No Rio, Bolsonaro diz: 'Não tenho medo, desde que juízes sejam isentos'
Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo
16/03/2024 11h37Atualizada em 16/03/2024 14h03
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) compareceu hoje ao lançamento da pré-candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) à prefeitura do Rio de Janeiro.
O que aconteceu
"Não tenho medo de nenhum julgamento, desde que os juízes sejam isentos", declarou Bolsonaro. Este foi o seu primeiro evento público após a divulgação, ontem, dos depoimentos da investigação que apura uma tentativa de golpe de Estado em 2022.
Ex-presidente não mencionou a investigação por golpe. Em cerca de meia hora de discurso, ele não fez nenhuma referência direta ao inquérito que corre no STF.
Bolsonaro politizou as investigações contra Ramagem, que é alvo da PF no caso da "Abin paralela". "Curiosamente, quando ele (Ramagem) se lança candidato, o mundo cai na cabeça dele, assim como o mundo ainda cai na minha cabeça porque eu sou um paralelepípedo no sapato da esquerda."
Ramagem investigado pela PF
Ex-chefe da Abin é investigado por uso político da agência. A Polícia Federal apontou que o deputado, que chefiou a Agência Brasileira de Inteligência no governo Bolsonaro, teria buscado informações sobre políticos do Rio de Janeiro, incluindo desafetos da família Bolsonaro, mesmo após deixar o cargo.
Ramagem cutucou a PF e disse que corporação dava "orgulho". "Em 2018, fui indicado pela Polícia Federal para trabalhar diretamente com Bolsonaro. Aquela Polícia Federal que nos dava orgulho. E agora?", disse, ao público.
Ramagem é o nome do bolsonarismo para concorrer com Eduardo Paes (PSD), apoiado por Lula (PT). A disputa também conta com outros nomes, como Tarcísio Mota (PSOL). O evento ocorreu na quadra da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, na zona oeste do Rio.
Vaias ao aliado Castro
Bolsonaro foi apresentado pelo locutor com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), que chegou a ser vaiado. Gritos de "fora, Castro!" ocorreram no começo do evento. Castro voltou a ouvir vaias quando foi apresentado para discursar, mas arrancou aplausos após uma sequência de elogios a Bolsonaro. Ele lembrou que o ex-presidente ganhou na capital fluminense no primeiro e segundo turnos em 2022.
Eleitores não lotaram a quadra, mesmo após a chegada do ex-presidente. Bolsonaro chegou a pedir que as pessoas não fossem revistadas para chegarem próximas ao palco. Ele também solicitou que fossem retiradas grades que distanciavam o público do palco.
Inquérito sobre golpe impediu a presença de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, no evento. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, proibiu os investigados de manterem contato. Isso inclui Valdemar e Bolsonaro.
Comandantes implicaram Bolsonaro em tentativa de golpe
Comandantes das Forças Armadas na época confirmam intenção de Bolsonaro de dar golpe caso tivesse apoio. O ex-comandante Carlos Almeida Baptista Júnior (Aeronáutica) disse à PF que, se o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, tivesse concordado, um decreto de Estado de Sítio seria declarado para impedir a posse de Lula (PT). Leia as íntegras dos relatos prestados à PF.
Baptista Júnior relatou às autoridades que ex-comandante da Marinha colocou tropas à disposição de Bolsonaro. Ele e Freire Gomes informaram que Almir Garnier Santos concordou com as ideias propostas nas versões das minutas golpistas discutidas com o então presidente. Leia o que dizia o documento golpista.
Ex-comandante da Aeronáutica afirmou que Freire Gomes ameaçou prender Bolsonaro caso ele tentasse golpe. Segundo a Folha, além de afirmar que o então comandante do Exército tentou convencer Bolsonaro a não utilizar institutos previstos na Constituição, como GLO (Garantia da Lei e Ordem), estado de sítio e estado de defesa, o então chefe da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, disse à PF que também avisou o ex-presidente que não apoiaria uma ruptura institucional.
Relatório sobre supostas fraudes nas urnas sacramentou racha. O documento encomendado pelo PL criou esperanças de reversão do resultado de eleições. O brigadeiro e o general dizem que, a partir do surgimento do texto, o presidente passou a discutir estado de sítio e outras medidas para solucionar uma "crise" — enquanto ambos sinalizavam que Exército e Aeronáutica não apoiariam algo do tipo.
Valdemar afirmou à PF que Bolsonaro o pressionou para acionar o TSE contra as urnas eletrônicas. A ofensiva do PL no Tribunal Superior Eleitoral, com base nas supostas conclusões de um relatório contratado pelo partido, pedia para anular votos proferidos no 2º turno em 279 mil urnas eletrônicas, cerca de 59% do total usado nas eleições.