Josias: Gracinha do governo com 'toc toc toc' estimula falas de perseguição
A publicação do governo Lula nas redes sociais que faz alusão ao meme "toc toc toc" reforça o argumento bolsonarista de que há uma perseguição política por trás da operação da Polícia Federal que tem como alvo o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), afirmou o colunista Josias de Souza no UOL News da manhã desta segunda-feira (29).
Não há dúvida de que há relação entre uma coisa e outra. É o tipo de gracinha que é feito pelo sistema de informação do governo que não vale a pena. É um gracejo que estimula a insinuação do Bolsonaro e do bolsonarismo de que está havendo perseguição política. O governo não precisa desse tipo de gracinha para divulgar suas próprias ações.
Isso prejudica o próprio governo, porque estimula essa insinuação infundada do Bolsonaro e de seus devotos de que está havendo uma perseguição política. O que se deveria estar fazendo, nesse momento, não é gracinha, mas uma cobrança efetiva.
Estamos vivendo uma fase que não tem fim. Quando a gente tem a sensação de que chegamos ao fundo do poço, percebe que o poço não tem fundo. Essas coisas já estavam claras há muito tempo.
O que aconteceu
Campanha contra a dengue do governo federal incentiva população a receber agentes comunitários que batam à sua porta. "Não tenha medo, apenas receba-os", diz a mensagem. Em resposta, usuários riram e classificaram a publicação como um deboche a Carlos Bolsonaro.
O UOL entrou em contato com a comunicação do governo para entender o motivo da postagem hoje. Em caso de manifestação, o texto será atualizado.
O "toc, toc, toc" virou meme em 2022. Na ocasião, a então deputada federal Joice Hasselmann repetiu os sons de batida na porta, seguido de "é a Polícia Federal". À época, Joice comentava a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.
Preste atenção na identificação e nas credenciais. Os agentes de saúde devem apresentar crachá com foto, nome completo, cargo, número de registro da prefeitura e brasão do município, camiseta ou colete com a inscrição "Agente Comunitário de Saúde" e brasão municipal. pic.twitter.com/7qMkysp90q
-- Governo do Brasil (@govbr) January 29, 2024
O perfil oficial do PT Brasil também brincou com a situação. A publicação traz uma imagem com a seguinte frase: "Bom dia, Polícia Federal" e uma foto de Carlos Bolsonaro.
TOC TOC TOC PARA A FAMÍLIA BOLSONARO pic.twitter.com/1kh2igFPNY
-- PT Brasil (@ptbrasil) January 29, 2024
Entenda a operação
A PF fez buscas em uma casa em Angra dos Reis (RJ) onde estão Carlos, os irmãos Eduardo e Flávio e o pai, Jair Bolsonaro. Outro alvo da operação é Giancarlo Gomes Rodrigues, ex-assessor da Abin. A PF encontrou e apreendeu 10 celulares na casa do militar.
Segundo a PF, a busca e apreensão é para averiguar computadores, celulares e outras mídias que estavam com Carlos. A casa e o gabinete de Carlos na Câmara Municipal do Rio, além de assessores de Carlos, também foram alvos.
Investigação apura criação de "Abin Paralela"
A PF investiga se aliados de Bolsonaro na Abin usaram, de forma indevida, outras ferramentas de espionagem, além do First Mile. O software permite o monitoramento de geolocalização de celulares em tempo real. Segundo a PF, o então diretor da agência, Alexandre Ramagem, teria utilizado sua posição para "incentivar e encobrir" o uso de um programa espião.
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Quero receberOs investigadores suspeitam que Ramagem utilizou da estrutura da Abin para tentar obter provas em defesa de Flávio e Jair Renan Bolsonaro, filhos do ex-presidente, além de espionar adversários políticos do ex-mandatário, como Joice Hasselmann e Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara.
A Abin também teria sido instrumentalizada para monitoramento da promotora de Justiça responsável pelo caso da vereadora Marielle Franco. Em decisão que autorizou buscas contra Ramagem, o ministro Alexandre de Moraes disse que a postura do ex-diretor da Abin é de "natureza gravíssima".
O First Mile é um programa adquirido pela Abin que permite ao usuário rastrear dados de geolocalização de qualquer pessoa. A ferramenta permite o rastreio de até 10 mil pessoas por ano.
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