Pressão em hospitais fora do centro indica que covid-19 se espalhou em SP
Resumo da notícia
- Último balanço da prefeitura apontava casos de covid-19 concentrados nas áreas centrais
- Mas a secretaria estadual de Saúde diz que o coronavírus já chegou à periferia de SP
- UOL teve acesso a relatório de hospital da zona norte que computa 11 mortes suspeitas por covid-19
- Outros 54 casos suspeitos foram mandados de volta para casa porque os sintomas eram mais brandos
- Hospitais de fora do centro já separam áreas para dar conta da demanda crescente de suspeitas de covid-19
Os números oficiais ainda não registram, mas os hospitais públicos de fora do Centro expandido em São Paulo já sinalizam: a ideia de que a covid-19 está restrita a áreas nobres da cidade já está ultrapassada.
O último boletim epidemiológico da prefeitura paulistana, de 31 de março, mostrava os casos concentrados em bairros ricos. Mas os 16 mil exames na fila ainda sem resultado, os relatos de profissionais de saúde na periferia e as medidas adotadas pelas direções dos hospitais sugerem que o próximo balanço confirmará a circulação do coronavírus por toda a cidade.
A análise é corroborada pela própria Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, que informou estar tratando de pacientes com casos suspeitos em hospitais das zonas norte, sul e leste da capital, embora não divulgue números específicos. Há também mortes confirmadas em cidades da Grande São Paulo como Embu das Artes, Taboão da Serra, Cotia e São Bernardo do Campo.
Médicos e enfermeiros ouvidos pela reportagem nas últimas quinta e sexta-feira afirmaram que o número de casos suspeitos aumentou na última semana. E relatam sobrecarga de trabalho e estresse — condições agravadas pelas notícias das mortes de um enfermeiro no Hospital Municipal do Tatuapé e de um auxiliar de enfermagem no Hospital Tide Setúbal, ambos na zona Leste. Os dois óbitos são considerados suspeitos por coronavírus.
Até ontem, a cidade de São Paulo registrava, de acordo com balanço estadual, 3.496 casos confirmados de covid-19 e 212 óbitos. Mas há indícios de que os números de mortos, bem como os de infectados, sejam maiores em todo o país.
Zona norte à espera de resultados de exames
O Hospital Geral Vila Penteado, escolhido pelas autoridades como uma das referências para a triagem de pacientes de covid-19 na zona norte, tinha 11 mortes suspeitas de coronavírus só até a última segunda-feira (30), conforme boletim a que o UOL teve acesso.
Na parte externa do hospital, uma estrutura com consultórios foi montada para receber esses pacientes. Houve seis dias de muito movimento entre a sexta-feira da semana passada e a última quarta-feira, segundo relatos de funcionários. A demanda causou até falta de espaço na UTI para uma vítima de infarto, que precisou ser enviada para outro hospital.
Além das mortes suspeitas de coronavírus, o boletim revela 39 pacientes internados por suspeita de coronavírus, sendo 14 na UTI. Uma médica contou que o movimento caiu nos dois últimos dias, mas ainda assim classifica a situação de "preocupante". Familiares de vítimas fatais da doença estão procurando o hospital com sintomas da doença, e há funcionários com suspeita de estarem infectados. Como ocorre em toda São Paulo, os resultados dos testes demoram a chegar.
A dez minutos de carro, o Hospital Vila Nova Cachoeirinha fica naquelas áreas onde muito Uber não entra. Ele não tem estrutura própria para covid-19, mas a demanda crescente obrigou a direção a separar uma área para os casos. Médicos do pronto-socorro foram escalados para fazer uma triagem porque no fim de semana retrasado, na segunda e na terça-feira, 70 pessoas procuravam ajuda todos os dias.
Os registros do hospital demonstram que a pandemia nunca esteve restrita à elite paulistana: um dos primeiros óbitos do país foi registrado aqui -- informação confirmada pela secretaria estadual de saúde.
Uma funcionária contou que somente na segunda-feira passada ocorreram 16 internações porque exames constaram nível de oxigenação muito baixa no organismo destes pacientes. Com sintomas de covid-19 mais brandos, os demais foram mandados de volta para casa.
Estrangulado pelo coronavírus, o Hospital Geral Vila Nova Cachoeirinha precisou encaminhar pacientes para outros dois hospitais. Uma médica acrescentou que as equipes começam a ficar desfalcadas porque profissionais de saúde estão ficando doentes, incluindo dois internados em estado grave.
Em meio a tantas notícias preocupantes, os funcionários citam dois fatos positivos: muitos pacientes têm se curado.
Também na zona norte, o Hospital do Mandaqui é da rede de referência no combate à covid-19. Ele não está em situação tão drástica quando seus vizinhos, mas a demanda começa a subir. Na quarta-feira, 12 pessoas procuraram a unidade de saúde com suspeita de contaminação. Somente na manhã de quinta-feira, esse número havia dobrado.
Situação na zona leste
No Hospital Municipal do Tatuapé, funcionários dizem que a situação começa a ser "crítica". Parentes são proibidos de entrar para visitas e tentam ficar o mais longe possível um do outro na calçada em frente à porta principal. Todos esperam seu nome ser chamado para receber notícias dos pacientes.
Na hora da troca de turno, profissionais de saúde saem com cara de quem teve um dia longo. Uma médica explicou que são tantas pessoas internadas que equipes de seis pessoas foram divididas ao meio para dar conta.
O pronto-socorro do hospital tem três setores e um deles está dedicado somente a pacientes de covid-19. A unidade semi-intensiva está lotada de casos suspeitos de coronavírus, e os infectados são um terço dos internados na UTI. O alívio é que por enquanto não faltam respiradores. A grande preocupação é que há muitos funcionários afastados porque foram contaminados.
No hospital Tide Setúbal, onde a causa da morte de um funcionário ainda é desconhecida, a situação é semelhante. A demanda é grande e os profissionais de saúde relatam sobrecarga. Como em todos os hospitais citados, o local atende majoritariamente pessoas sem plano de saúde e seus funcionários temem o que vai acontecer agora que autoridades preveem que o número de contaminados vai crescer bastante.
Uma enfermeira se preocupa com a possibilidade de infecção de médicos, enfermeiros e pessoal da limpeza. Além da aflição com a saúde própria e a dos colegas, o medo é que haja desfalques no momento que a mão de obra se fará mais necessária.
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