Mirando 2026, PT poderia ter se esforçado para se aliar a Nunes, diz Tatto

O deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP) disse que o PT poderia ter feito um esforço para se aliar ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) em sua reeleição, em entrevista ao site Intercept publicada nesta quarta-feira (30). O partido optou por apoiar Guilherme Boulos (PSOL), derrotado por Nunes no segundo turno.

O que aconteceu

Para Tatto, aceno de Nunes à esquerda geraria "situação mais confortável" para o PT em 2026. O deputado federal afirmou que, caso o movimento tivesse sido feito pelo prefeito e retribuído pelos petistas, Nunes poderia ser um aliado importante para Lula em 2026 — quando há a expectativa de que o presidente dispute a reeleição. "Mas, para isso, teríamos que ter feito um esforço, e não fizemos. Nem o próprio Ricardo Nunes fez essa movimentação porque não interessava a ele", afirmou.

"O eleitor está indo para o centro e para a direita", disse Tatto. Ele afirma que a eleição de Lula em 2022, com o apoio de uma frente ampla, é um exemplo disso e que o governo de coalizão montado pelo presidente após a vitória também.

Aliança PT-PSOL em SP deu 'recado inverso' ao eleitor, diz Tatto. Segundo ele, a tática do partido era "lançar candidatos onde tínhamos possibilidade de ganhar, e, onde não fosse possível, nos aliar ao centro pensando em 2026". Mas o apoio a Boulos em São Paulo transmitiu a mensagem oposta ao eleitorado. "O problema não é a figura do Boulos. O Boulos fez o papel dele, foi lá, se defendeu, foi bem nos debates. O problema é que o eleitor não entende isso", afirmou.

"Todos os candidatos bem-sucedidos do PT tinham um perfil um pouco mais ao centro", afirmou deputado. Para ele, a única exceção à regra foi Luiza Erundina —que ganhou em 1988 uma eleição sem segundo turno. Marta era "uma figura de televisão" e Haddad, "o tucano do PT", disse ele na entrevista.

Tatto aponta erro no discurso

Quem é da periferia sonha em morar no centro, defende Tatto. A fala se deu em resposta a uma pergunta sobre onde o deputado achava que Boulos havia errado. Para ele, o fato de o candidato se dizer "da periferia" —ainda que tenha nascido em área nobre— vai na contramão do que desejam as pessoas que vivem nessas regiões.

Força do PT vem de "capilaridade" no território, diz deputado. Para ele, a presença de petistas em associações de bairro, igrejas e sindicatos é o que garante o apoio de 30% do eleitorado ao partido.

Com avanço da direita na periferia, PT "começa a perder onde sempre ganhou". Segundo Tatto, isso aconteceu porque os conservadores não respeitaram questões como regras ambientais na disputa por esses territórios. "Eles chegam, desconsideram a questão ambiental e constroem. E o povo lá gosta disso", resumiu.

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Ele também destacou o papel das emendas parlamentares. Para o deputado, esses recursos são usados por todos os políticos para obras, posto de saúde e transporte, por exemplo, que atraem votos. Mas ele alega que a esquerda tem menos dinheiro para isso. "O valor que a direita tem é desproporcional, entendeu? O PT é o que mais tem emenda, mas na sequência tem vários outros partidos que ganham muito mais", disse.

Tatto nega que só tenha votos na zona sul de São Paulo. "A minha principal votação em todas as vezes que eu saí candidato desde 2007 é na zona leste", disse ele. "Quando o pessoal, até o Mano Brown, vai e fala: 'olha, o PT precisa voltar para a periferia, o PT precisa voltar para as quebradas', eu digo que a gente não saiu de lá. A gente vive lá, entendeu?".

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