SP: após 3 reuniões, Câmara decide votar CPI que mira padre Julio

A Câmara Municipal de São Paulo decidiu nesta terça (5) que levará à votação em plenário o pedido de abertura de uma CPI que mira a atuação do padre Julio Lancellotti e de ONGs que atuam na região conhecida como "cracolândia", no centro da capital paulista.

O que aconteceu

Decisão foi anunciada no Colégio de Líderes. Na reunião das principais lideranças da Casa, ficou acordado que o escopo exato da CPI será redefinido pelos vereadores até a próxima terça (13). Antes do encontro de hoje, o grupo de vereadores já havia discutido a instalação de CPI nos dias 6 e 20 de fevereiro.

Inicialmente, comissão investigaria a oferta de "alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento de dependentes químicos" por organizações na "cracolândia". Porém, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), autor da proposta de CPI, disse que pretende investigar supostos abusos sexuais cometidos pelo padre.

Padre afirma que acusações são "inverídicas". "As acusações estão imbricadas em uma rede de desinformação, que mascara eventuais interesses de setores do poder político e econômico em ceifar aquilo que é o sentido do meu sacerdócio: a luta pelos desamparados e pelo povo de rua", disse em nota ao UOL no dia 6.

CPI precisa de 28 dos 55 votos para ser instalada. A data da votação em plenária ainda não está definida. Vereadores da oposição já se mostraram contra a comissão em diversas oportunidades, por entenderem que eventuais crimes devem ser investigados pela polícia e não pela Casa — entre outros motivos.

Polícia e Ministério Público devem acompanhar CPI

A afirmação foi de Milton Leite (União Brasil), presidente da Câmara, durante o Colégio de Líderes. Na última reunião que discutiu o tema, ele disse que a acusação contra o padre é "muito grave" e "exige muita cautela e prudência".

Nova denúncia foi recebida ontem, segundo Rubinho. O vereador afirmou que recebeu em seu gabinete, na última segunda (4), mais uma suposta vítima de abuso sexual cometido pelo padre. "Não se trata nem nunca se tratou de qualquer investigação contra a Igreja Católica", disse ele durante o Colégio de Líderes.

Vereadores não acreditavam em instalação da comissão. Até o começo da tarde do dia 5, membros da Câmara não acreditavam que a CPI fosse ser instalada. Entretanto, a divulgação de uma nota pela Arquidiocese de São Paulo sobre investigações ligadas ao padre deixou o cenário incerto.

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Em janeiro, Ricardo Nunes (MDB) disse que falta de apoio na Câmara e outros fatores enterrariam a comissão. Nos bastidores, comenta-se que uma CPI liderada pela situação colocaria o prefeito na posição de "perseguidor" de quem acolhe os mais pobres. É um papel desconfortável para Nunes em ano eleitoral.

Conservadores usam vídeo para acusar padre de pedofilia. No começo de fevereiro, vieram a público imagens nas quais um homem identificado como Lancellotti (o que não foi confirmado em nenhum momento) troca mensagens pelo celular com um suposto jovem (que não aparece na gravação) e se masturba em uma chamada de vídeo. O caso foi divulgado pela revista Oeste, publicação de viés conservador.

O que diz a Câmara

Em reunião na Presidência da Câmara, face às provas apresentadas em relação ao padre Julio Lancellotti, foi definido por maioria dos líderes o prosseguimento da CPI protocolada pelo vereador Rubinho Nunes (União). Até a próxima reunião do Colégio de Líderes será definido o escopo da apuração (objeto da investigação) para, então, o pedido de CPI ser apresentado ao plenário, onde serão necessários 28 votos para aprovação. O presidente Milton Leite (União) informou que será requisitado ao Ministério Público e à Polícia Civil o acompanhamento desta CPI.

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