Topo

Rio instalará pias e acolherá morador de rua no complexo do sambódromo

Moradores de rua não conseguem cumprir os protocolos de higiene para prevenção do coronavírus - Bruno Escolástico/Photopress/Estadão Conteúdo
Moradores de rua não conseguem cumprir os protocolos de higiene para prevenção do coronavírus Imagem: Bruno Escolástico/Photopress/Estadão Conteúdo

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

21/03/2020 04h00

Cinquenta pias públicas serão instaladas no centro do Rio para atender à população em situação de rua que não tem como seguir as recomendações de higiene da OMS (Organização Mundial de Saúde) para a prevenção do coronavírus. O espaço do Terreirão do Samba, no complexo do sambódromo, será usado como base de acolhimento e atendimentos médicos a quem não tem onde dormir e se manter em isolamento.

"A parceria com a Cedae [Companhia Estadual de Águas e Esgotos] possibilitará o protocolo de lavagem das mãos, através dessas pias. Além dos lanches dados aos moradores de rua durante a abordagem noturna, distribuiremos kits com sabonetes líquidos, papel higiênico e papel umedecido, além de explicar quais são os cuidados necessários para evitar a doença", informa a secretária municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, Jucélia Freitas, a Tia Ju.

No Terreirão do Samba, haverá chuveiros, atendimento médico, para seviços como aferição de temperatura, e dormitórios respeitando os protocolos de distanciamento.

Para o isolamento dos moradores de rua, a prefeitura pretende abrir 400 vagas em um hotel popular, numa parceria com o governo do estado, e utilizar parte da estrutura da Santa Casa de Misericórdia.

A prefeitura não se sabe exatamente quantas pessoas vivem nas ruas da capital fluminense. Estima-se que 14 mil cidadãos estejam sob as marquises cariocas sem conseguir cumprir os protocolos básicos para evitar o covid-19. Desse total, 70% se dividiriam entre as regiões central e sul da cidade.

Por isso, o complexo do Sambódromo foi escolhido para a implantação de um "centro de campanha", como Tia Ju define.

"Queríamos usar o espaço da Marquês de Sapucaí, mas as empresas que exploram os direitos do Carnaval ainda têm direito de utilizar o espaço até maio. Por isso, vamos montar a estrutura no Terreirão do Samba, ali ao lado. Lá, teremos banheiros com chuveiros e água, além da estrutura necessária para o acolhimento e suporte inicial", explica.

Consumo de drogas é mais uma dificuldade

Ao menos 4 mil kits de higiene serão distribuídos por dia pelas equipes da secretaria, que passaram a trabalhar com luvas e máscaras desde o último dia 11, quando a OMS declarou a pandemia da doença.

Nessa jornada de assistentes sociais e médicos, a conscientização e o convencimento aos moradores de rua, para que se submetam aos exames necessários e cumpram os protocolos de higiene, é a parte mais difícil.

Em alguns casos, o consumo de drogas se impõe como mais uma barreira.

"Não há caso de morador de rua com coronavírus até o momento, no Rio de Janeiro. Duas pessoas com febre foram submetidas a exames, mas as suspeitas foram descartadas. É uma situação bastante complicada, que precisa ser encarada como questão de saúde pública. Muitas vezes, o consumo de álcool e outros entorpecentes faz com que as pessoas percam o senso, se tornem ainda mais vulneráveis, o que dificulta ainda mais", conta.