'Tem uma missão': a conversa entre investigados por plano de bomba no DF

Mensagens apreendidas pela Polícia Civil do Distrito Federal apontam que George Washington de Oliveira Sousa teve ajuda no planejamento de uma ação golpista. Ele já foi condenado e está preso por uma tentativa de atentado a bomba em Brasília, no dia 24 de dezembro.

O que aconteceu

Washington se comunicou com ao menos 6 investigados nas semanas que antecederam o crime. Entre eles estão o empresário Ricardo Cunha e o casal de pecuaristas Bento e Solange Liebl, todos da região sudeste do Pará.

Cunha passou uma "missão" a Washington e acertou o envio de uma encomenda a ele. Os dois são de Xinguara (PA) e trocaram mensagens e ligações na noite em que a bomba foi plantada em um caminhão-tanque próximo ao aeroporto de Brasília.

Solange e Bento, pecuaristas de São Félix do Xingu (PA), trataram do envio de "peças de caminhão" a Washington. Segundo um relatório policial, o próprio militante bolsonarista confessou que isso seria um código para os explosivos.

Cunha e Washington negaram que o empresário tenha qualquer envolvimento no crime. Já Solange e Bento Liebl foram procurados, mas não responderam até a publicação desta reportagem.

"Tem uma missão"

Cunha e Washington foram a Brasília em novembro, em datas parecidas. Logo que chegou à capital federal, o empresário mandou uma mensagem a Washington, gerente de um posto de gasolina, pedindo que fosse encontrá-lo no quarto do hotel onde estava.

Cunha procurou Washington por mensagem, dizendo que tinha uma "missão" para ele. Era 10 de dezembro, e os dois combinaram de se encontrar no dia seguinte, no acampamento golpista em frente ao QG de Brasília.

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Quatro dias depois, Cunha fez uma breve viagem a Xinguara. Da cidade paraense, se ofereceu para levar uma "encomenda" ao colega, que continuava em Brasília.

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Washington perguntou se Cunha poderia levar para ele "aquele material do caminhão". Segundo o relatório policial, o militante bolsonarista confirmou, de maneira informal, que foi Cunha quem levou os explosivos.

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Na madrugada do dia 23, um dia antes da tentativa de atentado, os dois trocaram telefonemas. Minutos depois, Washington escreveu a Cunha que não voltaria ao Pará "com o material", em suposta referência à bomba.

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Horas antes de a bomba ser plantada, os dois falaram sobre um homem não identificado que Washington estaria esperando. A polícia suspeita que seja Alan Rodrigues dos Santos, que colocou os explosivos em um caminhão-tanque próximo ao aeroporto de Brasília. Assim como Washington, Rodrigues também já foi condenado pelo crime.

20.ago.2022 - Ricardo Cunha (esq.) com o deputado federal Delegado Caveira (PL-PA)
20.ago.2022 - Ricardo Cunha (esq.) com o deputado federal Delegado Caveira (PL-PA) Imagem: Reprodução/Facebook

Pecuaristas convocaram reunião no QG

A polícia suspeita que Washington tratou sobre os explosivos com Solange Liebl. Em 1º de dezembro, ela avisou ao militante que ele precisava autorizar um motorista a buscar "peças", o que seria um código para os explosivos.

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No dia 11 daquele mês, Bento contou a Washington que estava servindo como "motorista de índio": ele e seu grupo estavam em Brasília com o indígena José Acácio Serere Xavante, o cacique Serere, que seria preso no dia seguinte.

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Bento convocou Washington para uma reunião no QG golpista naquele dia. O fazendeiro enviou uma foto do cacique Serere no acampamento, ao lado dos colegas, e disse que o indígena estava mobilizando CACs — sigla para "caçadores, atiradores esportivos e colecionadores".

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Até o momento, Cunha e o casal Liebl não foram presos nem denunciados. Eles foram alvos de buscas e apreensões em abril, durante uma operação das polícias civis do PA e do DF, mas as investigações seguem em andamento.

11.dez.2022 - Bento Liebl enviou a George Washington foto do cacique Serere no QG de Brasília
11.dez.2022 - Bento Liebl enviou a George Washington foto do cacique Serere no QG de Brasília Imagem: Reprodução/PCDF

Missão era identificar 'infiltrados', diz suspeito

Cunha nega ter enviado qualquer material a Washington em Brasília. Ao UOL, o empresário disse não se lembrar do teor das mensagens, mas afirma que não seria "louco para colocar vidas de pessoas inocentes em perigo" com um plano de bomba.

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Cunha afirmou que a "missão" passada a Washington seria a de identificar intrusos no acampamento dos manifestantes. "Eu falava com ele [Washington] direto no acampamento. Muitas vezes era alguma suspeita de infiltrado no acampamento, ele vivia falando isso", declarou o empresário.

Sobre o compromisso de levar o "material do caminhão" a Washington, Cunha disse que isso não se concretizou. "Não levei nada e voltei de carona no outro dia. Inclusive fomos parados por uma blitz perto de Brasília e o carro foi vistoriado", diz.

Já a defesa de Washington negou que haja outros envolvidos no caso. "George Washington não tem nenhuma ligação com essas pessoas", declarou a advogada Rannie Karla Monteiro.

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