Apoio a Marçal escanteia favorito e acirra sucessão na Câmara de SP
A perda de favoritismo do vereador Rubinho Nunes (União) na corrida pela presidência da Câmara Municipal de São Paulo — após o apoio a Pablo Marçal (PRTB) — acirrou a disputa na bancada recém-eleita, que se articula para manter o comando da Casa após a aposentadoria de Milton Leite.
O que aconteceu
Eleição na Câmara tinha desfecho previsível que foi alterado, entre outros fatores, por Marçal. Derrotado no primeiro turno, o empresário recebeu o aval de Rubinho, favorito de Leite até então para sucedê-lo na chefia da Câmara. A entrada na campanha do rival irritou o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que foi reeleito com folga, e pode fragilizar o acordo que garante ao União Brasil a presidência da Mesa Diretora.
Prefeito já sinalizou publicamente contrariedade com Rubinho. "Está vetado", disse Nunes em entrevista ao Estadão, descartando a candidatura do vereador para a eleição na Casa Legislativa em janeiro.
Dos 7 vereadores eleitos pelo União Brasil, 5 serão estreantes. São eles Amanda Vettorazzo, Adrilles Jorge, Sandra Alves, Silvão Leite e Silvinho — os três últimos eleitos com o apoio de Leite, que tem forte influência especialmente em áreas periféricas da cidade. Além de Rubinho, só Ricardo Teixeira já tem mandato pelo União. Isso dificulta a sucessão de Leite no partido, pois é consenso que o cargo não deve ser ocupado por um novato.
Situação aumenta chances de Ricardo Teixeira. Eleito em 5 das 6 vezes em que disputou vaga na Casa, ele é visto como conciliador por aliados e oposição. Teixeira foi, secretário de Mobilidade e Trânsito de Nunes entre 2020 e 2023 e é um nome de confiança de Leite, que controla o diretório municipal do União Brasil, e do próprio prefeito.
"É bom, já tem experiência", disse Nunes sobre Teixeira. Em entrevista após o segundo turno, o prefeito afirmou ser "muito difícil" para um vereador exercer a presidência da Câmara no primeiro mandato, e sugeriu que o cargo deve ser ocupado por alguém do União.
Possibilidade de oposição lançar candidatura hoje é pequena. Se o nome escolhido pela situação não for visto como radical, o mais provável é que PT, PSOL e outros partidos não o apoiem — mas não se oponham a sua vitória. Já se o vereador for alguém visto como de pouco diálogo, como Rubinho, cresce a chance desses partidos lançarem alguém para concorrer. "É inviável apoiar um nome de extrema direita", afirma uma pessoa próxima à oposição.
Dois terços da Câmara Municipal de São Paulo devem apoiar Nunes nos próximos quatro anos. A coligação do prefeito elegeu 36 dos 55 vereadores.
A equipe de Rubinho defende que seu nome é o mais cotado, embora relação com prefeito esteja enfraquecida. "O PL sinalizou que lançaria um nome, mas recuou", disse a assessoria. No último domingo (27), o vereador reafirmou em live nas redes sociais que está alinhado a Marçal e prometeu que levaria parte do plano de governo do ex-coach para a Câmara.
Quem também está de olho no posto é Amanda Vettorazzo, eleita com o apoio do deputado federal Kim Kataguiri. No entanto, ele abriu mão de sua candidatura à prefeitura quando o União decidiu apoiar Nunes. É Vettorazzo quem tem organizado reuniões da nova bancada antes da posse em 1º de janeiro. "Naturalmente meu nome está à disposição."
Qualquer vereador se sentiria lisonjeado e teria imensa responsabilidade pelo cargo. Mas é meu primeiro mandato. Sou um jovem noviço ainda.
Adrilles Jorge (União Brasil), vereador eleito
Não tem como inventar um presidente que nunca foi vereador.
Eliseu Gabriel (PSB), vereador reeleito
Outros partidos veem oportunidade
Nomes de outros partidos têm chances. Rodrigo Goulart (PSD) e João Jorge (MDB) são exemplos, mas ambos enfrentam obstáculos. Por ter eleito três vereadores, o partido de Goulart é visto como pequeno para ficar com a chefia da Casa. Já no caso de Jorge, o fato de ser da mesma legenda que o prefeito joga contra: ter um mesmo grupo no comando de Câmara e prefeitura é visto como concentração de poder exagerada pelos políticos.
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Quero receberJoão Jorge está interessado na presidência da Câmara desde 2021. Ao UOL o vereador disse que apresentou o nome como candidato na gestão de Bruno Covas (PSDB), mas recuou por um acordo firmado entre Milton Leite e o então prefeito.
Acordo previa que presidência da Casa seria dividida entre PSDB e União Brasil. "Dois primeiros anos do partido do Milton Leite e os dois últimos anos do PSDB, o que acabou não acontecendo", explica Jorge, que deixou a sigla tucana em janeiro deste ano para apoiar Nunes. "Milton ficou quatro anos, e agora eu já apresentei meu nome."
Milton Leite alega que há um acordo entre presidentes de partido para que a presidência da casa fique com a União Brasil, mas para isso é preciso ouvir o prefeito. Até lá, estou trabalhando para viabilizar meu nome.
João Jorge (MDB), vereador
Eleição acontece em 1º de janeiro
Novo presidente será escolhido por 55 vereadores que tomam posse no primeiro dia do ano. Vereador desde 1997 e dono de forte capital político, Milton Leite está no sexto mandato como chefe da Câmara. Ele anunciou sua aposentadoria das urnas em agosto passado, após ter sido eleito consecutivamente por sete vezes.
"Não aceito ter patrão", disse Leite. A declaração sobre a possibilidade de ocupar cargos na prefeitura foi feita em entrevista ao jornal O Globo. Ele disse que tem "outras coisas para viver" e que deve seguir na presidência do diretório municipal do União Brasil pelos próximos dois anos. A influência de Leite foi tema de uma série reportagens produzidas pelo UOL sobre os bastidores da política paulistana. O vereador afirma que se considera vítima de "perseguição política".
Última eleição de presidente da Câmara Municipal aconteceu em dezembro de 2023. À época, Leite concorreu com Luana Alves (PSOL) e ganhou por 49 a 6. Pelas regimento interno, vence quem tem a maioria absoluta dos votos — ou seja, 28 votos. Caso isso não ocorra, os dois mais votados fazem segundo turno.
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