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Reino Unido inicia vacinação em massa contra o coronavírus: como funciona e quem são os primeiros

Profissional transporta vacinas no hospital universitário de Croydon, no Reino Unido - PA Media
Profissional transporta vacinas no hospital universitário de Croydon, no Reino Unido Imagem: PA Media

Nick Triggle

Repórter de saúde da BBC News

08/12/2020 07h43

Doze meses depois do primeiro surto conhecido de covid-19 na China, o Reino Unido começa hoje a imunizar as primeiras pessoas da fila daquele que será o maior programa de vacinação da história do Reino Unido. A estratégia vem sendo chamada informalmente de "V-Day", um apelido que alude ao dia da vitória (Victory Day) contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial e, agora, a um "Vaccine Day" (Dia da Vacina).

Doses da vacina produzida pela Pfizer/BioNTech serão distribuídas em cerca de 70 hospitais do Reino Unido para pessoas com mais de 80 anos e parte dos profissionais que atuam em unidades de saúde e em asilos.

O programa visa proteger os mais vulneráveis e os mais expostos num primeiro momento e permitir a volta à "normalidade" quando grande parte da população estiver imunizada.

Médico com nove netos, Hari Shukla, 87, disse estar "encantado de estar fazendo minha parte" ao ser imunizado nesta terça.

"Sinto que é meu dever fazer isso e tudo o mais que puder para ajudar", disse Shukla, que receberá sua vacina no Royal Victoria Infirmary, na cidade de Newcastle, com sua esposa, Ranjan.

O Reino Unido será o primeiro país do mundo a começar a usar a vacina Pfizer/BioNTech depois que os reguladores aprovaram seu uso na semana passada.

A vacinação não é obrigatória no país.

O ministro de Saúde, Matt Hancock, disse que agora havia "luz no fim do túnel". "Vamos olhar para trás hoje, o V-day, como um momento-chave em nossa luta contra esta doença terrível."

Aqueles que administram a vacina serão os primeiros a receber vacinas na Escócia, enquanto os profissionais de saúde serão os primeiros na fila no País de Gales e na Irlanda do Norte.

O primeiro-ministro, Boris Johnson, lembrou que as pessoas devem manter as medidas de segurança adotadas ao redor do país para evitar o espalhamento da doença, como distanciamento social e higiene rigorosa das mãos, enquanto o programa de vacinação ganha tração.

Autoridades estimam que grande parte das restrições pode ser suspensa até a Páscoa, caso tudo corra bem com a imunização massiva.

Até agora, mais de 60 mil pessoas morreram no Reino Unido em decorrência da infecção por covid-19, segundo dados oficiais.

O governo garantiu 800 mil doses da vacina da Pfizer/BioNTech para dar início ao programa. Mas foram encomendadas 40 milhões de doses ao todo, o suficiente para 20 milhões de pessoas, pois são necessárias duas aplicações.

Estima-se que 4 milhões de doses sejam distribuídas até o fim de 2020, num ritmo mais lento do que o esperado por problemas com a fabricação dos imunizantes. Antes a meta era 10 milhões de imunizados ainda neste ano.

Esforço em massa

Contêineres refrigerados com a vacina da Pfizer/BioNTech, que demanda temperaturas abaixo de -70ºC em parte do trajeto da fábrica até a aplicação, têm chegado ao Reino Unido nos últimos dias oriundos da Bélgica, onde são fabricados, e distribuídos pela cadeia de frio montada em território britânico.

Essa logística tem se mostrado bastante complicada no início do processo, já que as vacinas são armazenadas em embalagens com 975 doses cada e não podem ser divididas em lotes menores.

Isso se tornou um obstáculo para imunizar muitos dos idosos que vivem em asilos nesta primeira fase de implementação do programação de vacinação. Esse grupo é considerado o mais prioritário de todos.

O NHS (o sistema nacional de saúde, uma espécie de SUS britânico) aguarda orientações do órgão responsável pela vacina para descobrir como superar esse obstáculo logístico (sem afetar a eficácia da vacina) e conseguir enviar lotes menores para as casas de repouso, por exemplo.

Quando isso acontecer, abrirá caminho para a vacinação em mais de mil unidades de saúde do país, além dos asilos e dos centros de vacinação em massa que vêm sendo planejados em centros de convenções, estádios esportivos e centros de lazer em 2021.

A vacina é administrada em duas injeções, com 21 dias de intervalo entre elas, sendo que a segunda dose é considerada um reforço. A imunidade começa a se manifestar após a primeira dose, mas atinge seu efeito total sete dias após a segunda dose.

A maioria dos efeitos colaterais registrados são muito leves, semelhantes aos efeitos colaterais após qualquer outra vacina, como dor no braço, e geralmente duram um dia. Até agora não foram identificados efeitos adversos graves durante os estudos com dezenas de milhares de pessoas.

Segundo os resultados dos estudos conduzidos pela Pfizer/BioNTech, a vacina apresentou 95% de eficaz para todos os grupos etários nos ensaios, incluindo idosos.

Mas ainda não se sabe por quanto tempo dura a imunidade que ela fornece ou se impede que as pessoas transmitam o vírus para outras pessoas.

E o Brasil?

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), escreveu em seu perfil no Twitter ontem que o governo ofertará gratuitamente à população as vacinas que vierem a ser aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Segundo ele, a vacinação não será obrigatória.

A principal aposta do governo Bolsonaro para a vacinação contra a covid-19 envolve o imunizante criado pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca, que tem o potencial de imunizar 130 milhões de pessoas no Brasil até o fim de 2021. Mas essa vacina ainda não concluiu seus testes clínicos e tampouco foi aprovada pela Anvisa.

Por isso, o governo federal tem sido pressionado a ampliar sua cartela de opções de vacina, incluindo a da Pfizer/BioNTech e a da Sinovac, que será produzida em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, mas também não concluiu a fase de estudos clínicos.

Cada uma dessas opções tem um obstáculo aos olhos do governo. A Sinovac tem um forte componente político, já que tem sido apresentada como um trunfo de João Doria (PSDB), governador paulista e desafeto de Bolsonaro. Doria anunciou ontem que a vacinação começará no estado em 25 de janeiro de 2021, mesmo sem os testes e o processo de aprovação pela Anvisa concluídos.

Por outro lado, o imunizante da Pfizer/BioNTech tem o desafio logístico envolvido. Como as doses precisam ser armazenadas abaixo de -70 °C, uma temperatura que demanda equipamentos especiais, essa exigência pode dificultar o transporte e a chegada das doses a regiões mais afastadas e com pouca infraestrutura.

Segundo Arnaldo Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, o Brasil pretende priorizar os imunizantes que se adequem à infraestrutura das salas de vacinação espalhadas pelo país.

Mas reiterou que o governo não descartou nenhuma vacina até agora. "É extremamente importante avisarmos a população brasileira que o Ministério da Saúde, através do Programa Nacional de Imunizações, não descarta nenhuma vacina. O que nós queremos é uma vacina que seja registrada na Anvisa e que mostre eficácia e segurança necessárias".

A princípio, o governo federal planeja iniciar o programa nacional de imunização contra a covid-19 em março, mas governadores e prefeitos têm pressionado pelo início da estratégia logo que um imunizante seja aprovado pela Anvisa.

Há outras candidatas a vacina em vias de concluírem os estudos e iniciarem o processo de aprovação no Brasil, como a Sputnik V, a da Johnson & Johnson e da Moderna. Mas nem elas, nem Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford ou Sinovac, chegaram a esse ponto ainda.