Bolsonaro ironiza tortura sofrida por Dilma em vídeo que embasou ação da PF

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) minimiza em tom de deboche a tortura sofrida pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em vídeo da reunião que serviu de base para a operação da Polícia Federal contra grupo que teria tentado um golpe de Estado. O presidente nega ter participado de um plano para dar um golpe.

O que aconteceu

Bolsonaro falava sobre o destino de um militar em Cuba. Ele narrou a história do general Arnaldo Ochoa, que foi fuzilado e perdeu as honrarias conquistadas durante sua carreira depois que foi ligado ao narcotráfico. Ele negou saber do envolvimento criminoso, mas admitiu sua culpa e a "traição à pátria", convencido de que deveria pagar com sua morte. Sua execução foi anunciada na TV em julho de 1989.

Com elogio ao general, ele fez pouco caso das agressões a Dilma. A ex-presidente lutou contra o regime militar, foi presa e foi torturada nos porões da ditadura.

Não tem a fodona aí de uma ex-presidente aí... ah fui torturada por 30 dias. Ele [general Ochoa] sabe o que é a tortura.
Jair Bolsonaro durante reunião ministerial

Agressões a vítimas da ditadura

Não foi a primeira vez que Bolsonaro ofendeu Dilma. Enquanto deputado federal, ele dedicou seu voto a favor do impeachment da ex-presidente ao coronel Carlos Brilhante Ustra, oficial que torturou a petista.

Dilma sempre rebateu as provocações de Bolsonaro, tanto com declarações como com ações judiciais. "Como não respeita nenhum limite imposto pela educação e pela civilidade, uma exigência a qualquer político, e mais ainda a um presidente da República, desmoraliza mais uma vez o cargo que ocupa. Mostra-se indigno ao tratar com desrespeito e com deboche o fato de eu ter sido presa ilegalmente e torturada pela ditadura militar", disse a ex-presidente. Ela recebeu apoio massivo de outros políticos, de diferentes esferas partidárias, após os ataques de Bolsonaro.

Bolsonaro é um antigo defensor do regime militar e várias vezes atacou vítimas da ditadura. O comportamento perdurou mesmo quando ele estava na Presidência da República.

Em julho de 2019, por exemplo, ele usou um desaparecimento na ditadura para ofender o então presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. O pai dele desapareceu enquanto combatia o regime militar. O então presidente disse: "Ele não vai querer ouvir 'a verdade'".

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Outra vítima foi a jornalista Miriam Leitão. Bolsonaro declarou, sem apresentar provas, que o relato de tortura sofrido por ela seria falso em um evento com jornalistas em 2019. "Conta um drama todo, mentiroso, que teria sido torturada, sofreu abuso etc. Mentira. Mentira."

Míriam Leitão foi presa e torturada durante a ditadura militar. Ela relata que em uma das sessões, quando estava grávida, foi trancada em uma sala junto com uma jiboia. "Eu e a cobra. Eu e o medo", relata ela, com riqueza de detalhes sobre o trauma após ter sido atacada por outros bolsonaristas, entre eles Eduardo, filho de Bolsonaro, e Hamilton Mourão, hoje senador pelo Republicanos. Também houve um intenso repúdio às falas.

Segundo o relatório "Brasil: Nunca Mais", pelo menos 1.918 prisioneiros políticos atestaram ter sido torturados entre 1964 e 1979. O documento descreve 283 diferentes formas de tortura utilizadas na época pelos órgãos de segurança.

A Comissão Nacional da Verdade reconheceu 434 mortes e desaparecimentos políticos entre 1964 e 1988, dos quais a maioria ocorreu no período do regime.

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