Caiado: Bolsonaro tem direito de ser candidato e eventual prisão terá peso

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), sabe que tem uma série de batalhas pela frente para se tornar um candidato à Presidência em 2026 que seja conhecido e viável. Ele também terá que enfrentar —com estratégia— a fragmentação de candidaturas de direita.

Com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) inelegível, Caiado diz que há outros nomes fortes na disputa, mas admite que há fatores da vida política envolvendo o ex-presidente —como a denúncia por tentativa de golpe que será avaliada pelo STF— que podem bagunçar ainda mais esse jogo.

Caiado, que também enfrenta um processo de inelegibilidade, diz que é "direito" de Bolsonaro repetir a estratégia de Lula em 2018, que registrou sua candidatura mesmo preso. Na avaliação do governador, uma eventual prisão de Bolsonaro vai mexer com todo o cenário.

Caiado recebeu, na última segunda-feira, a reportagem do UOL no escritório que o governo de Goiás tem em Brasília. Em uma sala ampla, com vista para a Catedral, ele contou sobre seus planos, as articulações políticas, incluindo uma possível chapa com o cantor Gusttavo Lima —antes de ele anunciar sua desistência da ideia— e fez uma análise de que o presidente Lula "está em um avião em queda livre".

A seguir os principais trechos da entrevista:

'Situação de Bolsonaro não pode me preocupar'

Caiado afirma que sua meta é se firmar como candidato e que não pode se preocupar com a situação de Bolsonaro. Ele reconhece que o apoio do ex-presidente poderia lhe ajudar, mas nega que os dois tenham brigado.

Essa situação (do Bolsonaro) não pode me preocupar (...) Eu só tenho uma meta, que é me firmar [como candidato]. Eu preciso chegar ao final da metade do ano que vem conhecido no Brasil.

Questionado se o apoio de Bolsonaro poderia ajudar nessa missão, ele diz que sim, mas pondera: "É uma decisão pessoal dele".

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Cada um tem o seu estilo de ser. Eu tenho meu, sou leal, transparente, direto, companheiro, todas as eleições dele eu apoiei. Eu tenho minha maneira de pensar, o dia em que eu for teleguiado por alguém, eu perdi a minha identidade.

Não é questão de brigar. Eu sou de diálogo, sempre fui, eu sou um homem que gosto de debater (...). O Bolsonaro sempre teve um bom relacionamento comigo, o problema é que eu falo para o Bolsonaro o que eu penso e o que eu faço.

Sobre a estratégia de Bolsonaro eventualmente manter a candidatura mesmo inelegível, Caiado foi categórico e direto: "É o direito dele". Em relação a uma eventual prisão do ex-presidente, diz apenas que se acontecer "é muito grande (o peso)" e que "mexe muito" no cenário.

Outras candidaturas de direita e Tarcísio

Caiado evitou fazer análises em relação à manifestação do último domingo em Copacabana, mas diz que é evidente que o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que esteve no ato, se coloca como um sucessor do espólio de Bolsonaro.

O Tarcísio é um forte candidato também. Ninguém tira isso. Se ele sair candidato, nós vamos estar no debate que é normal da política. A minha primeira candidatura [foi candidato à Presidência em 1989] tinha 22 candidatos. É normal esse nicho.

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Questionado se Tarcísio seria um 'bolsonarista moderado', Caiado afirmou que não cabe a ele fazer esse juízo de valor.

Eu tenho uma coisa que é muito característica do Ronaldo Caiado. Eu sou um homem que não tem plano B na política. Às vezes quando vou operar [ele é médico], eu tenho. Mas na política eu sei o que eu quero e vou naquela meta. Eu tenho convicção que já sou pré-candidato. Eu não sei quanto desses aí que podem sair - Eduardo Leite também está se colocando, [Romeu] Zema, Ratinho Jr., Tarcísio, eu. Só ai são cinco.

Eu não vou gastar energia com essa análise hoje porque hoje o que eu tenho (que fazer) é as pessoas me conheçam, eu tenho que levar o que eu fiz para que as pessoas ouçam, me conheçam, me deem oportunidade de mostrar o que eu fiz no estado.

Em relação a eu sair com antecedência, é porque eu sou de um estado que tem 4 milhões de eleitores, num Brasil que tem 120 milhões de eleitores, e eu preciso caminhar.

Ronaldo Caiado durante debate na TV Bandeirantes na eleição presidencial de 1989
Ronaldo Caiado durante debate na TV Bandeirantes na eleição presidencial de 1989 Imagem: Reprodução

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Cantor Gusttavo Lima é estratégia?

Caiado afirmou que a intenção anunciada pelo cantor Gusttavo Lima se lançar na política, ontem descartada pelo próprio, não tratava de uma definição de chapa e se esquivou ao ser questionado se o plano seria apenas usar a popularidade do cantor para se tornar conhecido pelo país.

