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Salles é acusado de intimidar indígenas na BA e responde: 'Índios pikachu'

Os deputados Ricardo Salles (PL-SP) e tenente-coronel Luciano Zucco (Republicanos-RS) tiveram um confronto com indígenas de Itamaraju, na Bahia, que acusam os parlamentares de "truculência" e "ameaça". Zucco e Salles foram ao local para fazer diligências da CPI do MST.

O que aconteceu:

Em vídeos, os deputados, acompanhados de assessores que também gravaram a cena, conversam com os moradores por um portão de madeira, e acusam os indígenas de terem invadido a terra de um fazendeiro. "Aqui é propriedade privada, tem escritura, tem tudo", diz Salles, que é relator da CPI.

"Se o senhor está falando isso, vai ter que provar [...] Ele que abriu o cadeado", responde um morador sobre o fazendeiro que teria permitido a entrada deles. "Não tem nenhum processo que doe a terra para vocês, para arrancarem uma família daqui de dentro", falou Zucco, presidente da comissão. "Depois vem se fazer de vítima. Eu sou deputado federal, sou um dos que vai levar esse caso, para pararem com esse negócio", afirmou Salles.

O Cacique Zeca Pataxó, coordenador do Miba (Movimento Indígena da Bahia), disse ao UOL que metade da CPI, a de oposição, se deslocou sem avisar ao resto para aldeias, "o que não estava previsto na comissão", não foi avisado às lideranças locais ou à Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Outra fonte escutada pela reportagem confirmou que a oposição havia dito que as diligências estavam encerradas e, então, partiu para a terra indígena sem aviso.

Esse território é consagrado, já está pronto para homologação. São 54 mil hectares de terra, e devido ao governo Bolsonaro, que não demarcou, nossos indígenas fizeram a autodemarcação dentro do território, inclusive com legalidade. O que o deputado fez hoje foi uma truculência, ameaçando nossas lideranças e caciques, não bastasse o conflito e a morte que já teve ao longo desses meses com nosso povo, ele veio continuar a confrontar nossos indígenas."
Cacique Zeca Pataxó

Pelas redes sociais, o Salles publicou: "Uns índios pikachu invadiram uma fazenda na Bahia, com armas, facas e afins, tiraram a família de lá, com escritura e tudo em ordem e agora vem o Dudu [apelido dado a ele para a colega Sâmia Bomfim] dizer que fomos nós que invadimos? Vai te catar". O UOL entrou em contato com a assessoria do deputado, e aguarda resposta.

Zucco disse que não houve "problema" na ida da CPI ao local, e que um morador disse não lembrar do próprio nome, "algo surreal, ninguém fez nada a não ser perguntas, que tinham opção de responder ou não. Existe toda uma narrativa, infelizmente, estamos apresentando problemas que envolvem a luta pela terra".

O Miba entrará na segunda-feira (28) com ações no STF (Supremo Tribunal Federal), e MPF (Ministério Público Federal), além de acionar o Ministério da Justiça e a Câmara dos Deputados para que "seja investigado o deputado [Salles] por ameaça e entrar na área indígena sem comunicar a Funai".

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Deputadas do PSOL, como Célia Xakriabá (MG) e Sâmia Bomfim (SP), informaram que estão levando o caso para órgãos como a Justiça, o Ministério dos Povos Indígenas, e a Funai.

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