Barroso diz não ver crise com Congresso e pauta sistema prisional no STF

O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou nesta sexta-feira (29) que pretende priorizar a análise sobre o sistema prisional em sua primeira sessão a frente da Corte, na próxima terça-feira (3).

O que ele disse

Barroso ressaltou que há 300 processos na fila, mas que decidiu "enfrentar uma questão espinhosa e importante" como primeira pauta. "Certamente planejo divulgar a pauta com antecedência. Hoje é meu primeiro dia, portanto terei uma reunião", adiantou.

Temos 300 processos na fila, vou fazer uma seleção adequada. A única coisa que já defini, é que vou começar a gestão enfrentando uma questão espinhosa e importante, que é a prisional. De modo que possivelmente, na terça-feira, essa vai ser a primeira discussão que vamos fazer.
Luís Roberto Barroso, presidente do STF

O ministro disse também não haver problema entre o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. "Eu pretendo dialogar com o Congresso de forma respeitosa e institucional como deve ser", disse.

"Sinceramente, não vejo crise. O que existe, como em qualquer democracia, é a necessidade de relações institucionais fundadas no diálogo e na boa-fé e não tenho dúvida que acontecerá", afirmou

Ressaltou ainda que a descriminalização ou não das drogas compete ao Congresso e que o STF apenas debate "um dispositivo do Código Penal relativo ao porte para consumo pessoal". "O Congresso despenalizou, deixou de prever a pena de prisão para o usuário. O Supremo não está mexendo nisso, e o que não se tem compreendido adequadamente é o que o STF está fazendo", disse.

"O que o STF está fazendo é considerar qual quantidade será considerada porte e qual será considerada tráfico, e isso é competência do Supremo porque quem prende é o juiz. Polícia pode prender em flagrante, mas tem que submeter a um juiz", destacou.

Forças Armadas

Barroso avaliou como "perfeitamente razoável" a decisão do TSE de retirar as Forças Armadas do rol de entidades fiscalizadoras das urnas.

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Foi na gestão do ministro como presidente da Corte Eleitoral que os militares entraram na comissão de transparência e iniciaram diversos questionamentos às urnas, alimentando os ataques proferidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

Para Barroso, a ideia do convite era visto como uma forma de diálogo e dar mais publicidade ao processo eleitoral. O processo, porém, não teria ido como esperado.

"Lamentavelmente as coisas não correram bem ali, porque o desejo era que se colaborasse para a segurança e transparência, mas seguindo orientações do comandante-chefe, trabalharam para levantar desconfianças", criticou o ministro.

Porém o relatório final [das Forças Armadas] constatou que não houve fraudes, porque não existem fraudes
Luís Roberto Barroso

Ações do 8 de Janeiro e mudanças no STF

O presidente do STF também evitou comentar sobre a indicação de Lula (PT) para a vaga aberta com a saída de Rosa Weber, mas destacou que os três homens cotados - Flávio Dino, Jorge Messias e Bruno Dantas - detém "qualidade técnica" para a Corte.

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Mas todos sabem que defendo a feminização dos tribunais
Luís Roberto Barroso

Ao ser questionado sobre os julgamentos dos demais réus dos atos golpistas do 8 de janeiro estarem sendo realizados no plenário virtual, Barroso minimizou e disse que quem decide o colegiado é o relator, no caso, Alexandre de Moraes.

A OAB pediu ao Supremo que os casos fossem discutidos presencialmente, como ocorreram com as três primeiras ações, mas a ministra Rosa Weber negou a solicitação.

"Acho que a OAB está no papel dela. Às vezes as instituições têm papeis diferentes, mas acho que isso não interfere no direito de defesa", afirmou Barroso.

O ministro também afirmou que estuda uma mudança regimental que retire o julgamento de ações penais do plenário para as duas turmas do STF — colegiados menores compostos por cinco ministros cada, e no qual o presidente não participa das discussões.

"As ações penais elas tomam muito tempo do plenário e o plenário no geral deve ser reservado às ações de impacto coletivo, mais do que para as discussões individuais. As discussões individuais ficam nas turmas", explicou Barroso.

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Outra ideia aventada é fixar prazos para o STF julgar embargos de declaração — um tipo de recurso que busca esclarecer obscuridades ou contradições nas decisões do plenário. A proposta visa agilizar o julgamento destes recursos que, na visão de Barroso, acabam por procrastinar as discussões.

Novo presidente

Barroso assumiu ontem (28) a presidência do STF com um discurso conciliador com os Poderes e com ênfase em direitos sociais e equidade de gênero e raça.

Um dos maiores desafios do ministro será conciliar a relação com o Congresso, que tem se articulado para aprovar projetos de lei que contrariam decisões do STF em temas como marco temporal, descriminalização de drogas e aborto. De perfil liberal e progressista, os temas são caros ao novo presidente do STF, que já deu votos favoráveis em julgamentos sobre os três casos.

Ao lado de Lula, Barroso defendeu mais igualdade de gênero e raça no Judiciário, bandeira que já era encabeçada pela sua antecessora, Rosa Weber. Hoje, os três nomes mais cotados para a vaga da ministra que abrirá na próxima segunda-feira (2) são homens.

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Barroso assume a presidência para um mandato de dois anos (2023-2025), com o ministro Edson Fachin na vice-presidência do tribunal.

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