Lula lamenta morte de Delfim Netto: 'Em 2006 pedi desculpas publicamente'

O presidente Lula (PT) lamentou hoje a morte do ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento Antônio Delfim Netto, aos 96 anos.

O que aconteceu

Lula disse que por 30 anos criticou Delfim, mas pediu desculpas em 2006. "Na minha campanha em 2006, pedi desculpas publicamente porque ele foi um dos maiores defensores do que fizemos em políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei nos meus dois primeiros mandatos", afirmou o presidente, em nota divulgada horas após o falecimento de Delfim.

Delfim participou muito da elaboração das políticas econômicas daquele período [2006]. Quando o adversário político é inteligente, nos faz trabalhar para sermos mais inteligentes e competentes.
Lula, em nota oficial

"Em um curto espaço de tempo, o Brasil perdeu duas referências do debate econômico no país", declarou Lula. O petista lembrou que a economista Maria da Conceição Tavares também morreu recentemente. "Fica o legado do trabalho e pensamento dos dois, divergentes, mas ambos de grande inteligência e erudição, para ser debatido pelas futuras gerações de economistas e homens públicos."

Delfim Netto morreu na madrugada de hoje (12) aos 96 anos. Ele estava internado desde o último dia 5 no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

A assessoria de Delfim não informou a causa da morte. Em nota, diz que ele morreu "em decorrências de complicações no seu quadro de saúde".

Delfim Netto deixa filha e neto. Não haverá velório aberto, e seu enterro será restrito à família.

Biografia de Delfim Netto

Antônio Delfim Netto foi um professor, economista, político e diplomata brasileiro. Ele esteve à frente do Ministério da Fazenda durante boa parte da ditadura militar no Brasil. Implementou medidas que desencadearam o "milagre econômico" —período de amplo crescimento econômico nacional, que focaram na atração de capital externo e avanços do Produto Interno Bruto (PIB).

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Delfim ficou marcado também por ter sido um dos signatários do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), de dezembro de 1968. A norma endureceu o regime militar e permitiu a perseguição a rivais políticos do governo. Após o fim do regime ditatorial no Brasil, Delfim foi deputado federal por São Paulo por 20 anos.

Também manteve relação próxima com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda assim, sua filiação partidária passou pelo PP e MDB, à época conhecido como PMDB. Na década de 70, foi embaixador do Brasil na França por três anos.

Professor e acadêmico

A vida pública de Delfim começou em 1959, quando integrou o governo do estado de São Paulo. Mas antes de se tornar um dos principais ministros da Ditadura Militar, ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo (USP) em 1948, e logo depois de formado tornou-se professor assistente na mesma instituição.

Também foi Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEAUSP). Tornou-se professor catedrático da USP em 1963 - cargo mais alto em uma carreira docente universitária -, e foi o primeiro ex-aluno da faculdade após a regulamentação da profissão de economista a conquistar o cargo.

Na academia, esenvolveu pesquisas voltadas ao planejamento governamental e teoria do desenvolvimento econômico. Segundo a USP, Delfim defendia ideias da teoria neoclássica e era keynesianista no plano macroeconômico.

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Investigações e Lava Jato

O economista foi acusado por procuradores da República de receber propina. A suspeita recai sobre a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, depois de ter seu nome citado em delação premiada durante a Operação Lava Jato.

Como parte das investigações na Operação Buona Fortuna, Delfim teve R$ 4,4 milhões bloqueados em 2018. Assim, devolveu parte da propina total de R$ 15 milhões que teria sido destinada a ele nas obras da usina.

Ele afirmava que o valor foi recebido após consultoria para a criação do consórcio que venceu o leilão da usina.

Entrevista de Delfim Netto ao UOL em 2021

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