Conteúdo publicado há 10 meses

Cid vendeu relógio a mando de Bolsonaro e entregou dinheiro, diz advogado

Novo advogado de Mauro Cid, Cezar Bitencourt afirmou que o tenente-coronel vendeu um relógio Rolex, dado de presente à União, por ordem do então presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem teria entregado dinheiro em espécie pela negociação. As informações são do jornal O Globo.

O que aconteceu:

"Mauro Cid vendeu o relógio a mando do Bolsonaro com certeza e entregou o dinheiro a ele", disse Bitencourt. O Código Penal prevê uma redução da pena se um crime é cometido por ordem "de autoridade superior" — Cid era ajudante de ordens de Bolsonaro.

O advogado afirmou que os R$ 35 mil que entraram na conta do general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do tenente-coronel, eram "parte do pagamento que ele deu ao ex-presidente".

Bitencourt reforçou a informação dada à revista Veja de que Cid irá depor, após três meses preso e em silêncio. "Se compromete ou se não compromete o ex-presidente é indiferente. Cada um com suas responsabilidades. O compromisso dele é com a verdade."

Confissão, não delação. Cid não fechou uma delação premiada e tem ficado em silêncio sobre as joias e a possível falsificação de cartões de vacina — o último resultou em sua prisão em maio. Bitencourt disse à Veja que conversará com o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), para atenuar a pena do cliente.

O UOL entrou em contato com os advogados Cezar Bitencourt, de Mauro Cid, e Frederick Wassef e Fábio Wajngarten, representantes de Bolsonaro para manifestação em nome de ambos. Este espaço será atualizado tão logo haja manifestação.

Se compromete ou se não compromete o ex-presidente é indiferente. Cada um com suas responsabilidades. O compromisso dele é com a verdade. Ele assumiu que errou, quer fazer mea-culpa e eu prometi que vou proteger ele, vou acompanhar. São coisas muito complicadas, ele precisa se sentir seguro. Ele vai assumir a responsabilidade da parte dele e o resto é consequência.
Cezar Bitencourt

Entenda o caso

Na sexta-feira passada (11), a Polícia Federal deflagrou a operação que aprofunda a investigação das joias desviadas. O que acontecia, segundo a instituição, é que ajudantes de Bolsonaro revendiam joias e bens que eram presenteados ao então presidente. O dinheiro vivo era repassado para Bolsonaro, ou seja, um presente para a União viraria lucro pessoal.

Continua após a publicidade

Os alvos de busca e apreensão foram o general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o advogado Frederick Wassef, o assessor Osmar Crivelatti e o próprio Mauro Cid.

O esquema, segundo a PF, tinha "o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores", "por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal".

Os indícios envolvendo Bolsonaro no esquema também apontam que as joias foram levadas ao exterior durante viagens presidenciais em aeronave da Força Aérea Brasileira, enquanto ele ainda ocupava o cargo.

Em diálogos obtidos no celular de Mauro Cid, a PF encontrou conversas a respeito da entrega de dinheiro vivo a Bolsonaro. Em uma das mensagens, Cid afirmou:

Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente, dar abraço nele, né? E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...) Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?
Mauro Cid, em mensagem de áudio enviado por celular

Calado na CPI e movimentações suspeitas

Mauro Cid foi convocado a depor na CPI mista dos atos golpistas de 8 de Janeiro. O tenente-coronel foi ao Congresso no dia 11 de julho e se recusou a responder, negou dizer até a própria idade. A comissão, então, enviou uma representação ao STF acusando Cid de "abusar do direito ao silêncio" durante depoimento, que pode dar, no máximo, 4 anos de prisão.

Continua após a publicidade

O Ministério Público elencou todas as perguntas feitas a Cid, nenhuma das 76 respondida. A ministra Cármen Lúcia permitiu que o tenente-coronel ficasse em silêncio, mas ele deveria responder a perguntas que não o incriminassem.

Cid possui movimentações bancárias tido como atípicas. Com dados de relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), foi possível somar que as transações entre o tenente-coronel e o sargento Luís Marcos dos Reis, preso também pela suspeita de forjar cartões de vacina, foram de R$ 7 milhões entre 1º de fevereiro de 2022 e 8 de maio de 2023. Reis, segundo o Estadão, acionou um sobrinho que é médico para preencher e carimbar os certificados de vacinação.

Ao todo, foram 17 transações identificadas oficialmente entre os dois titulares de contas. Apenas o próprio sargento figurou como destinatário em mais transações que Cid, segundo lugar da lista.

Deixe seu comentário

Só para assinantes