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CE anuncia colapso de UTIs e estado tem fila de espera para casos graves

08/04/2020 -Coronavírus: Pessoas utilizam máscaras de proteção na rua em Fortaleza (CE) - RONALDO OLIVEIRA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO
08/04/2020 -Coronavírus: Pessoas utilizam máscaras de proteção na rua em Fortaleza (CE) Imagem: RONALDO OLIVEIRA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

17/04/2020 18h13

Resumo da notícia

  • 38 pessoas esperam vaga para internação de terapia intensiva nas UPAs no Ceará
  • Segundo o secretário, o estado tem hoje 260 leitos exclusivos de UTI para pacientes com covid-19
  • Plano é ampliar e contar com 560 leitos, mas há dificuldades na aquisição de respiradores

O Ceará anunciou que já tem oficialmente fila de espera de pacientes com quadros graves de covid-19 por falta de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Segundo o estado, hoje 38 pessoas aguardavam vaga para internação em UTIs nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).

O anúncio foi feito pelo secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho. Na terça-feira, ele já havia falado em reunião com empresários do setor da construção civil que projeções estimam 250 mortes por dia no início de maio somente em Fortaleza.

Sobrinho também havia anunciado que o estado já se preparou comprando 15 mil túmulos para enterrar os mortos por covid-19.

"À medida que o sistema de saúde se amplia um pouco, vamos recebendo [mais pacientes]. A gente tinha hoje 38 pacientes nas UPAs precisando ir para uma UTI. E esse número cresce conforme aumenta o contato, as contaminações", afirma.

"Estamos começando o momento mais agudo da crise. É muito importante ter lucidez, sensatez e tranquilidade. O distanciamento social retardou a contaminação, mas precisamos ampliar ainda mais", completa.

Segundo o secretário, o estado tem hoje 260 leitos exclusivos de UTI para pacientes com covid-19. Há planos de ampliação para 560, mas há dificuldades na aquisição de respiradores.

"Estamos fazendo todos os esforço com planejamento, mas tem sido muito difícil, há coisas que não dependem só do Ceará. Falo aqui de relação comercial, aquisição de equipamentos que não chegam ao Brasil. E existe uma grande concorrência mundial, uma grande dificuldade de [comprar] respiradores, monitores", explica.

Ele afirma que a lista de espera tem variado. "A cada dia, a gente se reinventa: conserta respirador, pega respirador de hospital pequeno fechado, muda perfil de leito para virar de terapia intensiva. Os leitos públicos estão saturados", alega.

O Ceará foi um dos primeiros estados do país a ter casos confirmados de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Segundo o Ministério da Saúde, hoje eram 2.694 pacientes e 149 mortes.

Consultados pelo UOL, especialistas explicaram que o estado se tornou um epicentro da doença por dois motivos. Em primeiro lugar, pelo grande número de estrangeiros que passam por Fortaleza por conta do centro de conexões do aeroporto. Além disso, por conta de convidados cearenses que foram a um casamento em Itacaré (BA) onde havia uma pessoa contaminada.

Na semana passada, o então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta havia colocado que Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro e o Distrito Federal formavam "a turma mais preocupante em todo o território nacional".

Outros dois estados em situação crítica

A situação também é caótica em pelo menos outros dois estados, segundo apurou o UOL. No Amazonas, até ontem entre casos confirmados e suspeitos de covid-19, havia 688 pessoas internadas em hospitais — sendo 154 pacientes já confirmados com o novo coronavírus, 84 deles em UTI.

Segundo Simone Papaiz, o estado possui hoje 231 leitos voltados exclusivamente para tratar a covid-19. "Só de leitos nós precisaríamos de 2.130, sendo 830 de UTI. Esse número foi extraído de uma discussão técnica", afirma.

O estado ainda não informou sobre uma fila de espera por pessoas para um leito de UTI, mas admite que o sistema está no limite. Sem ter onde acondicionar os mortos pela doença, o hospital João Lúcio, em Manaus, precisou contratar um contêiner para colocar os pacientes que vieram a óbito.

Em Pernambuco também existe uma grande dificuldade em relação a leitos. Hoje, 95% dos 269 leitos de UTI dedicados para o tratamento de pacientes com covid-19 estavam ocupados, sete pontos percentuais a mais que na última quarta-feira.

O estado vem registrando alta acelerada no número de casos. Somente hoje foram 323 casos confirmados de pessoas com covid-19, 60% a mais que ontem.

"A taxa de ocupação tem sido extremamente dinâmica. Estamos um pequeno passo à frente da doença porque estamos abrindo leitos a cada dia", alerta o secretário de Saúde, André Longo, que informou que ontem foram abertos dez leitos no hospital Tricentenário, em Olinda, que não estavam no planejamento inicial.

"A gente tem uma rede enorme, são várias portas de entrada. Mas até quando [teremos vagas]? Vai depender dos próximos dias, da curva da epidemia que está acelerando: mais que dobrou o número de casos graves chegando às emergências [nos últimos dias]. Até quando a gente vai dar conta? A gente poderá ter a situação de transbordo da capacidade de absorver esses pacientes, e aí teremos um grande problema", conclui.