Caso Marielle: versão de delator bate com indícios colhidos pela polícia
Segundo a decisão que mandou prender Maxwell Simões Correa, o Suel, suspeito de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes, a delação premiada do ex-policial militar Élcio de Queiroz é reforçada por outras provas colhidas pelas investigações pela polícia nos últimos anos.
Maxwell teve a prisão preventiva decretada nesta segunda-feira (24) pelo juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4a Vara Criminal do Rio de Janeiro. Ele é suspeito de ter trabalhado para se desfazer do carro usado no crime, um Chevrolet Cobalt, e há evidências de que ele tentou destruir provas do crime, um dos motivos para decretação da prisão preventiva.
Élcio de Queiroz, delator no processo, foi preso em 2019, junto com o também ex-PM Ronnie Lessa. Ambos são acusados de matar Marielle e Anderson, mas ainda não foram julgados.
Em seus depoimentos, o delator Élcio disse que Ronnie Lessa e Suel saíram de carro nos dias 1 e 2 de fevereiro de 2018 numa missão de monitoramento dos passos de Marielle.
De acordo com a decisão desta segunda, os registros de ERB (Estações Rádio-Base) dos acusados e da placa do carro usado no crime demonstram que ambos estavam no Cobalt e que o veículo de fato foi usado nos monitoramentos.
O dia do crime
Élcio contou que, no dia do crime, 14 de março de 2018, dirigia o Cobalt em que estavam. Ronnie estava no banco do carona e pediu para estacionarem quando chegaram perto da Casa das Pretas, onde Marielle havia participado de um evento. Com o carro parado, Ronnie passou para o banco de trás.
Segundo a decisão, o relato foi confirmado pelas investigações: "O relato da passagem de RONNIE LESSA para o banco de trás do veículo, horas antes do crime, teria sido confirmado pelo relatório de imagens preliminares da Delegacia de Homicídios de 26 de março de 2018 identificando balanço anormal no carro e um braço no vidro traseiro", escreveu o juiz.
Élcio contou que chamou sua atenção o nível da vigilância de Marielle feita por Ronnie. Em um momento, ele achou que uma mulher que saía da Casa das Pretas poderia ser a vereadora, mas Ronnie olhou e disse que não era. "Então, quer dizer, ele sabia exatamente como que era a pessoa", comentou Élcio, na delação.
Depois, Élcio contou que o carro de Marielle, dirigido por Anderson, saiu do lugar em que eles estavam, e ele começou a ficar preocupado porque o carro dela estava "muito veloz" e não havia, "no percurso, nada que parasse o veículo dela".
Ronnie, então, tranquilizou a todos, dizendo que a vereadora estaria, ainda naquela noite, num bar cuja dona havia sido agraciada por uma medalha. Depois de uma pesquisa no Instagram de Marielle, descobriram que era o Dida Bar.
Na decisão desta segunda, o juiz considerou que essa informação foi corroborada pelas investigações: "Postagem em rede social revela a ligação de MARIELLE com Dona Dida, proprietária do bar para onde Marielle estaria indo, corroborando, em tese, a informação do colaborador sobre a vigilância que RONNIE LESSA estaria fazendo de seu alvo".
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Quero receberDe acordo com o relatório da PF sobre a delação de Élcio, o ex-PM contou que, quando entraram no Largo do Estácio, viram o carro em que Marielle e Anderson estavam, um Chevrolet Agile, entrar numa rua que dava acesso ao Viaduto Paulo de Frontin.
Foi quando, segundo Élcio, Ronnie Lessa pediu para que ele emparelhasse a janela de trás do carro com a janela de trás do carro de Marielle. "Ele já estava com o vidro aberto e eu só escutei a rajada; da rajada, começou a cair umas cápsulas na minha cabeça e no meu pescoço", relatou Élcio. "Aí caíram as cápsulas em mim e ele falou "vão bora"; eu nem vi se acertou quem, se não acertou."
O táxi depois do crime
Depois do crime, segundo Élcio, todos foram para a casa da mãe de Ronnie, no Méier, zona norte do Rio. Lá, o irmão de Ronnie, Denis Lessa, chamou um táxi para que todos fossem até a Barra da Tijuca, na zona oeste, e ficaram no bar Resenha, na rua Olegário Maciel.
O juiz considerou o relato corroborado: "Através de ofício à Cooperativa de Táxi, teria sido confirmado que no dia 14 de março de 2018, de fato, teria sido registrada uma corrida solicitada por DENIS LESSA às 21:48 horas. O dado teria sido confirmado, ainda, pelo deslocamento físico do telefone do colaborador ÉLCIO, obtido pela Polícia Civil apontando para a Rua Olegário Maciel às 22:30 horas da noite".
No dia seguinte, Élcio contou que ele e Ronnie se encontraram com Suel no Méier para se livrar do Cobalt, que havia ficado lá. Suel, então, combinou com um conhecido deles, chamado de Orelha, para trocar a placa do Cobalt usado no crime e para limpar o carro de qualquer vestígio - segundo a Polícia Federal, o nome de Orelha é Edilson Barbosa dos Santos.
Essa informação, segundo o juiz, foi corroborada pelos dados de ERB e das imagens da placa do carro de Ronnie Lessa, um Evoque, capturadas no trajeto.
"Registros de OCR [leitura das letras e números da placa do carro a partir de imagens] do veículo EVOQUE, de RONNIE LESSA, e registros de chamada e localização de estações rádio base (ERBs) dos telefones de LESSA e MAXWELL confirmariam a ida dos dois ao encontro de ÉLCIO para a troca de placa", escreveu o magistrado. O registro de chamadas no celular de Suel também mostra que, 30 minutos depois de o carro ser visto no local indicado por Élcio na delação, ele ligou para Orelha.
A ordem de prisão de Maxwell Correa é de prisão preventiva, e não de aplicação da pena depois da condenação. Ou seja, existe para garantir o andamento do processo e das investigações. "Nessa fase", disse o juiz Gustavo Kalil, na decisão, "não é necessária prova cabal, bastando indícios".
Além de mandar prender Maxwell, o juiz também recebeu a denúncia contra ele, transformando-o em réu pelo homicídio de Marielle Franco e Anderson Gomes.
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