Teich rejeita mudança brusca e fala em 'grande programa de teste' de covid
Anunciado hoje no lugar de Luiz Henrique Mandetta (DEM) no Ministério da Saúde, o oncologista Nelson Teich disse que existe um "alinhamento completo" entre ele e Jair Bolsonaro (sem partido), descartou "definições bruscas" no isolamento social e falou em um "grande programa de teste" de covid-19 no país.
"Esse programa de teste vai ter que envolver o SUS, a saúde suplementar, a iniciativa do empresariado. Tem que fazer um grande programa, definir a melhor forma: como vai fazer a amostra? Que tipo de teste? Para paciente sintomático ou assintomático? Isso vai gerar uma capacidade de entender a doença".
O raciocínio do ministro é: com mais exames "o mais rápido possível", será possível definir estratégias para retomar à normalidade — pedido feito por Bolsonaro no discurso em que anunciou a saída de Mandetta e a chegada de Teich.
"Existe um alinhamento completo aqui entre mim, o presidente e todo o grupo do ministério. O que a gente está fazendo aqui hoje é trabalhar para que a sociedade tome, cada vez mais rápido, uma vida normal", disse Teich.
A ampliação de testes de covid-19 se alinha à diretriz da Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomenda que todos os cidadãos sejam testados. Mas a realidade na maioria dos países, incluindo os desenvolvidos, é a testagem apenas de doentes hospitalizados.
Isso porque a ampliação dos testes esbarra em ao menos quatro problemas:
- Financeiro - São Paulo gastou R$ 85 milhões para importar 725 mil testes da Coreia do Sul
- Logístico - É preciso aumentar a capacidade de processamento de testes no país. Só em São Paulo, a fila de exames sem resultado chegou a 16 mil testes
- Falta de material - É preciso importar os testes, já que não há produção nacional em larga escala
- Estrutura para aplicação dos testes - levar os pacientes a hospitais, agora, pode ampliar o risco de contaminação
Economia e saúde
Ecoando discurso do presidente Bolsonaro, que defende que o colapso econômico pode ser tão danoso quanto a crise causada pelo coronavírus, Teich afirmou que os interesses não são antagônicos.
Saúde e economia não competem, elas são completamente complementares. Quando você polariza uma coisa dessas, você começa a tratar como se fosse pessoas versus dinheiro, bem versus mal, empregos versus pessoas doentes. E não é nada disso
Nelson Teich, novo ministro da Saúde
O oncologista também defendeu que as decisões devem ser tomadas com base em informação sólida, uma vez que "quanto menos informação você tem, mais [o problema] é discutido na emoção".
"Temos que entender o que está acontecendo. A gente tem que entender cada ação que tomamos. Cada coisa que você faz hoje... Você não tem certeza do que vai acontecer amanhã", completou.
A gente tem que entender mais da doença. Quanto mais a gente entender da doença, maior será a capacidade de administrar o momento, planejar o futuro e sair dessa política do isolamento e do distanciamento. Isso é fundamental
Teich
As declarações foram feitas após um pronunciamento de Bolsonaro que confirmou a demissão de Mandetta. Antes da fala de Teich, o presidente disse que conversou com o oncologista e pediu que o novo ministro não esqueça dos problemas que vão além da saúde, como o desemprego.
"Junto com o vírus, veio uma máquina de moer empregos. Não podemos prejudicar os mais necessitados. Os empregos com carteira assinada estão sendo destruídos cada vez mais. Se chegar a um nível tal, a volta da normalidade, além de demorar muito, outros problemas aparecerão", alertou Bolsonaro.
Para o presidente, é preciso "abrir o emprego no Brasil gradativamente". "A vida não tem preço, mas a economia tem que voltar à normalidade. Não o mais rápido possível, mas tem que se flexibilizar para que não venhamos a sofrer mais com isso", completou.
Demissão de Mandetta
A demissão de Mandetta do Ministério da Saúde foi confirmada por ele —e, posteriormente, por Bolsonaro— nesta tarde, durante coletiva. Segundo o presidente, que se pronunciou logo depois de Mandetta, a decisão foi tomada em comum acordo.
"Foi realmente um divórcio consensual. [Mas] Acima de mim, como presidente, e dele, como ainda ministro, está a saúde do povo brasileiro", explicou Bolsonaro, reiterando que é preciso defender a vida, mas também o emprego.
Ele disse que era direito de Mandetta, enquanto médico, defender seu ponto de vista, mas "a questão do emprego" não foi como o presidente imaginava. "Não condeno, não recrimino e não critico o ministro Mandetta. Ao longo deste tempo, a separação se tornou uma realidade, mas não podíamos tomar decisões de forma que o trabalho feito até o momento fosse perdido", acrescentou.
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