Pressionado, Nunes diz que deve ir a ato de Bolsonaro e fala em 'gratidão'

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse que deve participar do ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no dia 25 de fevereiro.

O que aconteceu

"A tendência é que eu vá", disse Nunes ao lado do governador do estado paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O prefeito participou hoje de evento de entrega de moradias com o governador na comunidade de Heliópolis, zona sul da capital.

Nunes começou sua declaração citando uma frase de Castro Alves. "A praça é do povo [como] o céu é do condor" e disse que "a verdadeira democracia é ampla". "Algumas pessoas parecem querer transformar um ato que é da democracia em algo que não seja", afirmou o prefeito.

Ele disse que tem uma "gratidão muito grande" pelo ex-presidente e que sempre foi atendido de forma "cordial". Nunes lembrou da negociação que perdoou a dívida da prefeitura envolvendo o Campo de Marte, na zona norte da capital. "[Bolsonaro] deve me apoiar, portanto, preciso ser solidário e parceiro", disse Nunes.

Tarcísio já confirmou presença no ato. "Essa será uma manifestação pacífica de apoio ao [ex-]presidente, e eu vou estar ao lado dele, como sempre estive", disse o governador à CNN Brasil na quarta-feira (14).

A confirmação do governador, inclusive, pressionou Nunes a tomar uma decisão para participar do ato, afirmam fontes ouvidas pelo UOL. Frequentemente, eles são cobrados pelos bolsonaristas a se posicionarem publicamente em defesa do ex-presidente.

Prefeito e governador têm intensificado agendas conjuntas. Depois de sinalizar que não apoiaria Nunes sem o aval de Bolsonaro, Tarcísio embarcou de vez na campanha do emedebista. Só em janeiro, os dois estiveram juntos em oito agendas. Nos encontros, ambos têm ressaltado a importância do alinhamento entre governo e prefeitura, num contraponto ao pré-candidato e deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). No evento de hoje, os dois se chamaram de "irmãos".

'Você está incriminando ele?'

Bolsonaro convocou o ato na avenida Paulista dizendo que vai se defender das acusações recebidas nos últimos meses. Ele pediu para que seus apoiadores usem verde e amarelo, mas não levem cartazes "contra quem quer que seja".

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O ex-presidente é investigado pela Polícia Federal por participação em suposta organização criminosa para mantê-lo na Presidência. Ele teve seu passaporte apreendido pela PF na quinta-feira (8) e, quatro dias depois, divulgou nas redes sociais um vídeo convocando ato na Paulista.

Questionado se achava contraditório Bolsonaro chamar o ato em defesa da democracia após a operação da PF, Nunes perguntou "você já está incriminando ele" e citou o Artigo 5º da Constituição. O texto diz, entre outras coisas, que "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado [quando não há mais possibilidade de recorrer] de sentença penal condenatória".

Nunes não respondeu se viu o vídeo da reunião do então presidente Bolsonaro com seus ministros antes das eleições. O encontro, de teor golpista, ajudou a embasar a operação da PF.

Quando o presidente Bolsonaro faz um vídeo dele mesmo dizendo que na Paulista vai colocar sua defesa de forma democrática, eu fiquei muito feliz como a forma como ele colocou pedindo para não levar faixas ofendendo ninguém.
Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo

Desaconselhado por aliados e MDB

Aliados desaconselham Nunes a participar da manifestação. Eles temem que a manifestação não tenha tom democrático e de que os impactos negativos de sua presença seriam difíceis de serem contornados.

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Pessoas próximas e fontes do MDB Nacional dizem que a presença de Nunes no ato não trará impactos positivos para a pré-campanha. "Não é o MDB que apoia o PL, e sim o PL que está apoiando o MDB", disse uma fonte do partido.

Participar da manifestação, segundo aliados, pode arranhar a imagem do prefeito e dar munição aos adversários. Boulos tem tentado vincular Nunes à extrema-direita e dito que derrotá-lo nas eleições será "derrotar o bolsonarismo".

"Tudo que Boulos quer é um confronto ideológico", disse uma pessoa do MDB. A operação da PF já foi utilizada pelo psolista nas redes sociais para criticar a proximidade do atual prefeito com Bolsonaro.

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