Bolsonaro ignora ação da PF e posta vídeo antigo de incitação à sua morte
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou no X, na manhã desta quarta-feira (20), um vídeo de 2019 em que um youtuber de esquerda incita que ele seja assassinado. Foi a primeira manifestação de Bolsonaro após a operação da PF que prendeu quatro militares ontem, por planejarem a morte do ministro do STF Alexandre de Moraes, do presidente Lula (PT) e do vice Geraldo Alckmin (PSB).
O que aconteceu
Bolsonaro resgatou um vídeo antigo em que um youtuber pede um plano para assassiná-lo. O ex-presidente não fez comentários na publicação no X e postou apenas o vídeo, que foi divulgado no dia 30 de julho de 2019 por Vinícius Guerreiro. Conhecido como Vina Guerreiro, ele incitou a esquerda a montar um plano para matar o então presidente e os três filhos mais velhos. "Esse cara tem que ser assassinado", disse.
A publicação de Bolsonaro foi feita pouco mais de 24 horas após a operação da PF. A investigação revelou ontem que militares ligados ao governo dele, inclusive um general da reserva que chegou a ser ministro interino, planejaram matar Lula, Alckmin e Moraes em dezembro de 2022. Uma operação para assassinar o ministro do STF chegou a ser colocada em prática e só foi desmobilizada de última hora, segundo a PF.
Bolsonaro mantém o silêncio sobre plano para matar Lula, Alckmin e Moraes. O ex-presidente não comentou sobre a prisão dos quatro militares. A trama, na avaliação dos investigadores, reforça as provas e os relatos obtidos pela PF sobre a participação do ex-presidente, de aliados e de militares nas discussões por um golpe que evitasse a posse de Lula.
Youtuber se disse arrependido
Guerreiro incitou o assassinato da família Bolsonaro. Ele conclamou a esquerda, sem se dirigir a ninguém em particular, a "comprar armamento" e matar Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ).
O vídeo de 2019 chegou a ser investigado pela PF. Dias após a publicação, o então ministro da Justiça e Segurança Pública, o atual senador Sergio Moro (União-PR), mandou abrir um inquérito contra Vina Guerreiro pelos crimes de incitação à violência e calúnia contra o Presidente da República, previstos na antiga Lei de Segurança Nacional — abolida pelo Congresso em 2021.
Inquérito corre na Justiça Federal de São Paulo —o processo está sob sigilo.
Os supostos crimes de Guerreiro são diferentes dos que pesam contra os presos ontem. Moraes tomou a decisão contra os militares com base nos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e de golpe de Estado, que foram incluídos no Código Penal em 2021 após a abolição da Lei de Segurança Nacional, que vigorava desde a ditadura militar. Ao comentar a operação ontem, Flávio Bolsonaro afirmou no Senado que "pensar em matar alguém não é crime".
"Estou com medo e arrependido", disse o youtuber em 2019 ao jornal O Estado de S. Paulo. "Foi um acesso que eu tive, um arroubo, eu cometi muito exagero ali", declarou o youtuber ao Estadão, duas semanas após o vídeo ter viralizado. "Eu não tenho nenhuma vontade disso, nem essa ideia de assassinar o presidente. Aquilo foi um grito mesmo de 'chega'. Eu não tenho vontade de fazer uma violência dessas."
-- Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) November 20, 2024
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