Deputado falta ao enterro do pai para presidir votação contra casamento gay
Um deputado federal faltou ao enterro do próprio pai para estar na sessão da Câmara dos Deputados que discute o fim do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O que aconteceu:
O deputado federal Fernando Rodolfo (PL) não foi ao enterro do pai em Pernambuco para presidir a Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família na terça-feira (19).
Ele compareceu ao velório na segunda (18), mas voltou para Brasília. Carlos Fernando dos Santos morreu aos 66 anos. O sepultamento aconteceu em Garanhuns, interior de Pernambuco.
Ao UOL, o deputado Fernando Rodolfo disse que "de consciência tranquila, e tendo prestado as devidas homenagens, segui para Brasília para conduzir os trabalhos da comissão".
De forma desrespeitosa, e sobretudo desonesta, tenho sido atacado por pessoas e grupos que não têm conhecimento de minha vida e das humilhações que já passei. O que está em questão não é o falecimento do meu pai, e sim a minha postura como presidente da comissão.
Deputado federal Fernando Rodolfo
Em nota, o parlamentar afirmou que tem sido "perseguido por setores da sociedade e da imprensa" por ter pautado um projeto de lei que trata sobre o casamento homoafetivo na Comissão da Família, presidida por ele.
"Quem me conhece sabe os meus valores e a responsabilidade que tenho em tudo o que assumo, tanto é que tive a confiança do meu partido para exercer tal função. Aceito as críticas e estou pronto para o debate. No entanto, tudo tem um limite", destacou.
A bem da verdade, conheci o meu pai quando tinha 13 anos de idade e nunca compartilhamos de qualquer proximidade familiar. Porém, quando soube do seu estado de saúde, o procurei e levei minha solidariedade. Nesta última semana, ao tomar conhecimento da sua internação, cancelei minhas atividades em Brasília e me ausentei das votações no plenário para acompanhar de perto seu estado de saúde ficando ao seu lado até o último dia de vida e no dia do falecimento, estive presente em seu velório até a madrugada.
Deputado federal Fernando Rodolfo
"Só quem teve a experiência da ausência paterna sabe o que significa a falta de um pai para uma criança ou um adolescente. Mas não quero expor aqui um problema de caráter estritamente pessoal. Essa ferida é minha e não acho correto compartilhar essa dor com mais ninguém. Devo dizer que não é justo, não é correto tentar associar uma relação difícil entre pai e filho com minha atuação parlamentar", afirmou.
Sessão foi adiada
Os deputados discutem um PL que proíbe o casamento homoafetivo, mas a sessão foi marcada por troca de ofensas entre parlamentares e não foi votada. A análise foi adiada para a próxima semana.
A proposta estabelece que nenhuma relação entre casais homossexuais pode equiparar-se ao casamento ou à entidade familiar. Caso venha a ser transformada em lei, ela não teria o poder de anular casamentos anteriores.
Os conservadores, que são a maioria no colegiado, aceitaram fazer uma audiência pública na próxima terça-feira (26). Já a base se comprometeu a votar a proposta na quarta-feira (27) sem novas obstruções.
Em 2011, o STF reconheceu, por unanimidade, a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Por mais que o casamento entre pessoas LGBTQIA+ não seja assegurado por lei, a decisão da Corte garante que esses casais tenham os mesmos direitos assegurados para heterossexuais.
Em 2013, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) obrigou que todos os cartórios do Brasil habilitassem e celebrassem o casamento civil entre pessoas do mesmo gênero.
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