Lula ouve protestos contra novo ensino médio e rebate: 'Olho na realidade'
O presidente Lula (PT) foi recebido hoje com protestos contra o novo ensino médio em um evento de educação em Brasília e retrucou com pedido de "olho na realidade" pela militância.
O que aconteceu
O governo tem enfrentado dificuldade no debate de alteração do novo ensino médio, aprovado durante a gestão Michel Temer (MDB). As mudanças incluem redução da carga horária e retirada da obrigatoriedade de algumas disciplinas.
Delegados e estudantes aproveitaram o atraso de Lula no encerramento da Conae (Conferência Nacional da Educação) para se manifestar contra o modelo. O ministro da Educação, Camilo Santana, foi recebido com gritos de "Fora [Jorge Paulo] Lemann!", em referência ao bilionário acionista da Ambev, um dos principais financiadores privados da educação no Brasil, por meio das fundações Lemann e Estudar, e apoiador da reforma. Em resposta, o ministro elogiou a garantia de o público protestar.
Na presença de Lula, os jovens também gritaram: "Revogada a reforma [do ensino médio] ou paramos o Brasil". O novo ensino médio é amplamente criticado por especialistas da área, em especial os alinhados a esquerda, que o consideram "liberal".
É importante a gente saber que a gente tem que cobrar de olho na realidade. Porque, quando a gente pede mais dinheiro para alguma coisa, tem duas formas de ter: ou a receita cresce, ou a gente tem que tirar de outra área. E todo mundo sabe que, quando o cobertor não é tão grande, se você cobre a cabeça, você descobre o pé.
Lula, a estudantes
Em sua fala, Lula argumentou apoiadores não podem "perder de vista" a necessidade de debater com o Congresso. Ele lembrou que o governo não tem maioria e, se não houver diálogo, tudo fica mais difícil.
"É importante lembrar que nós somos minoria no Congresso Nacional, a gente não pode perder de vista", completou. "Uma coisa é o discurso que eu faço aqui, outra coisa eu olho no Congresso e não tem 120 deputados."
Lula era esperado na abertura do Conae, mas não compareceu. A cerimônia foi realizada no último domingo (28), em Brasília. Ao discursar no evento, Camilo Santana não detalhou o motivo da ausência e mandou o "abraço de Lula" aos presentes.
Novo ensino médio
Governo quer mais tempo de aulas. Na conversa com os jornalistas, Camilo disse que irá conversar com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e líderes partidários para retomar a carga horária de aula no ensino médio no projeto de lei em discussão na Casa.
Na discussão do projeto, o relator, ex-ministro Mendonça Filho (UB-PE), um dos idealizadores da proposta, baixou a carga horária mínima de 2.400 horas para 2.100 horas. Ele ainda retirou a obrigatoriedade de disciplinas, como o espanhol. Há uma interpretação de que, pelo texto, até as tradicionais disciplinas de português, matemática, história e geografia seriam opcionais.
No Brasil, 75% dos jovens de 15 anos não têm formação básica de matemática. O dado faz parte do Pisa, índice que mede a qualidade do ensino de matemática, linguagens e ciências.
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