'Maior acerto foi tirar Mandetta', diz bolsonarista que comanda hospitais
Resumo da notícia
- Henrique Prata afirma que Nelson Teich é uma pessoa "talhada para o cargo" de ministro da Saúde
- Responsável pela a maior instituição oncológica do Brasil, ele diz que Luiz Henrique Mandetta era "político demais" para ser ministro
- Prata esteve com Jair Bolsonaro, após o presidente chegar dos EUA, e acredita que ele não esteja com covid-19
- O fazendeiro criticou a imprensa, a ciência e espera que a pandemia do novo coronavírus traga fé às pessoas
O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, é a "única luz" no Ministério da Saúde desde que José Serra (PSDB-SP) ocupou o cargo nos longínquos anos 1990. Luiz Henrique Mandetta, o antigo ministro, era "político demais".
A opinião é de Henrique Prata, 67, que quase virou ministro da Saúde de Jair Bolsonaro (sem partido) e administra a maior rede filantrópica de oncologia do Brasil, com 11 centros de prevenção e cinco hospitais, incluindo o antigo Hospital do Câncer de Barretos (SP), hoje conhecido como Hospital do Amor.
Prata se mantém isolado em uma fazenda e pediu para 600 funcionários trabalharem de casa. Ele revela que a quarentena derrubou em R$ 11 milhões as doações para o seu hospital e afirma que o presidente é contrário ao isolamento social por ter "uma visão simples, como eu".
"O que eu vi foi minha irmã pegando corona, ficando boa em 48 horas e indo trabalhar", diz ele, que não acredita que Bolsonaro esteja contaminado.
Eu estive com ele [Jair Bolsonaro] em uma reunião no mesmo dia em que ele voltou dos Estados Unidos. Todo mundo se abraçou, pegou na mão, e não tive nada."
Prata critica a ciência e a imprensa — que estaria explorando o vírus porque "dá muito ibope". "Cadê os homens e cientistas que são tão frágeis que não conseguem barrar um vírus?", questiona.
Mas ele tem esperanças. Diz que esteve algumas vezes com o oncologista Teich, "o melhor nome" para o Ministério da Saúde, e que a humanidade vai tirar proveito da pandemia:
"Agora as pessoas têm mais tempo para rezar e buscar intimidade com Deus para passar pelas angústias. Aproveitem para fortalecer a fé, porque o resto, para mim, é conversa fiada."
Abaixo, os principais trechos da entrevista:
UOL - O senhor está isolado em quarentena?
Henrique Prata - Eu moro na roça, não moro na cidade. Eu trabalho como fazendeiro, minha vida privada não mudou muito. Agora eu mantenho maior distância das pessoas e estou higienizando mais.
Conhece alguém que adoeceu?
A minha irmã tem 63 anos e foi diagnosticada com a covid-19, mas ela se cuidou em casa por 48 horas e está bem agora. Minha mãe tem 96 anos e está isolada, preservada com cuidado.
E no Hospital do Amor, a rotina mudou?
Houve uma medida judicial em Barretos me obrigando a colocar EPI (Equipamento de Proteção Individual) em 99% do hospital. Eles vão cobrar multa de R$ 500 ao dia por cada funcionário sem equipamento, e eu tenho 3.500 funcionários! Virou um caos, e paramos alguns setores para reestruturar.
Vamos entrar com um recurso em Campinas, porque já estamos obedecendo os critérios da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do Ministério da Saúde, não de leigos. O primeiro que quer colaborar sou eu, porque meus funcionários são anjos para mim, mas o juiz passou do limite.
O senhor sempre diz que é muito religioso. Acha que essa pandemia é um recado divino?
Antes de Cristo, no livro [bíblico] de Isaias já estava escrito que iria existir isso na história. Faz parte do universo e dos tempos. Não acho que seja castigo, nem um recado de nada. Faz parte do ciclo da natureza, e acho que é importante para gente dar uma murchada na bola da ciência, da razão e dos homens que acham que são deuses.
O senhor se refere aos cientistas?
Cadê os homens e cientistas que são tão frágeis que não conseguem barrar um vírus? É uma oportunidade ímpar de a sociedade se reestruturar. Não existe mais amizade, tudo é virtual. Acho que, depois dessa tempestade, a sociedade vai se organizar melhor contra o abuso de álcool, de droga. Hoje não tem nem onde o cara comprar droga. Ele vai ver que dá para viver sem ela.
