Coronavírus: Hospitais temem "apagão" após China cancelar venda de produtos
Resumo da notícia
- Hospitais foram avisados por fornecedores chineses de que seus pedidos foram cancelados ou postergados
- Com a pandemia da covid-19, outros países estão demandando mais da China e pagando valores maiores
- O medo de gestores dos hospitais privados é que ocorra um "apagão" de equipamentos durante a crise
- O problema não atinge só a rede privada, mas também hospitais públicos
A suspensão ou cancelamento no envio de insumos e EPIs (equipamentos de proteção individual) por parte da China para os hospitais particulares brasileiros se tornou uma nova preocupação, diante da pandemia da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus — hoje o Ministério da Saúde divulgou que o país tem 9.056 casos oficiais e 359 mortes.
Segundo a Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), que reúne 122 hospitais de todo o país, o problema passou a preocupar nos últimos dias. "Vários hospitais já receberam comunicações de seus fornecedores chineses de que seus pedidos, se não foram cancelados, foram postergados", afirma Henrique Neves, vice-presidente da entidade.
Na última quarta-feira, representantes dos hospitais privados fizeram uma reunião com integrantes do Ministério da Saúde e alertaram sobre o panorama, em relação à escassez de equipamentos e insumos prioritários.
O problema não atinge só a rede privada. Hoje, a Folha de S. Paulo revelou que uma carga de 600 respiradores artificiais chineses comprada por estados do Nordeste ficou retida no aeroporto de Miami (EUA), onde fazia conexão aérea para ser enviada ao Brasil.
Medo de "apagão" nos hospitais
A China é considerada a maior fornecedora de produtos e equipamentos para hospitais privados brasileiros. Com a pandemia da covid-19, outros países estão demandando mais da China e pagando valores maiores, o que amplia a concorrência no setor.
O medo dos hospitais é um "apagão" de equipamentos. "Com Europa e Estados Unidos com demandas sobre quase toda a capacidade deles [chineses], existe risco de faltar suprimento para o Brasil", alerta Neves.
A principal preocupação está na proteção dos profissionais que atuam na linha de frente do combate ao coronavírus, visto que 75% dos hospitais filiados à Anahp já relatam redução nos estoques de EPIs. Outros 20% afirmam sequer ter estoques.
"O pessoal que está na frente da assistência tem a necessidade de uma boa quantidade de EPIs. Estamos com uma demanda maior do que o normal, o que traz uma preocupação, a partir de agora, com o suprimento desses equipamentos para o período que se aproxima. A gente imagina que a demanda continue crescente, e há um desequilíbrio muito grande com a oferta, que não foi capaz de suprir a quantidade necessária", explica o vice-presidente da associação de hospitais privados.
O pior cenário é que a falta desses equipamentos cause adoecimento em massa dos profissionais que vão atender os pacientes diagnosticados com covid-19. Isso já tem ocorrido em hospitais — até a última terça-feira, os hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein haviam afastado 452 profissionais da área de saúde. Além disso, um levantamento do Sindicato dos Servidores de São Paulo, com dados do Diário Oficial da Cidade, aponta que de 1º a 28 de março houve 1.080 afastamentos na rede pública por suspeita de contaminação.
"Temos que nos atentar ao fato de que as pessoas que fazem esse atendimento são de uma cadeia muito especializada. Dependemos delas para conseguir fazer o atendimento desses pacientes. Perder essas equipes afetará também as condições de enfrentar o surto", pontua Neves.
Importância da indústria nacional
O vice-presidente da Anahp diz que existem duas formas de atender a essa demanda. Uma delas é por meio de importações — e muitas delas vêm da China. "A outra forma de suprir é com a indústria nacional, que já se mobiliza para a produção desses equipamentos. Estamos vendo nos últimos dias que está começando a subir essa oferta de equipamentos nacionais."
Um outro problema enfrentado é o aumento dos preços desses materiais. "É natural que, nesses períodos de escassez, os preços subam, porque existe uma competição por eles, e também porque as próprias cadeias de produção desses equipamentos começam a ficar estressadas, já que passam a demandar insumos com mais intensidade, a mão de obra vai ter de rodar turnos contínuos, têm as horas excedentes", explica Neves.
Para o líder dos hospitais privados, o cenário a curto e médio prazo ainda é incerto sobre a questão do desabastecimento. "É um processo dinâmico, que depende de alguns fatores: a velocidade com que vai crescer o número de casos [de covid-19], os estoques existentes hoje nos sistemas dos hospitais, a possibilidade das importações da China serem retomadas, a capacidade da indústria nacional. É uma situação com variáveis", finaliza.
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