Nunes terá 2º mandato com dois terços de vereadores aliados e caixa cheio

O prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), terá 65% de aliados na Câmara Municipal e vai comandar o maior orçamento da história da capital paulista a partir de 2025.

O que aconteceu

36 dos 55 vereadores eleitos são da coligação do prefeito. Dessa forma, Nunes manterá uma base de cerca de dois terços para aprovar os projetos da prefeitura no Legislativo.

A chapa que reelegeu Nunes reúne 7 dos 13 partidos que estarão na Câmara no ano que vem. As siglas são o MDB (7 vereadores eleitos), União Brasil (7), PL (7), Podemos (6), PP (4), PSD (3) e Republicanos (2).

Hoje essas legendas têm 37 cadeiras, uma a mais que os 36 eleitos em 2024. O partido Novo não integrou a coligação, mas a vereadora reeleita pelo partido, Cris Monteiro, apoiou Nunes no segundo turno.

A base deverá ser suficiente para aprovar a maioria das propostas de interesse de Nunes. Em geral, os projetos de lei exigem maioria absoluta (28 vereadores), o que dá uma margem para suprir divergências e ausências nas votações. Para alguns temas, como o Plano Diretor, é preciso pelo menos 33 votos, o que pode levar a prefeitura a ter que negociar com a oposição.

A oposição teve um ligeiro crescimento. A bancada, que hoje tem 17 nomes, subirá para 18: PT (8 vereadores eleitos), PSOL (6), PSB (2), PV e Rede (1 cada). Os partidos de esquerda elegeram alguns estreantes, e a Rede conquistou sua primeira cadeira na Câmara, com Marina Bragante. Mesmo entre os oposicionistas, há nomes que não fazem embate direto ao prefeito.

Nunes tenta manter os aliados unidos. No início de outubro, logo após o primeiro turno, o prefeito e o atual presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), reuniram todos os 36 vereadores eleitos pela coligação para pedir que mantivessem suas bases eleitorais ativas para garantir a reeleição do prefeito contra Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno.

Ainda não está claro quais serão as maiores disputas na Câmara Municipal em 2025. O último grande embate, que acabou levado à Justiça, foi a votação do projeto que permite a privatização da Sabesp, em maio. A votação foi uma demonstração de força da base aliada, que passou o texto com 37 votos a favor e 17 contra.

Prefeitura vive bonança financeira

Nunes terá à disposição R$ 122,7 bilhões, o maior orçamento da história da cidade. Desde 2016, com a renegociação da dívida paulistana com a União, o endividamento despenca e o caixa engorda. A atual gestão também renegociou dívidas: em 2022, a prefeitura cedeu ao governo federal o Campo de Marte, um aeroporto na zona norte da cidade para helicópteros e aviões de pequeno porte. Em troca, teve R$ 24 bilhões de sua dívida perdoados pela União.

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Investimentos da prefeitura dispararam. Após alocar R$ 12,7 bilhões em 2023, a prefeitura espera desembolsar R$ 13 bilhões este ano, frente aos R$ 4,4 bilhões de 2021, primeiro ano após a reeleição de Bruno Covas (1980-2021). Os investimentos são fruto de recursos que "sobram" depois de pagar os custos fixos da prefeitura. São direcionados a novos projetos, obras ou prioridades do prefeito.

O restante do orçamento é usado na manutenção dos serviços que já existem, o chamado custeio. São despesas de longo prazo, como salários, segurança e zeladoria da cidade, como limpeza e manutenção. No ano passado, o custeio cresceu 9%, e as receitas, 4,8%.

Apesar dos cofres abarrotados, o serviço público na capital segue mal avaliado pelo paulistano. São Paulo está em 9º lugar em um ranking de avaliação dos serviços públicos nas capitais brasileiras, segundo dados da Pesquisa de Qualidade do Serviço Público, da Agenda Pública.

Oposição vê possibilidade de embates mais duros

Para os oposicionistas, a nova composição da Câmara pode impor barreiras à gestão Nunes. O vereador Senival Moura (PT), líder do partido na Câmara, avalia que Nunes pode enfrentar resistências ao longo do mandato por ter exaltado o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como "líder maior". Para o petista, isso pode provocar divisões entre a base fiel ao prefeito e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a depender de como a direita se organiza nos próximos anos.

Senival prevê embates mais duros entre oposição e a ala bolsonarista. O PL elegeu 7 vereadores, um a mais do que a bancada atual, incluindo nomes com posições mais combativas contra a esquerda, como os ativistas Lucas Pavanato e Zoe Martínez. Para Senival, "a temperatura dos debates deve aquecer um pouco mais" a partir do próximo ano.

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A liderança no PL não vê risco de racha na base. O vereador reeleito Isac Félix, líder do partido na Casa, afirma que a prefeitura precisará conversar com todos os partidos para alinhar as votações e que os novatos do PL vão seguir a posição da sigla.

O que dizem os vereadores

A maioria absoluta é governista. Mas eu acredito que pode haver dificuldade em função da nova composição. O PL, por exemplo, tem sete vereadores, mas pode acabar tendo problema em função da ideologia deles. O prefeito enaltece muito o governador, e isso deve causar incômodo ao bolsonarismo.
Vereador Senival Moura (PT), líder do partido na Câmara Municipal

O governo sempre precisa conversar com todos os partidos, mas não deverá ter dificuldade. Mesmo o PT geralmente vota favorável aos projetos da prefeitura. Sobre os vereadores do PL, vão caminhar conforme a decisão partidária. O partido tem lideranças locais, e nós fazemos deliberações para chegar a um denominador comum. Não é o Bolsonaro que vai estar lá para votar.
Isac Félix (PL), líder do partido na Câmara Municipal

União deve manter presidência da Câmara

Parte da base aliada, o União Brasil deverá manter o comando da Câmara Municipal. O atual presidente da Casa, Milton Leite, decidiu não disputar a reeleição para vereador, mas costurou um acordo, em junho, para apoiar a reeleição de Nunes. Com isso, tirou da disputa o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), que pretendia concorrer à Prefeitura de São Paulo pelo partido.

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Não se sabe qual vereador assumirá a presidência da Casa. Até o início das eleições, um dos cotados para a função era Rubinho Nunes (União), mas ele foi descartado após declarar apoio a Pablo Marçal (PRTB) para prefeito no primeiro turno.

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