Brasileiros 'presos' no Peru pedem socorro: "Embaixada está nos enrolando"
Resumo da notícia
- UOL conversou com alguns dos 73 brasileiros que aguardam repatriação
- Havia promessa de voo de retorno hoje, o que já não ocorrerá
- Ministério das Relações Exteriores reforçou "estar focado" em negociar com companhias aéreas para solucionar caso
Ao menos 73 brasileiros esperam há vários dias em Lima, no Peru, que o Itamaraty organize a repatriação para o Brasil. Em meio à pandemia do novo coronavírus, alguns deles gastaram até R$ 11 mil para sair do interior e conseguir ir à capital do país vizinho. Agora todos estão distribuídos por hostels e hotéis e, sem nenhum voo previsto, vivem a angústia de não saber quando poderão voltar para casa.
"Eu cheguei a um ponto em que estou sem dinheiro, não tem como sair para comer, no supermercado não tem mais nada, e a embaixada está enrolando a gente, falando que não tem voo", reclama o cineasta Eduardo Freitas, de 44 anos, que tenta voltar a São Paulo.
Ele e um amigo estavam na cidade de Lobitos, no extremo norte do Peru, quando foram surpreendidos por uma decisão do presidente Martín Vizcarra: o fechamento das fronteiras do país para tentar conter a covid-19. Com as estradas bloqueadas pelo Exército peruano, os brasileiros não poderiam se deslocar sem uma autorização da embaixada brasileira.
"A autorização demorou quase uma semana", conta Eduardo, que conseguiu se reunir com outros brasileiros para ir até a capital Lima. "A van nos cobrou R$ 11 mil para um trajeto de mil quilômetros; estávamos em dez pessoas. Eu liguei para a embaixada dizendo que é um absurdo deixar a gente aqui, pagando hotel, gastando um dinheiro que a gente não tem, mas disseram que não tem o que fazer, que é a única maneira", reclama.
Até Lima, foram 20 horas em uma van "caindo aos pedaços", segundo contam. "Tivemos que esperar a autorização, porque o Exército montou barreiras, e, sem os papéis, a gente não podia nem ir de uma cidade para outra", explica Gabriela Silveira, que estava no grupo junto com o marido Jessé. "Passamos por sete ou oito controles, em todos nos pediam documento, faziam perguntas, olhavam o passaporte... Por isso a viagem demorou o dobro do que demoraria normalmente."
Após alguns dias de quarentena forçada em Lobitos e a viagem de van, em Lima o grupo se juntou a outras dezenas de brasileiros que aguardam a repatriação. Havia a promessa de um voo hoje, o que há não ocorrerá.
"Já gastamos um dinheiro absurdo para vir até Lima, todos fizemos os maiores sacrifícios possíveis com a esperança de voltar para o Brasil, mas simplesmente não há voos", desabafa o empresário Antônio Carlos Chagas, que estava no Peru a trabalho e teve o voo de volta cancelado em meio à confusão. Agora, ele também aguarda o Ministério das Relações Exteriores resolver o caso.
"O que falta é transparência; a embaixada não está sendo transparentes com a gente. Eles pura e simplesmente não nos dizem qual é a razão de não haver voos. Falta respeito. O que deixa a gente angustiado aqui não é efetivamente esperar dois ou três dias a mais, é não ter uma posição honesta e direta do que está acontecendo", reclama Antônio Carlos.
"A verdade é que estão enrolando a gente. Já estamos aqui cinco dias a mais do que a embaixada disse que ficaríamos", critica Eduardo Freitas.
Embaixada diz estar negociando com companhias
Procurada, a embaixada do Brasil no Peru preferiu não se pronunciar. Em uma nota publicada nas redes sociais, informa que não há voo confirmado neste final de semana para repatriação de brasileiros que estejam no Peru. A Embaixada diz que o Itamaraty está em "intensas negociações" com companhias aéreas, mas abre a possibilidade de a repatriação acontecer por via terrestre.
"Então, se eu quiser chegar em São Paulo, vou ter que atravessar o sul do Peru inteiro, atravessar a fronteira, ir até Rio Branco e de lá tentar pegar um voo para São Paulo. Mas quem garante que terá voo de Rio Branco para São Paulo?", questiona Antônio Carlos.
Em contato com a reportagem, o Ministério das Relações Exteriores reforçou "estar focado em negociar com as companhias aéreas e com os governos locais para lograr solução, o mais rapidamente possível". O Itamaraty afirma ter ajudado a repatriar 1.049 turistas brasileiros que estavam no Peru no início da pandemia de covid-19.
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