Sem máscaras, UPA de Copacabana tem demora de atendimento e banheiro sujo
Com dificuldades para respirar, dores pelo corpo, muita tosse e febre alta, a faxineira Flávia da Silva Araújo chegou à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Copacabana às 13h de ontem. Três horas depois, ainda sem atendimento, ela desistiu e foi embora.
Além da demora no atendimento em meio à crise provocada pelo novo coronavírus, o UOL constatou na unidade falta de máscaras N95 (recomendada para profissionais de saúde), aglomeração de pacientes em uma mesma sala de espera —idosos entre eles—, e apenas um banheiro disponível em estado deplorável. A reportagem acompanhou na terça (17) o movimento no centro de saúde no bairro que tem uma das maiores concentrações de idosos —principal grupo de risco para a covid-19— do país.
"É péssimo esse atendimento. Eu estava tossindo muito e resolvi ir embora, porque ouvi dizer que o BRT [ônibus em corredor expresso] vai parar e aí não vou conseguir voltar pra casa", relatou Flávia após deixar a UPA. Ela ainda segurava a toalhinha de pano com a qual cobriu o rosto durante todo o tempo em que ficou na unidade.
Moradora de Saracuruna, bairro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Flávia faz faxina em Copacabana. "Não deram máscara nem nada. Todo mundo junto, sentado na mesma sala, esperando atendimento. Muita gente tossindo", relatou.
Sem máscaras para pacientes e funcionários
Na escada de acesso, a UPA disponibilizava um repositório de álcool em gel. Dentro da unidade, outros dois também em funcionamento e um bebedouro com copos plásticos.
Uma funcionária informava contudo que não havia máscaras para os pacientes. Nem para os funcionários. "Tivemos que comprar e distribuir por nossa conta. E a orientação é não jogar fora, mas sim reutilizar", disse.
As recomendações dos órgãos de saúde são para descartar as máscaras após duas horas de uso. Além disso, as máscaras compradas não eram do modelo N-95, recomendado para profissionais de saúde, mas de qualidade inferior.
Dos dois banheiros disponíveis aos pacientes, o masculino está interditado. "Pode usar o feminino mesmo", indicou outra funcionária.
Ao entrar no banheiro indicado, a reportagem se deparou com uma poça de xixi no chão e falta de sabonete líquido, papel toalha e papel higiênico. Um algodão no ralo entupia a pia.
Médico me olhava como se fosse um risco, diz paciente
Sem plano de saúde, uma funcionária de um hotel de Copacabana que preferiu não se identificar procurou a UPA após uma colega de trabalho ter testado positivo para coronavírus. "Estou com dor no pulmão, respiração difícil, mas sem tosse. Tive calafrios mais cedo, mas sem febre", relatou ela, usando uma máscara simples, sem as vedações adequadas.
"O médico me atendeu tão rápido que acho que nem deu tempo de dar um diagnóstico correto. Me olhava como se fosse um risco, não como um ser humano que está precisando de ajuda", relatou ela, que não foi submetida a um exame para o coronavírus (somente pacientes em estado grave têm sido testados na rede pública).
O microempreendedor Tiago Reis e a cabeleireira Milena Santos saíram da UPA Copacabana revoltados pelo que chamaram de "descaso" com a filha de 5 anos, que está evacuando sangue há quase uma semana. "Não fizeram um exame, nem de sangue, nem de fezes, nem de nada. Não tocaram nela, que estava cheia de febre", criticou Reis.
Era a segunda vez na UPA do bairro e a terceira visita ao todo —a primeira ida foi à UPA de Botafogo, segundo relatou Reis, segurando três receitas prescritas para a filha em cada uma das unidades.
O que diz a Secretaria de Saúde
Procurada pela reportagem, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) informou apenas que "houve aumento na procura de atendimento por conta da epidemia".
A pasta anunciou ainda que comprou equipamentos de proteção individual para abastecer unidades que receberão vítimas do novo coronavírus, sem esclarecer no entanto se a UPA Copacabana será uma das beneficiadas.
"Até o momento, foram adquiridos 1,5 milhão de máscaras cirúrgicas, 150 mil máscaras de proteção, 300 mil óculos de proteção e 600 mil aventais, além gorros cirúrgicos e luvas de proteção", informou a SES, em nota.
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