Conteúdo publicado há 11 meses

Caso Marielle: Bolsonaro ensaiou com TVs respostas sobre porteiro, diz site

As emissoras SBT e TV Bandeirantes teriam ensaiado entrevistas com o então presidente Jair Bolsonaro sobre o depoimento do porteiro que teria apontado a relação entre o político e um dos acusados no caso Marielle. A informação foi revelada pelo site DCM (Diário do Centro do Mundo).

O que aconteceu:

As entrevistas foram realizadas em outubro de 2019, após a TV Globo publicar o depoimento original do porteiro do condomínio onde Bolsonaro morava, em que dizia que Bolsonaro havia autorizado a entrada de Élcio de Queiroz no residencial. O DCM informou que teve acesso aos vídeos dos bastidores dessas entrevistas, concedidas por Bolsonaro durante viagem ao Oriente Médio.

O site aponta que as gravações tiveram perguntas e respostas ensaiadas, além de tentativas de encontrar a melhor forma de como Bolsonaro deveria reagir aos questionamentos dos repórteres, além de regravações até que equipes e o entrevistado, então presidente, estivessem satisfeitos com a versão captada.

A reportagem alega que equipes do SBT teriam orientado as respostas de Bolsonaro, que criticou a Globo e o então governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PMB). Já a equipe da Band teria gravado três vezes as respostas para uma pergunta, até que Bolsonaro se disse satisfeito.

O ex-chefe da Secom no governo Bolsonaro, Fabio Wajngarten, disse ao UOL que as afirmações são "fake news" e classificou a matéria como um "baita absurdo", negando qualquer combinado das emissoras com o ex-presidente da República.

Procurada, a TV Bandeirantes alegou que ainda avalia se irá se pronunciar. O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda não respondeu à demanda do UOL. Este espaço será atualizado quando houver manifestação das partes.

O SBT afirma que a reportagem do DCM "não tem nenhuma conexão com a realidade dos fatos", em nota enviada ao UOL. "O DCM tira da cartola, sem nada que a respalde, a informação de que um produtor do SBT interrompe a entrevista para que a pergunta e a resposta do ex-presidente Jair Bolsonaro sejam refeitas. Nossos correspondentes não viajam com produtores. Quem interrompe a entrevista é um assessor do presidente. A pergunta não foi refeita; por causa da interrupção, foi repetida", diz a nota.

Além disso, a emissora diz que o site "desconhece a prática basilar do Jornalismo" e que o SBT seguiu uma das principais diretrizes da profissão, que é "ouvir os dois lados". "Ora, o ex-presidente foi vítima de uma acusação, noticiada pelos nossos telejornais, e era nosso dever ouvir o que tinha a dizer a respeito. Da mesma maneira, o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, acusado por Bolsonaro na entrevista, teve sua defesa exibida em nossos noticiários", acrescenta.

O DCM comete um deplorável erro ao pôr em dúvida a reputação da premiada correspondente Patrícia Vasconcellos -- uma referência de excelência em cobertura internacional -- e, com base em achismo, tirar uma conclusão grosseira sobre seu trabalho. Carência de views e likes costuma levar a isso.
SBT, em nota

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A jornalista Patrícia Vasconcellos se pronunciou em uma rede social sobre a reportagem. A repórter disse que estava sem produtor no momento da entrevista com Bolsonaro e que quem interrompe sua pergunta é um funcionário do antigo governo.

Depoimento do porteiro

Em 2019, o porteiro citou Bolsonaro e depois voltou atrás. Ele afirmou à Polícia Federal que errou ao atribuir ao presidente a autorização para a entrada do ex-PM Élcio de Queiroz no condomínio Vivendas da Barra. Aos investigadores, ele afirmou ter se sentido confuso durante os dois depoimentos à Polícia Civil.

Élcio teria ido à casa do policial militar reformado Ronnie Lessa, apontado como autor dos disparos no duplo homicídio. A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio afirmam que eles saíram de lá para cometer o crime. Bolsonaro morava nesse mesmo condomínio até tomar posse na Presidência da República.

Na portaria do condomínio, uma anotação manual registra a entrada de Élcio como visita para a casa 58, onde morava Bolsonaro. Há também planilhas de acesso feitas em computador, mas ainda não se sabe se elas corroboram ou não a versão inicial do porteiro.

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