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Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


Loló, cocaína, chá: nada disso mata coronavírus, e dicas de cura são falsas

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/03/2020 04h01

Os casos de covid-19, doença causada por um tipo coronavírus, aumentam dia a dia, se espalham pelo mundo e são alvo crescente de fake news —- muitas delas relacionadas à cura da infecção, que ainda não existe.

As notícias falsas também tratam de focos de epidemia que teriam sido escondidos pela mídia e até a construção secreta de um hospital em Minas Gerais. Tudo desmentido por infectologistas e autoridades.

Verifique abaixo os principais boatos envolvendo o coronavírus e previna-se do risco de compartilhar mentiras por aí:

Loló não mata coronavírus

Um áudio que começou a circular pelos aplicativos de mensagem durante o Carnaval e seguiu sendo repassado nos últimos dias diz que o loló, droga semelhante ao lança-perfume, usado por inalação, seria a cura para o coronavírus.

Apesar do tom de piada de muitos dos que compartilharam a mensagem, o alcance dela pode ser perigoso.

A droga é uma mistura de éter e clorofórmio e, além de não curar doença alguma, representa risco para a saúde. O seu uso é ilegal.

Cocaína não mata coronavírus

Na mesma linha, há um mês, uma mensagem prometia a cura para o coronavírus com outra droga: a cocaína.

Mas não há qualquer comprovação científica disso. Para a infectologista Rosana Ritchmann, do Departamento de Infectologia do Hospital Emílio Ribas, trata-se de desinformação. "Beira o absurdo", declarou a médica ao UOL.

Diretor do HC não indicou chá de erva-doce para tratar coronavírus

Um falso e-mail atribuído ao diretor do HC (Hospital das Clínicas) da USP (Universidade de São Paulo) faz recomendações infundadas para tratar os infectados com o vírus.

Entre elas, está a dica para tomar chá de erva-doce, que teria o mesmo efeito do medicamento Tamiflu — retroviral usado para casos de gripe. Segundo o texto, esta informação é de um infectologista do Hospital São Domingos, que teria tratado a gripe H1N1 com a receita.

Ao UOL, a assessoria de comunicação do HC afirmou que o texto não foi elaborado pelo hospital e que seu corpo não possui "qualquer estudo relacionado a este tipo de informação".

O Hospital São Domingos também negou a recomendação e declarou que "não há nenhuma comprovação científica quanto ao uso do chá de erva-doce como medicamento contra o vírus H1N1 ou com o mesmo efeito do Tamiflu".

Água e chá quentes também não curam infecção por coronavírus

Outra corrente, por sua vez, afirma que a solução para matar o vírus seriam temperaturas acima de 27°C, pois "o vírus não resiste ao calor". A dica falsa? Tomar chá ou água quentes.

Também não há qualquer indício de que altas temperaturas matem o vírus e nem que a ingestão de líquidos quentes o faça. De acordo com o Ministério da Saúde, ainda não há tratamento específico contra o coronavírus, mas a pasta recomenda a ingestão de muita água (não só quente), assim como remédios para amenizar febre e dores.

Brasileiro com coronavírus não pulou carnaval em SP

Desde a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil, na quarta-feira (26), tem sido divulgado nas redes sociais que o paciente, um empresário de 61 anos diagnosticado após retornar da Itália, teria circulado por São Paulo e pulado Carnaval.

Segundo o Ministério da Saúde, no entanto, não há informações de que seu fim de semana tenha sido assim animado: ele chegou da Itália na sexta (21), passou o sábado (22) com a mulher em repouso, reuniu-se com familiares no domingo (23) e, na segunda (24), já foi ao Hospital Albert Einstein com sintomas da doença.

Vaticano não confirmou coronavírus no papa

Dada a ausência do papa Francisco em eventos públicos nos últimos dias, usuários das redes sociais começaram a especular que ele, no coração da Itália, teria se infectado com o coronavírus. Uma corrente não tardou a confirmar a situação, atribuindo a informação a um comunicado do Vaticano — que não existiu.

"Nenhuma vez, por parte do Vaticano, foi mencionado coronavírus, mas sim 'leve indisposição' e 'resfriado'", afirmou a imprensa oficial do Vaticano ao UOL.

No Twitter, a especialista em fake news Cindy Otis, ex-funcionária da CIA (Agência de Inteligência dos EUA), também desmentiu esta fake news e mostrou que a notícia foi impulsionada por um site da China.

Áudio de bombeiro denunciando epidemia e construção de hospital em MG é falso

Um áudio atribuído a um bombeiro militar do 13º Batalhão do Minas Gerais diz que o estado tem "mais de 58 casos de coronavírus espalhados em Contagem, Betim e Belo Horizonte" e que o governo e a mídia não divulgam o fato para não alarmar a população. Para resolver, o governo mineiro estaria planejando construir um hospital.

Mas o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e a Secretaria Estadual de Saúde (SES) negam a informação. De acordo com boletim divulgado em 2 de março, há 17 casos em investigação no estado, nenhum deles confirmado. Em todo o Brasil, só há duas confirmações, ambas em São Paulo.

A SES também negou que haja a construção de um hospital exclusivo para coronavírus e informou que o 13º Batalhão do Corpo de Bombeiros em Minas Gerais não existe.

Suposta foto de mortos na China é ato artístico na Alemanha

Ato artístico lembram vítimas do campo de concentração nazista "Katzbach" - Kai Pfaffenbach/Reuters - Kai Pfaffenbach/Reuters
Ato artístico lembram vítimas do campo de concentração nazista "Katzbach"
Imagem: Kai Pfaffenbach/Reuters

Esta foto circula desde janeiro. Segundo as mensagens, as pessoas caídas são vítimas do coronavírus na China. Uma versão anuncia "centenas de pessoas mortas"; outra fala em doentes caídos.

A verdade, porém, é outra: a foto não foi tirada na China, mas na Alemanha. É de 2014 e não tem nada a ver com a doença.

No dia 24 de março, 528 pessoas deitaram no chão de Frankfurt para lembrar todos os mortos no campo de concentração nazista "Katzbach". A foto foi tirada por Kai Pfaffenbach, da Agência Reuters.

O UOL Confere é uma iniciativa do UOL para combater e esclarecer as notícias falsas na internet. Se você desconfia de uma notícia ou mensagem que recebeu, envie para uolconfere@uol.com.br.