Revista traz delação de Cid com Bolsonaro sugerindo golpe a comandantes
A revista Veja trouxe hoje trechos da delação em que o tenente-coronel Mauro Cid disse em delação à Polícia Federal que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) consultou os três comandantes das Forças Armadas sobre a possibilidade de um golpe de estado, após derrota nas urnas. O UOL foi o primeiro veículo a noticiar o assunto presente na delação, em setembro do ano passado.
O que aconteceu
Reunião aconteceu em novembro de 2022, poucos dias depois da vitória do presidente Lula (PT), segundo o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Naquele período pós-eleições, Jair ficou recluso, relutava em aceitar a derrota enquanto, supostamente, tramava a possibilidade de um golpe se contasse com o aval dos comandantes das Forças.
Bolsonaro convocou reunião com os chefes do Exército, general Freire Gomes, da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista Junior, e da Marinha, almirante Almir Garnier. Ao chamar os comandantes para a conversa, Jair já havia aprovado uma minuta golpista, que teria sido elaborada por um de seus principais assessores, Filipe Martins, segundo Cid.
Bolsonaro teria ficado a sós com os três comandantes das Forças Armadas, mas ouviu apenas do chefe da Marinha um suposto endosso ao golpe. De acordo com o relato de Cid à PF, o general Freire Gomes lhe confessou que o almirante Garnier teria colocado suas tropas "à disposição" do então presidente.
Ao UOL, a defesa de Bolsonaro disse que não vai comentar o caso por se tratar de "uma fofoca" do advogado do tenente-coronel. A reportagem não conseguiu contato com as defesas dos ex-comandantes das Forças. O espaço segue aberto para manifestação.
Novo depoimento
Mauro Cid voltará a prestar depoimento à Polícia Federal na próxima segunda-feira (11). A oitiva foi marcada após revelações feitas pelo general Freire Gomes à própria PF em seu depoimento, quando o ex-chefe do Exército disse que Jair Bolsonaro convocou reunião para discutir proposta golpista.
Segundo a Folha de S.Paulo, o plano incluía uma minuta para reverter a eleição de Lula. Freire Gomes também teria citado o ex-presidente como o responsável pela manutenção dos acampamentos golpistas em Brasília.
Bolsonaro pediu acesso ao depoimento de Freire Gomes. Os advogados do ex-presidente dizem que é "imperioso" que a defesa tenha acesso ao conteúdo das audiências do ex-chefe do Exército e de Carlos Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica.
Depoimento melhor que delação, diz ministro
No STF, a avaliação é de que o depoimento de Freire Gomes complica Bolsonaro. Segundo o colunista do UOL Josias de Souza, um ministro da Suprema Corte disse que o ex-chefe do Exército relatou "é melhor e mais valioso do que uma delação, porque contém revelações de uma testemunha, não de um criminoso à procura de benefício judicial".
Para esse ministro, o resultado da audiência "consolidou o quadro probatório". O integrante do STF, que acompanha as investigações de perto, disse ainda que as informações prestadas por Freire Gomes deram "consistência" a provas que já eram "sólidas".
Deixe seu comentário