Só acho que a mídia extrapolou isso. Acho que todo cuidado é sério, mas passou do limite porque é um assunto que dá muito ibope.
O que o senhor acha da resistência do presidente em aceitar a quarentena?
Eu acho que ele tem uma visão simples, como eu também tenho. Eu não tenho formação acadêmica. O que eu vi foi minha irmã pegando corona, ficando boa em 48 horas e indo trabalhar. Mas não sou irresponsável: já no começo [da pandemia] eu dispensei mais de 600 colaboradores e os coloquei em casa.
Que tipo de política pública o governo precisa priorizar agora?
Nesse momento, o maior acerto do governo Bolsonaro foi mudar de ministro.
O senhor conhece o Nelson Teich?
Ele é o nome ideal, talhado para ocupar o cargo. Eu me encontrei com o doutor Nelson em duas ocasiões. Há uns dois anos, nós fizemos palestras juntos. Eu sou uma pessoa sem cultura, ele tem cultura, mas nosso sentimento é igual: uma política honesta para ninguém ser tratado pela metade. Daí essa admiração que temos um pelo outro. Você vai ver o que ele vai mudar na saúde pública, a começar pelo câncer. Eu era uma voz gritando sozinho. Agora tem um homem lá com os mesmos sentimentos que eu tenho. Eu acho que esse cara é o cara. É competente. Tenho 100 cientistas na minha equipe, não conheço ninguém melhor do que ele. Foi o maior acerto do presidente Bolsonaro.
O senhor não gostava do antigo ministro Henrique Mandetta?
Eu gosto e admiro o Mandetta, mas em princípio ele é político. Foi um erro do Bolsonaro pôr mais um político ali. Isso contrariou todos os critérios de esperança de mudança da campanha. O Ministério da Saúde é o último lugar para fazer política. Tem de ser técnico. As atitudes do Mandetta foram pautadas 100% na política. Elogiavam ele porque esse coronavírus expôs sua competência de médico. Ele é uma pessoa honesta, competente, pessoa boa, mas a covid-19 é 1% dos problemas do ministério. A única luz que vi no Ministério da Saúde foi o [José] Serra, e agora vem uma pessoa que eu admiro, que será um ministro acima da média.
O senhor também acha que a quarentena prejudica a economia?
Eu estou perdendo por mês cerca de R$ 8 milhões em doações de leilões de gado, mais R$ 3 milhões em aposta do Hiper Saúde, um jogo de aposta com uma porcentagem para o hospital. São R$ 11 milhões por mês, porque ninguém está na rua, não pode comprar, e o hospital vive de doação.
O senhor não acha que o presidente deveria divulgar seus exames para covid-19?
Eu não sei o que ele deveria fazer. Talvez alguém esteja orientando. Se estiver mentindo, ele sofrerá as consequências. Mas se ele tem prova, o que ele está falando é verdade até que provem o contrário. Eu estive com ele em uma reunião no mesmo dia em que ele voltou dos Estados Unidos. Ele ficou uns 15 minutos, mas falei com a primeira-dama por uma hora e 15 minutos. Todo mundo se abraçou, pegou na mão, e não tive nada. A equipe dele inteira foi contaminada. Se ele ou a esposa estivessem contaminados, eu também estaria. Das 16h às 17h30 ficamos dentro de uma sala. Ela espirrou umas três vezes. Eu estava com uma assessora, um médico, e ninguém saiu contaminado.
No final de semana teve carreata com buzinaço em frente a hospitais.
Eu estou há 20 dias sem ligar a televisão, sem ouvir um programa jornalístico, porque eu não aguento mais ouvir a mesma história. Estou respeitando os critérios do Ministério da Saúde, da Anvisa e da lei.
Que mundo o senhor espera depois da pandemia?
Pela correria que o mundo desenfreado vive, na ansiedade de todo mundo olhar só para o celular, que todo mundo tenha um minuto para parar e procurar se encontrar com Deus, cada um na sua religião. Agora as pessoas têm mais tempo para rezar e buscar intimidade com Deus para passar pelas angústias. Aproveitem para fortalecer a fé, porque o resto, para mim, é conversa fiada.
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