Toffoli vota contra o marco temporal para terras indígenas; placar é 5 a 2

O ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), votou contra o marco temporal para demarcação de terras indígenas. O julgamento foi retomado hoje, eToffoli afirmou que acompanha a ala aberta pelo relator, Edson Fachin, contrário à tese, levando o placar a 5 a 2.

O julgamento foi suspenso após o voto de Toffoli — único a votar nesta sessão. A discussão será retomada amanhã com o voto do ministro Luiz Fux.

Entenda o julgamento

A tese do marco temporal estabelece que povos indígenas só podem reivindicar as terras que ocupavam na promulgação da Constituição, em outubro de 1988. O marco é criticado por lideranças indígenas, que veem nele a validação de invasões de terras. Ruralistas, por outor lado, alegam que a norma garante segurança jurídica.

Em seu voto, Toffoli disse que tema é "extremamente complexo" e que se trata de um julgamento de uma "situação histórica".

Estamos a julgar não situações concretas, estamos aqui julgando o destino dos povos originários do nosso país. É disto que se trata.
Dias Toffoli, ministro do STF

Ministros divergem sobre indenizações

Com a posição de Toffoli, o Supremo está a um voto de formar maioria contra o marco temporal. Neste sentido votaram os ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Roberto Barroso.

No entanto, os ministros ainda possuem divergências sobre a possibilidade de indenizações a proprietários ocupavam terras de boa-fé.

Fachin defendeu que a indenização deve ser somente sobre as benfeitorias feitas no local.

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Moraes acompanhou o colega, mas propôs indenizar o proprietário de terra localizada em território indígena que tenham ocupado o espaço de boa-fé. Neste caso, o valor da indenização seria sobre a terra e benfeitorias no local.

O ministro também sugeriu que, em situações em que não for possível a desapropriação, como cidades ocupadas em territórios indígenas, por exemplo, a União poderá indenizar as comunidades originárias concedendo território equivalente ao ocupado.

A proposta de Moraes é criticada por lideranças indígenas por fixar uma indenização prévia à demarcação - o que poderia atrasar o processo. A AGU também demonstrou temor com o voto do ministro em razão do risco financeiro aos cofres do governo.

Cristiano Zanin, por sua vez, defendeu que a responsabilidade de indenização não caberá somente à União mas também a estados e municípios que tenham promovido a titulação indevida. Zanin propôs ainda que, em casos de indenização, o processo deve ser feito de forma separada ao processo de demarcação. Toffoli acompanhou o colega.

Em seu voto Barroso divergiu de Alexandre de Moraes, afirmando que este não é o momento ideal para se discutir indenizações. Mesmo assim, considerou que, se vencido neste ponto, propõe que a indenização a ser paga ao proprietário de terra não deve ser prévia, uma vez que a medida impossibilitaria a demarcação.

Indígenas assistem do gramado do STF ao julgamento da validade do marco temporal para reservas
Indígenas assistem do gramado do STF ao julgamento da validade do marco temporal para reservas Imagem: LEO BAHIA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
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Indicados por Bolsonaro defendem marco temporal

Em agosto, André Mendonça disse que a tese do marco temporal é um "insubstituível referencial" para a demarcação, além de um critério objetivo que "imuniza" riscos de conflitos e garante segurança jurídica. A posição é semelhante à adotada por Nunes Marques.

Mendonça ainda propôs que o usufruto dos indígenas sobre o território não deve se sobrepor aos interesses da política de defesa nacional, como instalações de bases, unidades e postos militares, além de expansão da malha viária. A implementação desses projetos, de acordo com o ministro, poderia ser ser feita "independentemente de consulta às comunidades indígenas envolvidas".

Não se trata de negar as atrocidades cometidas, mas antes compreender que o olhar do passado deve ter a perspectiva, a possibilidade de uma reconstrução do presente e do futuro.
André Mendonça

Decisão do STF terá repercussão geral

A decisão do Supremo no caso servirá para solucionar disputas judiciais sobre o tema em todas as instâncias do país. Há 226 processos parados aguardando a solução da Corte. A discussão opõe ruralistas e mais de 170 povos indígenas, que criticam a tese e defendem a sua derrubada.

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O caso específico envolve uma disputa entre o governo de Santa Catarina e indígenas do povo xokleng, que reivindicam um território na região central do estado. Em janeiro de 2009, cerca de cem deles ocuparam uma área onde hoje está a reserva biológica do Sassafrás, uma área de proteção ambiental. O governo pediu a reintegração de posse, e obteve em primeira instância, mas a Funai recorreu, e o caso chegou ao Supremo em 2016.

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