Quem são os generais 4 estrelas aliados de Bolsonaro que foram alvos da PF
A Polícia Federal deflagrou na manhã de hoje uma operação que mirou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e militares do alto escalão do Exército que atuaram em seu governo. Entre eles estão ao menos quatro generais de quatro estrelas, hoje na reserva. Três deles foram ministros do ex-presidente.
General Walter Braga Netto
Braga Netto era um dos mais influentes ministros de Bolsonaro (PL). Ele ocupou a Casa Civil (2020-2021) antes de assumir o Ministério da Defesa. Em meados de 2022, foi indicado à vaga de candidato a vice na chapa de reeleição de Bolsonaro.
Ainda na Defesa, o general pressionou para punir membros do Exército que se recusavam a aderir ao golpe. O relatório da PF transcreve diálogos do general com o capitão da reserva Ailton Gonçalves Moraes Barros em que criticam outro general por "omissão e indecisão" em relação ao golpe, o que "não cabe a um combatente".
Em resposta, Barros sugere pressionar o general indeciso a aderir ao golpe. Ou "vamos oferecer a cabeça dele aos leões", escreve. "Braga Netto concorda e dá a ordem", diz a PF: "Oferece a cabeça dele. Cagão."
Em dezembro de 2022, o general enviou outra mensagem a Barros. Ele pediu ao capitão reformado que atacasse um tenente-brigadeiro "a quem adjetivou de 'traidor da pátria' por possivelmente discordar das manobras golpistas, e elogiar o Almirante-de-Esquadra Almir Garnier Santos", que aderiu ao movimento pelo golpe, escreve a PF.
Quando assumiu a Defesa, Braga Netto provocou uma crise nas Forças Armadas. Conhecido como um "cumpridor de missões", ele foi convidado por Bolsonaro para, em 2021, substituir o conciliador Fernando Azevedo e Silva no Ministério da Defesa. A troca de titulares da pasta gerou insatisfação, ao ponto de a cúpula das Forças Armadas entregar seus postos.
Já no cargo, Braga Netto pressionou pela adoção do voto impresso no Brasil. Em julho daquele ano, ele fez chegar ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o recado de que, sem voto impresso, não haveria eleições em 2022.
Quando Bolsonaro decidiu se reeleger, escolheu o general para seu vice. Braga Netto acabou condenado com Bolsonaro pelo TSE por uso eleitoral das comemorações do Bicentenário da Independência. Além da inelegibilidade por oito anos, ele foi condenado a pagar multa de R$ 212 mil.
A condenação prejudicou a intenção de o PL lançar Braga Netto à Prefeitura do Rio este ano. Ele disputava a vaga com o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que também foi alvo de operação da PF no dia 25 de janeiro.
Braga Netto já ocupou alguns dos cargos mais importantes do Exército. Antes de chegar ao governo, ele comandou a intervenção federal do governo Michel Temer (MDB) na segurança pública do Rio entre 2018 e 2019. Netto também foi responsável pela segurança dos Jogos Olímpicos do Brasil em 2016.
Augusto Heleno
O general Augusto Heleno foi ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência) no governo do presidente Jair Bolsonaro. Os dois se conheceram no final dos anos 1970, quando Heleno era instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio.
O general é apontado como integrante do "Núcleo de Inteligência Paralela" do governo Bolsonaro. O grupo tinha como missão coletar informações que auxiliassem Bolsonaro "na consumação do Golpe de Estado", diz a PF.
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Quero receberOs membros monitoraram o itinerário, deslocamento e localização do ministro Alexandre de Moraes (STF). Objetivo era "captura e detenção nas primeiras horas que se seguissem à assinatura do decreto de golpe de Estado", segundo o relatório.
Em uma reunião com Bolsonaro em julho de 2022, Heleno sugeriu "infiltrar" agentes da Abin em campanhas eleitorais. "Nesse momento", diz a PF, "o então presidente (...) interrompe a fala do ministro, determinando que ele não prossiga com sua observação e que, posteriormente, 'conversem em particular' sobre o que a Abin estaria fazendo".
Mesmo assim, o ministro continua:
O que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições.
Augusto Heleno
E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas.
Augusto Heleno
Alvo das últimas operações da PF, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) estava subordinada ao GSI, de Heleno. Um dos principais alvos da PF, o deputado Alexandre Ramagem chefiava a Abin, que supostamente era utilizada pelo governo Bolsonaro para vigiar os desafetos políticos e membros do STF.
Antes de chegar ao governo, Heleno ocupou outros cargos de destaque. Ele foi o primeiro comandante da Força de Paz das Nações Unidas no Haiti (2004-2005), quando liderou 6.250 homens.
