Quarto individual, base aérea: como será a quarentena dos trazidos da China
Resumo da notícia
- Eles ficarão em quarentena por 18 dias na Base Aérea de Anápolis (GO)
- Com 1.650 hectares, a base foi inaugurada em agosto de 1972
- Os repatriados ficarão alojados nos chamados "hotéis de trânsito"
O grupo que retornará de Wuhan, epicentro do surto de coronavírus na China, ficará em quarentena por 18 dias na Ala 2 da Base Aérea de Anápolis, a 48 quilômetros de Goiânia, em quartos individuais de um hotel de trânsito militar.
O governo federal enviou hoje à Ásia dois aviões para repatriar brasileiros que vivem na cidade chinesa. Também serão trazidos chineses com família no Brasil.
A equipe espera chegar a Wuhan na madrugada de sexta-feira (7) e já estar de volta no sábado (8), quando as aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira) pousarão na base onde os pacientes trazidos ficarão isolados.
Está previsto o retorno de 34 pessoas, incluindo ao menos sete crianças. Esse número pode aumentar se mais gente pedir à embaixada brasileira em Pequim para embarcar.
As medidas tomadas são de precaução, já que não há indícios de que algum dos passageiros tenha contraído a doença. Viajantes vindos da China em voos convencionais não serão submetidos à quarentena.
Por que a Base Aérea de Anápolis?
A Base Aérea de Anápolis foi inaugurada em agosto de 1972. Após o surgimento do jato supersônico, a FAB decidiu criar uma unidade militar próxima à capital federal para receber aeronaves de interceptação.
Com uma área de 1.650 hectares (aproximadamente 10 parques do Ibirapuera), a base de Anápolis acomoda 1.700 militares em suas quatro áreas. Outra base aérea, a de Florianópolis, chegou a ser cotada para receber os brasileiros, mas acabou descartada pelo Ministério da Saúde.
Ao avaliar as instalações em Anápolis, o tenente brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, secretário de Economia, Finanças e Administração da Aeronáutica, disse ontem que ela reúne "todas as condições necessárias" para receber os brasileiros, especialmente em razão de sua estrutura física.
"Temos aqui dois bons hotéis. É uma base grande da nossa Força Aérea que recebe operações e organizações de outros lugares", disse.
As acomodações
Os repatriados ficarão nos chamados hotéis de trânsito, originalmente criados para atender militares que são transferidos de cidade. São acomodações simples, criadas para oferecer um lugar ao militar até que ele consiga se estabelecer na nova cidade.
Esses hotéis também são utilizados por militares em viagem. O uso é restrito a profissionais das Forças Armadas. Civis não podem se hospedar a menos em caso de emergência, como a quarentena a que os brasileiros na China serão submetidos.
"Viemos aqui com esse olho de analisar cada item, que seja cama e roupa de cama. São as necessidades que o Ministério da Saúde nos coloca para que possamos fazer essa questão de um isolamento", afirmou o brigadeiro.
A Base Aérea de Anápolis tem dois hotéis de trânsito, um para oficiais, outro para suboficiais e sargentos. O primeiro conta com 40 suítes, TV, frigobar, ventilador, telefone e ar-condicionado. O segundo é formado por 34 quartos duplos com TV, ventilador e estacionamento. A 400 metros dos hotéis há duas agências bancárias.
"A indicação do governo é que cada pessoa ficará em um quarto individual", afirmou ao UOL o advogado dos brasileiros em Wuhan. "As famílias com crianças ficarão juntas. Além disso, não deram mais detalhes."
Na Ala 2 da Base Aérea de Anápolis, estarão também isolados os membros da tripulação dos aviões da FAB e a equipe médica responsável pelo resgate.
Como será a quarentena?
O governo divulgou poucas informações sobre como serão os 18 dias de quarentena em Anápolis. Damasceno afirmou que, como há crianças entre os brasileiros que virão da China, existe a preocupação de providenciar uma área de lazer para elas desde que o Ministério da Saúde permita.
"Aqueles que não têm sintomas ficarão numa área branca", explicou o ministro Fernando Azevedo (Defesa). "Qualquer problema temos ainda condição de passar para uma área amarela, todos em apartamentos individuais, e, caso necessário, passar para uma área vermelha, [que é a] evacuação aeromédica para o Hospital das Forças Armadas, em Brasília."
Na China, a quarentena foi descrita à BBC pelo paulista Calebe Guerra, 28. Ele disse que, por ser caseiro e passar longos períodos estudando em bibliotecas e cafés, o confinamento não foi problema. Para outros brasileiros, no entanto, a experiência é "estressante".
Ele disse que, os que não sabem mandarim, ligam a TV e não entendem a língua. Eles ficam inquietos por não estarem acostumados a ficar tanto tempo entre quatro paredes.
"É bastante informação a qualquer pessoa, mas principalmente para a cultura brasileira, que é mais de sair, de ir para casa do amigo, de dormir fora, de comer junto, de fazer churrasco. Gera uma ansiedade legal nos brasileiros que estão aqui", disse.
Em razão disso, um grupo de 58 brasileiros criou um grupo em um aplicativo de celular para servir como rede de apoio. Pelo WeChat, comum na China, eles conversam com até nove pessoas por vídeo. É quando falam sobre suas inseguranças e vida pessoal.
"É o confinamento que gera mais ansiedade, e não o medo de contrair o vírus, já que todos tomam os cuidados indicados pelo Estado: lavar bastante as mãos ao chegar em casa, quando saem de casa, e usar máscaras", afirmou o brasileiro.
Brasil já viveu quarentena em Goiás
Em 1987, um acidente causou o isolamento de brasileiros por meses. Em setembro daquele ano, catadores de sucata invadiram o prédio abandonado do Instituto Goiano de Radioterapia, em Goiânia, levaram um aparelho radiológico e o venderam ao dono de um ferro-velho.
Ao desmontar a peça, o homem encontrou um pó branco brilhante que lhe chamou a atenção. Ele, então, mostrou o que encontrou a vizinhos e familiares.
O problema é que o pó se tratava do cloreto de Césio 137, responsável pela contaminação radioativa de muitas pessoas. Uma semana depois, as autoridades souberam do incidente e lotaram um ônibus com moradores da região e o enviou para o antigo Estádio Olímpico, que serviu de área de quarentena.
Dias depois, decidiu-se pela remoção das vítimas para um prédio vazio no Jardim Europa, Sudoeste de Goiânia, onde ficaram completamente isolados por meses.
Na época, a base de Anápolis foi cogitada, mas descartada. Questionados, o Ministério da Defesa e a Força Aérea Brasileira não revelaram os motivos.
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