusação de subversão. Também houve a depredação de instalações no campus Perdizes.
A reitora da PUC-SP, Maria Amália Pie Abib Andery, além de professores e alunos da universidade, assinaram uma nota de repúdio à lei. O texto afirma que a iniciativa é "absolutamente antidemocrática e invalida a luta de milhares de estudantes e centenas de militantes que perderam suas vidas durante a ditadura militar".
Quem foi Erasmo Dias?
Formado em História e em Direito, Dias permaneceu no Exército durante 35 anos. Ele foi um dos fundadores da Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido político que representava o regime militar.
O coronel foi secretário de Segurança Pública em São Paulo entre 1974 e 1979. Durante a sua gestão, o Instituto Médico Legal, subordinado à pasta, emitiu laudos como o que atribuiu a um suicídio a morte do jornalista Vladimir Herzog. Ele foi assassinado pela ditadura em 1975.
O coronel também foi deputado federal, estadual e vereador em São Paulo. Ele deixou a política em 2004. Dias morreu de câncer em 2010, aos 85 anos.
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