Assessor de Janones diz à PF que fala sobre repasses era 'brincadeira'

Um dos assessores do deputado federal André Janones (Avante-MG) que teria dito em gravação que repassava parte do salário ao parlamentar afirmou que a fala se tratou de uma "brincadeira" com um colega que sempre lhe pedia dinheiro emprestado.

O que aconteceu

O depoimento de Alisson Alves Camargos foi mencionado no pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal do deputado por ser considerado "contraditório" pela Polícia Federal. Ele aparece em dois áudios conversando com Fabrício Ferreira de Oliveira, ex-assessor que deixou o gabinete de Janones e afirmou reconhecer a existência de prática de rachadinha.

Nas conversas, Alisson diz: "Não, mas é quase 5 conto que eu passo pra eles, Fabricio. Eu tiro 9 mil... Nem 9 mil eu não tô tirando". Fabrício questiona se seriam então repasses de R$ 4 mil. Alisson completa: "Mais de 4 mil, Fabrício".

À Polícia Federal, Alisson negou que tenha repassado qualquer quantia a Janones e rejeitou a suspeita de prática de rachadinha no gabinete. Questionado sobre a fala, respondeu que Fabrício era "meio desequilibrado" e "vivia fazendo intriga".

QUE FABRÍCIO vivia pedindo dinheiro emprestado para o declarante, e que por isso o declarante falava para FABRÍCIO que devolvia dinheiro para o parlamentar; QUE assim tinha uma desculpa para não emprestar dinheiro para FABRÍCIO.
Trecho do depoimento de Alisson Alves Camargos para a PF

Alisson também disse que, ao questionar Fabrício no áudio se ele estava sendo gravado, afirmou que se tratava de uma "brincadeira" entre eles. "Eles sempre brincavam dessa forma", alegou à PF.

Contradição sobre saques em dinheiro vivo

Chamou a atenção da PF, porém, que, apesar de negar repassar valores a Janones, Alisson admite que em "alguns meses" sacou cerca de R$ 4.000 em espécie. Segundo o assessor, o valor seria para pagar contas de água, energia e aluguel.

Alisson afirmou que não se lembrava o motivo de não ter usado transferências bancárias. Antes, ele havia dito que tinha o costume de realizar saques em espécie por não ser "muito ligado a essas modernidades" de transferências eletrônicas.

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Questionado se por mês sacava mais de 4 mil reais, afirmou QUE não se recorda; QUE alguns meses sim, outros não; QUE sacava em espécie para pagar contas de energia, água, aluguel; Questionado o porquê não utilizava transferência bancária, afirmou QUE não se lembra; QUE não possui o contrato de aluguel da época; QUE em cidade pequena não pactuam contratos, que tudo ocorre na confiança; Questionado sobre como era feito o pagamento de energia e água em espécie, o declarante afirmou QUE sacava e dava o dinheiro para sua mãe pagar ou pagava em lotérica.
Trecho do depoimento de Alisson Alves Camargos para a PF

Outra contradição foi a fala de Alisson para Fabrício em que ele diz que "faz dois meses que não faço mais". Para a PF, se a fala de supostos repasses eram desculpas para não emprestar dinheiro para Fabrício, não faria sentido dizer isso para o colega. "Questionado sobre a contradição entre falar que tinha dois meses que não devolvia dinheiro mais, sendo que dava como desculpa para FABRÍCIO o fato de estar devolvendo dinheiro para não emprestar para ele, afirmou QUE nessa época FABRÍCIO não estava pedindo mais", registra o trecho do depoimento.

Ao pedir a quebra de sigilo de Janones e dos assessores, a PF mencionou essas contradições, afirmando que elas demonstram a necessidade de aprofundamento das investigações.

Embora os assessores neguem envolvimento no esquema de 'rachadinha', as discrepâncias em seus depoimentos evidenciam a necessidade de um aprofundamento nas investigações. Afinal, é crucial considerar que todos os assessores investigados ainda mantêm vínculos com o DEPUTADO FEDERAL ANDRÉ JANONES, dependendo de seus cargos ou para a sua sobrevivência política ou para a sua subsistência.
Trecho da representação da PF ao STF

Janones fala em 'estranheza'

Em nota divulgada nas redes sociais, Janones afirmou que o pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal "causa estranheza". "Mais estranho ainda é apontarem como 'suspeito' um depósito feito quando nenhum dos assessores investigados trabalhava mais em meu gabinete. Como eles devolviam salário três anos após serem exonerados?", questionou.

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O deputado disse que segue "absolutamente confiante" de que será absolvido. "Eu não devo, quem deve são os Bolsonaros, que recorreram até a última instância para não terem seus sigilos quebrados, e até hoje não justificaram como conseguiram comprar 70 imóveis em dinheiro vivo."

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