Deputado e bispo da Universal: 'É preciso refletir sobre a fé na política'

Presidente do partido Republicanos e pastor licenciado da Universal, Marcos Pereira disse aos colunistas Carla Araújo e Josias de Souza no UOL Entrevista que é necessária uma reflexão sobre o uso da fé dentro do contexto político.

A internet e as redes sociais mudaram completamente a forma de comunicação. E [existem] aqueles que falam e dialogam com a pauta dos conservadores, porque o cristão é conservador nos costumes - isso é da essência, é da natureza da própria palavra que vivemos. Então, quando a rede social fura essa bolha, os que verbalizam essa pauta [conservadora] conseguem 'ir direto' [ao público].

Costumo dizer que o pastor fala com os seus fiéis duas, três vezes por semana nas celebrações dos cultos. E os que fazem essa pauta [conservadora], os que verbalizam essa pauta e, às vezes, acabam até cooptando a pauta, acabam pelas redes sociais falando todos os dias, o que, evidentemente, é uma coisa a se refletir e a se pensar.

Acho que as pessoas ouvem o que elas querem. E esses personagens [o pastor Silas Malafaia e o candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal) souberam identificar o que as pessoas querem ouvir, e acabaram falando diretamente para elas e com elas, o que realmente é motivo de reflexão.

Vi que logo que acabou a eleição municipal, Malafaia e outros líderes religiosos importantes no Brasil não conseguiram eleger vereadores em principais capitais. A própria instituição que pertenço, a Igreja Universal, a quantidade de vereadores que ela apoiou em algumas capitais diminuiu. E isso, repito, e eu disse isso internamente, é reflexo que esses personagens acabam falando diretamente com os fiéis por causa da pauta. Agora, se eles estão cooptando ou não, usando da fé ou não, a pessoa tem que ter o discernimento para separar uma coisa da outra.

É preocupante porque precisamos continuar tendo o diálogo franco e aberto com as pessoas que professam essa fé e que tem esses valores que são os valores que defendemos. Agora, isso só o tempo vai dizer, né? Cada eleição é uma novidade, é uma maturação e não tenho dúvidas que se a gente não souber comunicar, outros se comunicarão.
Marcos Pereira, presidente do Republicanos

"Estado é laico, cidadãos não"

O republicano afirmou também que acha a relação entre religião e governo completamente correta, dentro dos limites legais. Questionado sobre como as mensagens políticas são passadas aos fiéis, sem que isso aconteça durante os cultos, o deputado explicou que "não pode abrir estratégias internas".

[O envolvimento das igrejas com a política] é completamente lícito, dentro do limite do que a lei e a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral estabelece. Porque são cidadãos que pagam seus impostos, igualmente como os outros que não professam religião nenhuma. E para defender os seus princípios, é legítimo que ele se envolva.

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Durante o culto já não há [envolvimento polítco], pelo menos na minha denominação, até em observância e em obediência ao que determina a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral.

O Estado é laico, mas o cidadão não é laico. O cidadão tem as suas preferências e as suas profissões de fé. E quem compõe o Estado, quem é o Estado no final do dia são os cidadãos. O presidente da República é um cidadão que está ali, foi eleito, os ministros supremos são cidadãos, os membros do Congresso Nacional são cidadãos e a população em geral são cidadãos.

O próprio presidente Lula, quando tomou posse, trouxe de volta para o seu gabinete um crucifixo com a imagem de Jesus crucificado. O presidente dirige um Estado que é laico, foi eleito para presidir uma democracia e uma república que é laica, mas ele tem a sua profissão de fé.
Marcos Pereira, presidente do Republicanos

Assista à íntegra do UOL Entrevista com Marcos Pereira:

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