Ele foi influente na ditadura, ligado à "linha dura" do regime. No governo Geisel (1974-1979), ele respondia ao general Sylvio Frota, ministro do Exército que refutava a "abertura lenta, gradual e segura" do Brasil à democracia.
Paulo Sérgio Nogueira
O general Nogueira virou ministro da Defesa quando Braga Netto se lançou como vice na chapa de Bolsonaro. Homem de confiança do ex-presidente, ele já tinha sido nomeado Comandante do Exército por Bolsonaro em março de 2021.
Segundo as investigações, Nogueira era membro do Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência e Apoio a Outros Núcleos no esquema golpista. A função do grupo era utilizar da alta patente "para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações a serem adotadas para consumação do Golpe de Estado", escreve a PF.
Nessas reuniões, Nogueira tratava o TSE como inimigo.
Vou falar aqui muito claro. Senhores! A comissão [eleitoral do TSE] é pra inglês ver. Nunca essa comissão sentou numa mesa e discutiu uma proposta. É retórica, discurso, ataque à Democracia.
Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa
A PF também atribui a ele "a gravíssima manipulação do relatório técnico das Forças Armadas sobre o Sistema Eletrônico de Votação".
A divulgação de que as Forças Armadas não teriam encontrado nenhuma vulnerabilidade poderia (...) diminuir a amplificação das notícias fraudulentas disseminadas pelo grupo criminoso.
Relatório da PF
O general "assediou" o TSE durante todo o ano eleitoral, disse o ministro do STF Gilmar Mendes. Heleno pressionava o tribunal eleitoral sobre a preparação da eleição de 2022, segundo o magistrado.
O TSE sofreu um assédio, não da população ou dos torcedores para a eleição de Bolsonaro, mas do ministro da Defesa, que todo dia pela manhã escrevia uma carta ao ministro (Edson) Fachin, e o ministro Fachin respondia à tarde.
Gilmar Mendes em seminário no Mackenzie
Nogueira ingressou na carreira militar em 1974 por meio da Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Em seguida, ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras.
Já no cargo de general, atuou em Campo Grande, Tefé e Manaus, onde foi Chefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia. Foi promovido a general de divisão, foi Subchefe de Assuntos Internacionais e Subchefe de Organismos Americanos do Ministério da Defesa e Comandante Logístico do Hospital das Forças Armadas.
Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira
Apesar de não ter sido ministro de Bolsonaro, Oliveira completa o grupo de generais de quatro estrelas que participou do plano para a consumação de um golpe de Estado, segundo a PF. Uma mensagem no celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, indica que Oliveira consentiu em participar de um golpe desde que Bolsonaro assinasse a ordem. Comandante de Operações Terrestres do Exército, ele cuidaria das tropas durante o levante.
A PF afirma que Oliveira tentou dar uma espécie de golpe no Exército. Sua intenção era colocar sob seu comando as organizações de elite, como as Forças Especiais do Exército.
Caberiam às Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos) a missão de efetuar a prisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal ALEXANDRE DE MORAES assim que o decreto presidencial fosse assinado.
Relatório da PF
Bolsonaro buscou apoio de Oliveira enquanto escrevia o decreto de golpe. Mensagens encaminhadas por Mauro Cid após delação "sinalizam que o então presidente (...) estava redigindo e ajustando o Decreto e já buscando o respaldo do general ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA", diz o relatório.
Oliveira foi cogitado para assumir o Comando do Exército em 2022. O escolhido acabou sendo o general Júlio Cesar de Arruda, que continuou no cargo quando o presidente Lula foi eleito, em outubro de 2022. Mas caiu após os atos golpistas de 8 de janeiro.
Ele estudou na Academia Militar das Agulhas Negras, onde foi instrutor. Dentre suas principais funções no Exército, comandou a 13ª Brigada de Infantaria Motorizada, em Cuiabá (MT), foi diretor de Educação Técnica Militar, no Rio, e comandante da 12ª Região Militar, em Manaus (AM).
Os generais foram procurados pelo UOL, mas não responderam até a publicação desta reportagem.
UOL revelou que Bolsonaro recebeu minuta, segundo Cid
Em setembro de 2023, UOL revelou que Mauro Cid contou, em sua delação premiada, que Bolsonaro recebeu uma minuta de golpe preparada pelo então assessor internacional Filipe Martins, logo após perder as eleições para Lula.
Segundo a reportagem do colunista Aguirre Talento, na ocasião Cid também revelou aos investigadores que Bolsonaro consultou os comandantes das Forças Armadas sobre plano de golpe de Estado. A trama teve apoio do comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, e encontrou resistência dos comandantes da Aeronáutica e do Exército.
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