Coronavírus se alastra

Da China ao pânico global, entenda a escalada da covid-19 pelo mundo

Luís Adorno Do UOL, em São Paulo Xinhua/Fei Maohua

Da China para o mundo

Com mais de 5.000 mortes registradas no mundo em três meses, a pandemia do novo coronavírus, que teve início na China, teve escalada rápida em quatro continentes e provocou pânico global, com chefes de Estado tomando decisões duras sob receio de perder o controle da propagação do vírus.

Em 31 de dezembro do ano passado, a OMS (Organização Mundial de Saúde) emitiu o primeiro alerta sobre o coronavírus, após autoridades chinesas terem notificado casos de uma misteriosa pneumonia na metrópole de Wuhan, a sétima maior cidade da China, com 11 milhões de habitantes.

A China informou à OMS que o surto inicial atingiu pessoas que estiveram em um mercado de frutos do mar na cidade, o que despertou a suspeita de que a transmissão ocorreu entre animais marinhos e humanos. Ainda não se sabe como se deu a primeira transmissão para humanos, mas também há a suspeita de que pode ter ocorrido por cobras ou morcegos.

Pessoas infectadas na China foram para outros países e o vírus se espalhou. Segundo a OMS, já foram registrados casos em 123 países, sendo que metade deles registrou o primeiro caso nos últimos dez dias. Isso indicaria que as transmissões não estão cessando ao redor do mundo. No entanto, o ápice da China já passou. Agora, o centro principal da pandemia está concentrado na Europa.

Arte/UOL

O que se sabe sobre o coronavírus

REUTERS/Yara Nardi REUTERS/Yara Nardi

O mundo parando

Coronavírus deixa países sitiados; Europa é centro da pandemia

"Não posso sair da minha casa. Na minha cidade [na região da Toscana], há oito casos confirmados. Outros 50 estão em quarentena. Não posso encontrar ninguém. Só posso sair de carro para comprar comida no mercado, ir à farmácia e ver um médico se preciso.

E para fazer essas coisas, é necessário assinar um documento em que se escreve o motivo de estar saindo de casa. Ao sair de casa, você só não é parado pela polícia se estiver identificado como prestador de serviço essencial. Todo o mundo está em risco de terminar nessa situação."

O relato acima, escrito ao UOL, é da jornalista italiana Cecilia Anesi. Ela está em uma cidade, seu pai, em outra, seus amigos, em outros municípios e sua avó, com a saúde frágil, em outro. Ela diz que no país, de norte a sul, não se pode encontrar atualmente com ninguém.

Nesta sexta-feira (13), o número de mortos na Itália por surto de coronavírus subiu para 1.266. Somente em um dia, houve um aumento de 25% no número de vítimas. A pandemia, que agora tem a Europa como epicentro, causou o fechamento de diversas atrações esportivas, além de fronteiras, como a dos Estados Unidos, por exemplo.

Os principais campeonatos esportivos do mundo, como Liga dos Campeões, Libertadores e campeonatos nacionais europeus, além da liga americana de basquete, tiveram as partidas adiadas, sendo algumas sem nova data prevista. Com o surto, os Jogos Olímpicos de Tóquio também estão em risco.

Andre Porto Andre Porto

Coronavírus no Brasil

O primeiro paciente com coronavírus registrado no Brasil chegou a São Paulo de uma viagem da Itália em 21 de fevereiro. O empresário, de 61 anos, que teria repassado o vírus a outras duas pessoas que estiveram com ele em um almoço de domingo, já está curado do vírus, segundo o governo de São Paulo.

Esse primeiro caso foi divulgado oficialmente pelo Ministério da Saúde em 26 de fevereiro. De lá para cá, o Brasil já registrou 98 casos confirmados em nove estados mais o Distrito Federal. Ninguém morreu no país pela infecção.

Entre os infectados, está Fabio Wajngarten, chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social do governo federal, que teria contraído o vírus nos Estados Unidos, durante uma viagem em que esteve com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Donald Trump.

Bolsonaro e toda a comitiva presidencial foram submetidos a exames após a confirmação da infecção de Wajngarten. O resultado do teste feito no presidente do Brasil foi de que não ele não estava infectado.

Antes, um estudante da USP (Universidade de São Paulo), que atestou positivo no teste de coronavírus, afirmou ao UOL ter sofrido deboche ao procurar ajuda médica no hospital universitário.

Universidades, escolas e eventos esportivos interromperam suas programações normais. Empresas determinaram a funcionários que trabalhem dentro de casa para evitar aglomerações.

Sam Yeh/AFP

Quedas e altas na economia

No meio da turbulência do coronavírus, o preço de diversas moedas e do petróleo foi derrubado. O surto, segundo especialistas, dificulta projeções econômicas. Na quinta-feira (12), a Bolsa de Valores caiu 14,78%, o maior tombo desde 1998, num dia com duas paradas temporárias.

O mercado reagiu a um dia de tensões, após o presidente norte-americano, Donald Trump, restringir viagens da Europa para os Estados Unidos, agravando as preocupações sobre o impacto econômico do novo coronavírus.

