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Média de mortes por covid no Brasil se mantém alta devido a idosos e não vacinados

Imagem meramente ilustrativa; especialistas apontam que a maior parte das vítimas é formada por idosos, vulneráveis e não imunizados - iStock
Imagem meramente ilustrativa; especialistas apontam que a maior parte das vítimas é formada por idosos, vulneráveis e não imunizados Imagem: iStock

Ítalo lo Re e Paulo Favero

15/02/2022 09h09

Mesmo com mais de 70% da população vacinada com duas doses ou aplicação única, o Brasil ainda possui uma média móvel de mortes por covid acima de 800. Especialistas apontam que a maior parte das vítimas é formada por idosos, vulneráveis e não imunizados. Nesse quadro, a alta transmissibilidade da cepa ômicron tem aumentado as internações em leitos de enfermaria e UTI em praticamente todo o País.

Em São Paulo, por exemplo, um terço dos óbitos pelo coronavírus é de pessoas que não completaram o esquema vacinal. O restante é de pacientes com alguma comorbidade grave, cujo quadro é agravado pela covid. Outro dado importante apontado por pesquisas sobre o impacto da variante ômicron é de que as duas doses das vacinas disponíveis continuam reduzindo o risco de casos graves da doença, mas há perda de uma parte da proteção. Por isso, alguns lugares já estão aplicando a quarta dose.

O impacto da covid longa também é estudado por especialistas. Ou seja, muitos que pegaram a doença tempos atrás ainda estão sentindo o reflexo dela, podendo até levar à morte. "A covid não é independente. Há interação e a gente já sabe disso", explica Marcia Castro, professora da Escola da de Saúde Pública de Harvard, lembrando que recentemente a revista Nature Medicine publicou um artigo sobre isso.

Dois números no total de mortes de janeiro chamam a atenção. Em janeiro de 2019, por exemplo, 1.337 pessoas morreram de AVC. Já no primeiro mês deste ano foram 10.326 óbitos. Em doenças cardiovasculares, se em 2019 o número foi 5.968, em janeiro deste ano chegou a 14.703. "Tem aumento significativo de AVC, enfarte, pneumonia. Então ficam várias questões e, quando tivermos mais dados, vamos conseguir entender", continua.

"Os números indicam que pode ser efeito da covid longa, que contribui para as complicações cardíacas. Estudos mostram que, mesmo quem teve sintoma leve, tem risco maior de desenvolver essa doença", diz. Marcia lembra que são necessários outros dados para investigar melhor o tema. "Análise que terá de ser feita daqui para frente é olhar para saber se a pessoa que morreu por doença crônica teve covid em algum momento antes."

Para além do aumento nas doenças crônicas, existe também um crescimento nos casos de pneumonia e Síndrome Respiratória Aguda Grave. Marcia acredita que isso pode ser um indicador de maior circulação das pessoas em relação há um ano atrás, quando muitos lugares ainda tinham normas de restrições sociais.

Cientista de dados e coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt entende que a alta de mortes em janeiro não recebeu influência do apagão de dados que afetou o País entre dezembro e o início deste ano, uma vez que, explica, os "óbitos (registrados) nos cartórios independem da RNDS (Rede Nacional de Dados em Saúde)".

Ele pondera, além disso, que, apesar de o País ter passado por um maior pico de mortes no primeiro semestre do ano passado na comparação com este ano, não apenas a ocupação de leitos influi no aumento de mortes por outras causas, como ainda outros fatores. Um deles, difícil de ser mensurado, seria o excesso de consultas e exames de rotina em atraso, devido aos mais de dois anos de pandemia.

Schrarstzhaupt destaca ainda que tem muito caso subnotificado. "A gente não testa realmente. Imagina se não tivesse vacina? Teria sido um massacre", disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.