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Novo coronavírus se aproxima de Xangai apesar do confinamento decretado pelo governo chinês

Tripulantes de voo usam roupa especial de proteção contra o coronavírus - Divulgação
Tripulantes de voo usam roupa especial de proteção contra o coronavírus Imagem: Divulgação

Pequim

04/02/2020 13h44

O governo chinês adotou hoje novas medidas de confinamento que afetam milhões de pessoas em regiões próximas a Xangai, o coração econômico do país, com o objetivo de impedir o avanço do novo coronavírus, que segue em propagação e já matou 426 pessoas no país.

A quarentena afeta quase 12 milhões de moradores da cidade de Taizhou, em três distritos da localidade de Hangzhou e em outros três em Ningbo, todas na província de Zhejiangen, leste da China.

Uma das cidades fica a apenas 175 km da metrópole de Xangai, a cidade mais populosa do país e sede da gigante do comércio online Alibaba.

As autoridades de Zhejiangen ordenaram que apenas uma pessoa por casa deve sair a cada dois dias para comprar produtos de primeira necessidade.

Até agora, mais de 56 milhões de pessoas estavam confinadas na província de Hubei. O novo coronavírus surgiu na cidade de Wuhan, capital da província.

Ao mesmo tempo, Hong Kong informou hoje a morte de um homem de 39 anos que viajou em dezembro a Wuhan. Este é o segundo falecimento registrado fora do território continental chinês.

Hong Kong adotou medidas extremas para impedir o contágio e deixou abertas apenas duas pontes da passagem terrestre com a China continental, onde o coronavírus já infectou 20.400 pessoas.

O número de vítimas fatais na China continental é superior às provocadas há quase duas décadas pela Síndrome Respiratória Aguda Severa (Sars). O novo coronavírus, no entanto, tem uma taxa de mortalidade menor.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), que declarou na semana passada estado de emergência mundial, afirmou hoje que a epidemia de pneumonia viral ainda não constitui uma "pandemia".

"Atualmente, não estamos numa situação de pandemia", termo que se aplica a uma situação de propagação mundial de uma doença, declarou à imprensa Sylvie Briand, diretora do departamento de Preparação Mundial para Riscos Infecciosos da OMS.

"Estamos em una fase de epidemia com múltiplos focos", disse.

Primeiro caso entre repatriados europeus

Vários países enviaram aviões para repatriar seus cidadãos da China. Um primeiro caso do novo coronavírus foi registrado em Bruxelas em um dos passageiros do voo que repatriou no domingo 250 pessoas, fundamentalmente europeias, da cidade chinesa de Wuhan. Pessoas de quase 30 países viajaram neste avião, que fez escala no sul da França e depois seguiu para Bruxelas.

"Todos os demais países foram avisados", disse a ministra belga Maggie De Block.

A pessoa que deu positivo nos exames "não tem sintomas e se sente bem", acrescentou

O Japão, que repatriou quase 500 cidadãos, colocou hoje em quarentena o cruzeiro Diamond Princess, no porto de Yokohama, para verificar a saúde das 3.711 pessoas a bordo, depois que um passageiro que desembarcou em Hong Kong apresentou resultado positivo para o vírus.

As autoridades de Singapura anunciaram seis novos casos do novo coronavírus, quatro deles por contágios locais, ou seja, dentro do território e não por pessoas que foram infectadas na China. Malásia e Tailândia também anunciaram pessoas infectadas que não viajaram à China.

O vírus já foi registrado em mais de 20 países e vários governos adotaram restrições de viagens.

Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Israel, entre outros, proibiram a visita de estrangeiros que estiveram recentemente na China e advertiram seus cidadãos a evitar viagens ao território chinês.

Mongólia, Rússia e Nepal fecharam as fronteiras terrestres. Até o momento, África e América Latina não registraram casos.

Coronavírus liga alerta pelo mundo

Deficiências e dificuldades

Em um reconhecimento incomum diante de uma crise interna, o Comitê Permanente do Escritório Político do Partido Comunista admitiu "deficiências e dificuldades na resposta à epidemia".

O governo anunciou ontem que o país precisa urgentemente de máscara de proteção, luvas, óculos e outros produtos para enfrentar a epidemia.

Um hospital construído em tempo recorde - apenas dez dias - em Wuhan, um complexo de 34 mil metros quadrados, equipado com a tecnologia 5G, recebeu hoje os primeiros 50 pacientes.

Outro hospital ainda maior (1.600 leitos) está em construção e deve abrir as portas em alguns dias.

Paralelamente, cientistas de todo o mundo trabalham para encontrar um tratamento adequado para o novo coronavírus e testam a eficácia de medicamentos contra a gripe e antirretrovirais usados por pacientes de aids, mas advertem que a descoberta de um remédio eficiente pode demorar anos.

Cassinos fechados

A China está paralisada pelo temor do vírus e o Ministério da Indústria reconheceu que, após o fim do longo recesso de Ano Novo lunar no domingo, as fábricas retomaram a produção a 70% de sua capacidade.

A maior montadora de automóveis da Coreia do Sul, a Hyundai, paralisou hoje a produção em uma de suas linhas de montagem devido à falta de peças. A epidemia interrompeu o abastecimento de componentes de cabos e fios.

Macau anunciou hoje o fechamento de seus famosos cassinos, motor econômico desta região semi-autônoma da China, durante duas semanas depois de confirmar o décimo caso de contágio da pneumonia viral.

"É uma decisão difícil, mas devemos tomá-la pela saúde dos habitantes de Macau", declarou o chefe do Executivo, Ha Iat-segn.

A propagação do coronavírus na China, segunda maior economia do planeta, pode conter um pouco mais o crescimento econômico, que a OCDE calcula que será de 2,9%.