'Tem que quebrar tudo para o Exército entrar', disse réu que STF julga hoje

O militante bolsonarista Matheus Lima de Carvalho Lázaro, 24, afirmou no dia 8 de janeiro que era preciso "quebrar tudo" no prédio do Congresso, de forma que o Exército entrasse para "tomar o poder". Lima é um dos quatro réus que serão julgados hoje pelo STF pelos atos golpistas na Praça dos Três Poderes.

O que aconteceu

Matheus Lima enviou mensagens à esposa grávida em Apucarana (PR), onde mora, durante a invasão ao Congresso. Em áudios, ele deixa claro que esperava uma intervenção golpista do Exército logo após a ocupação dos prédios pelos manifestantes.

O militante foi preso com uma faca, uma jaqueta militar e uma camiseta da seleção brasileira. Ele foi detido após os atos, na noite de 8 de janeiro, quando já estava próximo ao Palácio do Buriti, sede do governo do DF, a 5 km da Praça dos Três Poderes. E não foi solto até o momento.

Estes áudios não fazem parte da denúncia da PGR (Procuradoria-geral da República) contra Lima. O material aparece em um laudo da Polícia Civil do Distrito Federal que foi juntado ao processo, mas a PGR não usou as informações na acusação.

A PGR afirma, em nota enviada ao UOL, que as mensagens ainda poderão ser usadas nessa ação penal. Segundo o órgão, o laudo policial só foi juntado aos autos depois que a denúncia já havia sido apresentada ao STF, no final de fevereiro.

O que diz a defesa

A DPU (Defensoria Pública da União), que representa o réu, não comentou detalhes da denúncia. O bolsonarista, que informou à polícia ser entregador, não tem advogados particulares no caso.

Na ação, a DPU pediu que ele seja absolvido. Para o órgão, as mensagens que Lima enviou à esposa eram "apenas uma manifestação de cunho privado em seu círculo mais íntimo da vida privada" e que "não havia intenção de divulgar ou fomentar qualquer ação contra o Estado".

"Tem que quebrar tudo, para ter guerra"

À polícia, Lima se definiu como "bolsonarista e nacionalista". Em depoimento logo após a prisão, ele confessou que invadiu o Congresso e filmou colegas jogando pedras em uma vidraça, mas negou ter participado diretamente da depredação.

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O laudo policial mostra que Lima se preparava para a invasão desde a manhã do dia 8. Pouco após as 10h, ele informou à esposa que iria "adiantar o almoço" no acampamento bolsonarista em Brasília para seguir com seu grupo à Praça dos Três Poderes.

Ao longo da tarde, Lima enviou fotos e vídeos que o mostravam dentro do Congresso e em frente ao prédio. Pouco depois das 16h, a esposa mandou áudios se dizendo preocupada com os atos de vandalismo e a chegada da polícia ao local.

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Segundo mostram as mensagens, Lima esperava a entrada do Exército nos prédios. Mesmo após sair do Congresso e voltar à Praça dos Três Poderes, ele continuou afirmando à esposa que a situação se resolveria assim que os militares agissem.

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O bolsonarista acreditava que os militares ficariam do lado dos manifestantes. Pouco antes das 17h, ele continuava afirmando à esposa que "tem que chegar o povo do Exército", mas até aquele momento ainda não havia chegado ninguém.

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Segundo o laudo, Lima ligou para a esposa pela última vez às 19h24, ainda antes de ser detido. E não respondeu mensagens que ela mandou a partir das 21h. Ele continua preso hoje, mais de oito meses depois.

STF tende a condenar os réus

A tendência entre os ministros é de condenar os quatro réus, segundo apurou o UOL. Eles são os primeiros a serem julgados pela Corte, de um total de 1.390 pessoas denunciadas pela invasão.

Os quatro réus respondem por cinco crimes: associação criminosa armada; abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

Esses quatro estão entre 236 pessoas denunciadas como "executores" dos atos, segundo a classificação da PGR, e foram presos em flagrante em 8 de janeiro. Os outros 1.154 acusados, que foram presos só no dia seguinte no QG bolsonarista, foram denunciados como "instigadores" dos atos e respondem por crimes mais brandos do que os executores.

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As defesas alegam, de maneira geral, que as denúncias da PGR são genéricas e não individualizam a conduta de cada manifestante. O órgão rebate afirmando que não interessa se uma pessoa quebrou algo específico ou não, porque todos contribuíram para o resultado final.

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