Pesquisadores cobram embasamento científico de Bolsonaro sobre coronavírus
Uma carta assinada por vinte entidades e sociedades que atuam na área de saúde no Brasil foi enviada hoje para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pedindo que ele tenha embasamento científico ao dar declarações sobre o coronavírus, que causa a covid-19. A doença já matou 359 doentes e infectou 9.056 pessoas no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados hoje.
O texto pede ainda que o presidente, em suas declarações, também faça a defesa clara da manutenção do isolamento social o combate à pandemia da covid-19, sobre os perigos da doença, além da significativa ampliação do número de testes diagnósticos da doença.
O documento é coordenado pela SBV (Sociedade Brasileira de Virologia) e pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Para os autores do texto, o perigo da covid-19 é real e a pandemia da doença é o maior desafio sanitário desta geração.
"Como médicos, enfermeiros, farmacêuticos, técnicos e outros profissionais de saúde, bem como pesquisadores de todas as áreas de conhecimento, estamos ativamente engajados na batalha contra esta pandemia. Nossas atividades vão desde a atuação dos bravos profissionais na linha de frente do atendimento, expostos ao risco diário, em condições precárias e com falta de equipamentos de proteção individual, até cientistas, técnicos e estudantes que atuam diuturnamente para contribuir com o diagnóstico laboratorial e buscar opções terapêuticas para o combate à covid-19", diz parte do texto.
O UOL entrou em contato hoje com a Casa Civil, com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Invocações e Comunicações, mas até a publicação deste texto nenhum deles se posicionou. A reportagem contatou o Ministério da Saúde e foi informada na noite de hoje que o órgão não vai se posicionar.
Em um dos trechos, a carta alerta para a importância das decisões de Bolsonaro sejam embasadas nos aconselhamentos dos especialistas da área da saúde e na melhor ciência disponível sobre o tema. No domingo passado, o presidente saiu por feiras livres de Brasília em contato corpo a corpo com transeuntes e comerciantes, contrariando as orientações dos especialistas em saúde pública.
A carta enfatiza que dados científicos apontam que o isolamento social reduz a velocidade de contaminação da população ao coronavírus e, ao mesmo tempo, diminui a sobrecarga do sistema de saúde. "Vale notar que essas medidas, baseadas em evidências científicas, foram testadas e aprovadas nos países que até este momento conseguiram os melhores resultados na luta contra a pandemia", afirma. "Como ainda não há tratamento com comprovada eficácia para o vírus, nem a perspectiva da produção de uma vacina a curto prazo, restam-nos as medidas de higiene pessoal e de isolamento social para a prevenção do contágio", reforça.
O texto defende ainda que os testes para detectar o coronavírus nos pacientes são importantes para permitir o acompanhamento e tratamento dos indivíduos infectados, atestar a segurança dos profissionais da saúde que estão na linha de frente e dos cidadãos recuperados para retorno às suas atividades. Estes testes também vão auxiliar na organização da saída do isolamento social.
"Será também importante a testagem ampliada com testes sorológicos de alta sensibilidade, cujo objetivo será acompanhar o estado imunitário da população em geral, informação muito importante para orientar as medidas gerais frente à pandemia. Esses testes sorológicos deverão também ser utilizados no pessoal de saúde, com vistas ao seu afastamento ou não nas linhas de frente do cuidado", reforçam as entidades.
O texto afirma ainda que a comunidade científica observou que a a covid-19 causou pneumonia em indivíduos recuperados e eles "podem ter sua capacidade laboral impactada, temporária ou permanentemente, haja vista que a presença de sequelas, com a perda da capacidade pulmonar, já foi relatada em estudos recentes."
As entidades afirmam ainda a preocupação com o colapso do sistema de saúde, uma vez que a sobrecarga com inúmeros casos de pessoas doentes em "um curto período de tempo e provoca grande ocupação de leitos, especialmente em Unidades de Terapia Intensiva". O texto reforça que essa afirmativa já fora prevista pelo Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
"Vivemos, no momento, uma crise anunciada de saúde pública de grandes proporções. A vida dos brasileiros, independentemente de suas faixas etárias, sociais ou profissão, deve estar acima de visões e interesses políticos e/ou econômicos. Ela depende de um esforço conjunto entre todas as esferas de governos federal, estaduais e municipais, (...), dos pesquisadores e técnicos e de toda a população brasileira. Nós, profissionais de saúde, nos manteremos firmes na linha de frente desta batalha, com orgulho e responsabilidade", finaliza o texto.
Assinam o texto:
Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (ABCF)
Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO)
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO)
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP)
Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB)
Sociedade Brasileira de Farmacognosia (SBFGnosia)
Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE)
Sociedade Brasileira de Fisiologia (SBFis)
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI)
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT)
Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNEC)
Sociedade Brasileira de Parasitologia (SBP)
Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC)
Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML)
Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (SBPqO)
Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO)
Sociedade Brasileira de Virologia (SBV)
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
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