Eu tenho uma longa amizade com o Gusttavo Lima. Há muito tempo, tenho liberdade de conversar e falar. Quando foi em janeiro, ele me ligou e disse: 'Cara eu estou pensando em me lançar candidato a presidente'. Ai eu disse: 'Vamos fazer o seguinte: lança a sua candidatura e vamos sair juntos'.

Ontem, após o canto anunciar a desistência, Caiado gravou um vídeo para as redes sociais no qual parabenizou Gusttavo Lima "pela coragem e exemplo de cidadania".

Nós sabemos muito bem que independente de ser ou não candidato, o Gusttavo Lima já entrou para a política. Vocês sabem que como figura pública ela é uma pessoa muito querida em todo o Brasil. O Gusttavo se posicionou sobre a necessidade de promover uma mudança no país, saindo dessa polarização estéril para um debate das necessidades reais da nossa gente. Gusttavo Lima sabe do que fala, ele viveu uma história de muitas dificuldades e provações até alcançar o sucesso.

Não é de agora que eu e Gusttavo temos discutido sobre política e sobre projetos para o nosso país, tanto na segurança pública, na saúde, na educação, na economia e na assistência social. E assim continuaremos.

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Durante a entrevista, na segunda-feira, Caiado negou que já tinha negociação para chapa e disse que os dois iriam decidir juntos o futuro político apenas em julho de 2026.

Não tem negociação nenhuma, não tem nenhuma. Ele me liga e fala: 'Vou me lançar pra candidato'. Ótimo. Vamos embora para rua. Vamos juntos. Você não pode ter medo desse vestibular. Você tem que saber se você tá preparado pra ele. Eu quero ir para discutir. Vamos embora. Então, vamos juntos. Quando chegar a julho de 2026, aí a gente vai ter que decidir. Tudo bem, vamos decidir. Qual é que é outro compromisso nosso? Vamos decidir juntos.

'Lula está em quadro desesperador'

Para Caiado, o presidente Lula dificilmente conseguirá reverter o mau momento, de queda de popularidade, e que Lula não sabe se atende às demandas de Haddad ou se atende a ala do partido que "acha que ainda pode ganhar a eleição no Brasil só com promessas".

Hoje ele está com queda na popularidade e não tem condição mais de recuperar a economia. Eu sou governador de estado, sei muito bem que se você não sair do chão no segundo ano [de mandato], você não vai dar conta mais. Acabou. O Lula não dá conta. Não tem mais como ele reverter essa posição.

[O governo Lula] É um avião que está totalmente em queda livre. Ele sabe que não tem como puxar o manche agora e reverter essa condição dele. Mas ele não aceita isso, porque isso é da índole dele. Então, ele vai ser candidato a presidente da República e ele vai continuar nessa maratona de dizer que 'está tudo bem, que está controlado'. Pessoa que não quer enxergar a realidade. O PT é uma máquina que de promessa é insuperável. E de realização, é um zero à esquerda.

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Ganhar a eleição é difícil, mas governar é um milhão de vezes mais difícil. E é isso que a pessoa tem que ser talhada para poder fazer. A eleição não é apenas escolher um presidente, é escolher quem dá conta de governar. Porque, se ele for candidato para ser reeleito, ele não vai dar conta de tirar o Brasil desse buraco que está.

Caiado já pensa em ministro da Fazenda e diz que 'Haddad é pessoa do bem'

Caiado faz uma análise do desempenho do governo Lula na economia, diz que o ministro Fernando Haddad é "uma pessoa do bem, só que não é da índole do PT trabalhar e nem obter resultado". E diz que já tem em mente quem seria seu ministro da Fazenda caso ele chegue ao comando do Palácio do Planalto.

O Haddad é uma pessoa do bem. Só que não é da índole do PT trabalhar e nem obter resultado. O PT tem um defeito congênito, que é de criticar tudo, não saber fazer nada, não sabe gerir uma estrutura pessoal, muito menos de governo. Então, são pessoas que não estão antenadas com a realidade do país, estão totalmente defasados. Então, você tem uma bancada que acha que o bonito é fazer oposição ao próprio governo. Eles não sabem governar.

A oposição não precisa falar nada contra o Haddad porque a própria Gleisi comandava o bombardeio em cima dele. (...) Como é que você governa com um tiro amigo dentro do mesmo partido político.

Eu já tenho um nome na minha cabeça [para o Ministério da Fazenda]. Eu tenho conversado, sei que é uma coisa que vai depender muito da evolução, mas a pessoa que conversa sempre comigo, me ajuda, com dados, com ideias, mas [não vou dizer].

132 comentários

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Jayme Santos Terra

Golpista e facistis.  Flopou.

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Gilberto Leopoldino

Caiado, de família que sempre mamou nas tetas do estado deveria finalmente sair de cena e cuidar das enormes propriedades que a família “ conquistou “.

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Jayme Santos Terra

E o teu agro sonegador e financiadores de golpes jah grilou mais terras?

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