No Brasil, discussões sobre o combate ao coronavírus ocorreriam após o Congresso Nacional derrubar o veto presidencial de um projeto que ampliaria o acesso ao BPC (Benefício de Prestação Continuada). A derrota imposta pelos parlamentares deve impor um gasto extra de R$ 20 bilhões.

Ainda no panorama local, o presidente Jair Bolsonaro estava sendo monitorando para o coronavírus, após o secretário Fábio Wajngarten ter testado positivo para o vírus.

Nesta sexta, a Bolsa disparou 15% na abertura, mas desacelerou a alta para 13,9%. O mercado reagiu positivamente a medidas de estímulo à economia para combater a crise provocada pela pandemia de coronavírus.

Entre as medidas, a antecipação do 13º salário aos aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), o que deve injetar R$ 23 bilhões na economia.

Histórias que marcaram

  • China termina hospital em 10 dias; equipe médica terá 1400 militares

    Imagem: AFP/Xinhua
    Leia mais
  • Multidão no Irã põe fogo em hospital que atende a pacientes com coronavírus

    Imagem: Reprodução/Twitter
    Leia mais
  • Caso de coronavírus gera alvoroço entre convidados de casamento milionário

    Imagem: Reprodução
    Leia mais
  • Coronavírus: Mulher fica presa em casa com corpo do marido morto na Itália

    Imagem: Freepik
    Leia mais
  • Coronavírus: médicos da USP riram e pediram para manter rotina, diz doente

    Imagem: Ronaldo Silva - 11.mar.2020/Estadão Conteúdo
    Leia mais
  • Gabriela Pugliesi é diagnosticada com coronavírus

    Imagem: Reprodução/Instagram
    Leia mais
iStock

As fake news

Os casos de covid-19 aumentam dia a dia e são alvo crescente de fake news — muitas delas relacionadas à cura da infecção, que ainda não existe. As notícias falsas também tratam de focos de epidemia que teriam sido escondidos pela mídia e até a construção secreta de um hospital em Minas Gerais. Tudo desmentido por infectologistas e autoridades. Veja aqui alguns exemplos.

Especialista em fake news sobre saúde, o pesquisador Igor Sacramento, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz), avaliou em entrevista à Agência Brasil que as epidemias vieram acompanhadas de boatos e pânico em momentos da história muito anteriores à internet, como a epidemia de peste bubônica que matou milhões de pessoas no século 14.

Um exemplo mais recente é o do vírus influenza, cuja pandemia foi objeto de boatos na internet há cerca de uma década. Apesar dessa recorrência, ele destaca que o momento atual é preocupante pelo descrédito que a ciência vem sofrendo em parte da sociedade.

"As pessoas têm confiado cada vez mais em discursos e informações que não são baseadas em evidências nem na ciência, mas na experiência de pessoas que disseram que isso aconteceu", alerta. "É muito preocupante quando as pessoas acreditam mais em um testemunho no YouTube do que em um especialista que pesquisou um assunto por anos."

REUTERS REUTERS

Letalidade e contágio

Apesar de ter atingido 125 mil pessoas, a doença tem nível de contágio considerado moderado e de baixa letalidade. Ainda assim, a preocupação para conter a disseminação é justificável.

Modelos matemáticos são capazes de calcular o grau de contagiosidade de uma doença. O novo coronavírus tem grau de contágio entre 2 e 3. O sarampo, por exemplo, tem nível entre 12 e 18.

Além de menos contagiosa, a covid-19 tem letalidade baixa, de aproximadamente 3,4%, segundo estimou a OMS em 3 de março. É um valor menor que da dengue, por exemplo, mas maior que do sarampo e da gripe comum.

"Globalmente, cerca de 3,4% dos casos relatados de covid-19 morreram. Em comparação, a gripe sazonal geralmente mata muito menos que 1% das pessoas infectadas", informou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

É um grau mais abaixo do que a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e a Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), os dois últimos coronavírus a se tornarem epidemias.

Enquanto a Sars tinha um grau de contágio moderado, de 2 a 5, ela matava cerca de 10% de seus infectados. A Mers também tinha R0 entre 1 e 5, mas matou cerca de 30% dos infectados.

Entre jovens, praticamente não há casos de letalidade. Estão com maior grau de risco os idosos e pessoas com doenças crônicas.

Ler mais
Suwanrumpha/AFP

O pico da epidemia

A pandemia do coronavírus deve terminar até junho se todos os países se mobilizarem, afirmou o conselheiro médico do regime chinês Zhong Nanshan. Na China, o pico da epidemia já passou, segundo as autoridades locais.

Novos casos na província de Hubei caíram para apenas um dígito pela primeira vez na última semana, sendo que cerca de dois terços dos casos totais de coronavírus na China ocorreram nessa região.

Enquanto isso, a doença continua avançando a passos largos em outras partes do mundo. Nesta sexta-feira (13), os Estados Unidos anunciaram situação de emergência. Viagens da Europa ao país estão suspensas por 30 dias.

"Minha estimativa [para o fim da pandemia] é junho baseada no cenário em que todos os países adotem medidas positivas. Mas, se alguns não tratarem a infecção seriamente, vai durar mais", disse Nanshan.

Você deve ir direto ao hospital?

Arte/UOL Arte/UOL
Topo