Paulista tem dois atos esvaziados: um contra Bolsonaro, e outro contra Lula

Participantes da tradicional manifestação do Grupo dos Excluídos pediram a prisão de Jair Bolsonaro (PL), em ato na região da avenida Paulista — ponto de concentração de bolsonaristas no 7 de Setembro nos últimos anos. Neste feriado, pequenos grupos de apoio ao ex-presidente também tentam mobilizar o público no local.

O que aconteceu

"Bolsonaro na cadeia!", entoaram manifestantes no Grito dos Excluídos. Os porta-vozes do protesto, liderado por centrais sindicais e movimentos de moradia, usaram o microfone para xingar o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de "fascistinha", pregar um plebiscito contra a privatização da Sabesp e pedir a prisão de Bolsonaro.

Manifestantes se concentraram em praça Oswaldo Cruz, no começo da Paulista, que só começou a encher por volta das 10h30, quando a passeata teve início com a presença do padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua. Os manifestantes marcharam da avenida Brigadeiro Luís Antônio até o Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, zona sul.

Diferentemente dos últimos anos, quando esteve lotada de bolsonarista de verde e amarelo, a avenida ficou praticamente vazia na manhã do primeiro feriado de Independência do terceiro mandado de Lula (PT). A frente do prédio da Fiesp, que reunia os bolsonaristas, estava quase sem manifestantes — assim como o Masp, local preferido de petistas.

"Bolsonaristas estão reclusos"

O assistente social José Alves Freitas, 67, acordou cedo para se juntar ao protesto porque luta por moradia popular. "Moro há 12 anos em uma ocupação no centro. Eu vim porque precisamos de casa, mas também precisamos protestar contra o que está acontecendo em São Paulo. Estão dizendo até que a cidade tem praia", diz.

Eu acho ótimo que os bolsonaristas não vieram para a Paulista este ano. Eles estão sumidos, estão reclusos, não aparecem agora porque não sabem como justificar as joias do Bolsonaro.
José Alves Freitas, assistente social

José Alves Freitas, assistente social
José Alves Freitas, assistente social Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

"Fui embora do Brasil". A professora Mariângela Valente, 59, diz que se mudou para Portugal "depois do golpe contra a Dilma". "Essa é a primeira vez que eu volto ao Brasil em quatro anos", diz. "Vim ao protesto porque sempre estive na rua, apanhei muito da polícia em manifestação."

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Hoje é um dia dificílimo para a esquerda. Ela não veio em grande número porque tem medo da repressão da polícia e da agressão de radicais.
Mariângela Valente, professora

A professora Mariângela Valente, 59, deixou o Brasil após o impeachment de Dilma
A professora Mariângela Valente, 59, deixou o Brasil após o impeachment de Dilma Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

O vigilante Emanuel Pereira, 42, também foi ao protesto para reivindicar moradia a quem vive no Belenzinho, zona leste da cidade. Ele disse que ficou animado em não ver bolsonaristas de verde e amarelo na avenida Paulista.

Nos outros anos o que existia era ofensa. Eu comemoro que eles não estejam mais aqui porque a bandeira do Brasil é do país não é de um só partido.
Emanuel Pereira, vigilante

Emanuel Pereira, 42, é vigilante
Emanuel Pereira, 42, é vigilante Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

Protesto pequeno contra Lula

Por mais de quatro horas, alguns manifestantes bolsonaristas tentaram mobilizar pedestres, mas sem sucesso. Poucos pararam para escutar as palavras e gritos de "pátria" e "família".

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Apenas dois carros de som foram liberados para ficar até as 17h, mas com poucas pessoas mobilizadas. Em um deles, próximo ao Masp, um manifestante gritava frases como "Lula foi condenado. Lula, ex-presidiário, condenado, preso em Curitiba". Do alto do carro, o homem dizia: "Hoje comemora-se o dia da pátria, mas é também um dia de repúdio."

Mais adiante, o outro carro de som tentava atrair a atenção de pedestres e motoristas que passavam pelo local. Um dos manifestantes erguia bandeiras do Brasil e gritava: "Estamos passando por um momento econômico delicado".

As palavras de ordem do manifestante se intercalavam com a música religiosa: "Querem abafar nossa voz, querem abafar nosso grito. Está na hora de unir nossas forças. Buscar a Deus por nosso país." O manifestante incitou motoristas a buzinarem enquanto gritava "Fora, Lula". Comerciantes locais reclamavam do volume do som.

A avenida já esteve tomada e cheia, mas agora está vazia. Qual o problema disso? Nenhum.
Manifestante bolsonarista em carro de som na Paulista

Poucos manifestantes foram à avenida Paulista para protestar contra Lula
Poucos manifestantes foram à avenida Paulista para protestar contra Lula Imagem: Fabíola Perez / UOL

O manifestante Wilson Cedotti citou, do alto do carro, a decisão do ministro Dias Toffoli que anulou todas as provas obtidas a partir de delações da Odebrecht. "Estão apagando as provas. Só tem um jeito de consertar o país, trazer nosso representante. Vocês sabem quem é. Saiam às ruas", disse sem citar nomes.

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Bolsonaristas fizeram campanha para boicotar a data. Desestimulados pela eleição de Lula e inelegibilidade de Bolsonaro, seus apoiadores passaram as últimas semanas utilizando as redes sociais para defender um "fique em casa" no 7 de Setembro, uma analogia irônica à ação de proteção contra o coronavírus em 2020.

Mesmo com a Paulista esvaziada, o efetivo da PM e da GCM (Guarda Civil Metropolitanta) era grande. "Somos 54 agentes", afirmou o subinspetor Antenor, da GCM. Questionadas, a PM e a Secretaria de Segurança Pública não informaram o efetivo. A secretaria disse apenas que "equipes da Força Tática, do Comando de Choque e dos Batalhões de Ações Especiais" acompanharam a manifestação do Grito dos Excluídos.

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